quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Sangue, suor e lágrimas

Pronto, foi. Como disse Churchill, foi sangue, suor e lágrimas. Acima de tudo, foi muita aporrinhação. Mudança já é uma porqueira e fica pior quando a empresa comete erros na organização. Vou sentar e escrever com muita calma uma carta com a mão bem pesada (enquanto escrevia isso, a vice-presidente de operações internacionais da empresa telefonou; acabei dizendo algumas coisas que preferiria ter guardado para a carta, mas ainda assim vou escrever).

Mas já são águas passadas. Bom que o contêiner foi embora e a casa ficou vazia (quase). Agora, se me dão licença, vou tomar um bom vinho e comer pizza, que, pelo burburinho lá em cima, deve estar chegando. Se eu não aparecer por aqui amanhã, ficam os meus votos de um 2010 extasiante. O meu vai ser.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

O caso Sean Goldman

Ontem uma colega do Fundo me perguntou o que eu achava do caso, que está em todos os jornais e noticiários. Eu vejo a questão de forma bem clara, mas por dois pontos de vista diferentes.

A decisão de devolver a criança ao pai é a melhor para o menino? Não, não é. Onde ele terá uma vida melhor? Em Nova Jérsei, onde passará o dia inteiro na escola porque o pai, imagino, terá que trabalhar para sustentá-lo? Ou no Rio de Janeiro, no seio de uma família rica? A escolha é fácil. Eu prefiro o Rio.

Mas há outra questão. O que a mãe fez foi errado. Ela enganou o marido ao viajar ao Brasil para passar férias com o filho e, em seguida, decidir nunca mais retornar. Eu me coloco no lugar do pai e acho que esse erro precisa ser reparado. Ao tomar a decisão de não voltar aos Estados Unidos com o filho, a mãe nem fazia idéia da confusão em que meteria a sua família.

É claro, numa véspera de Natal, sinto pela avó do menino, que não tem culpa alguma, e se viu envolvida nisso tudo. Ela, o Sean e a irmãzinha de um ano e três meses são as maiores vítimas de um erro cometido lá atrás, há cinco anos. É uma pena que a Justiça tenha demorado tanto a resolver isso. Uma solução célere teria evitado muito da dor que se sente agora e se sentirá por muitos anos.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Como virei tradutor

Um grande amigo e tradutor pediu aos colegas que escrevessem em seu blog sobre como viraram tradutores. Eu escrevi isto que segue e, por que não, resolvi colocar aqui também. A história é velha, mas ainda há um ou outro que não a conhece. Divirtam-se.

Comecei a estudar inglês aos 11 anos. Odiava! Minha mãe me deixava na Cultura Inglesa, mas eu não ficava lá. Dava a volta no prédio e ia jogar bola... devagarzinho, na sombra, claro, para não suar e chegar em casa com cara de quem não estava na aula. Tudo correu bem até chegar o primeiro boletim. Constava lá que o aluno era bom, mas apenas quando aparecia na aula. Minha mãe passou a me levar até a porta da sala, literalmente. Mal sabia ela o impacto que aquilo teria nas décadas seguintes da minha vida.

Saltemos para fins de 1993. Após voltar dos EUA, onde havia estudado música, todos me aconselharam a fazer o vestibular e buscar uma profissão de verdade, que aquele negócio de ser músico não dava futuro a ninguém. Abri um guia do vestibulando, ou coisa que o valha, da Editora Abril e fui folheando. Cheguei ao fim e a única coisa que me havia parecido razoavelmente interessante havia sido, vejam vocês, tradução. Eu já falava inglês, então meio caminho já estava andado, pensei. E lá na federal da minha cidade havia um curso.

Entrei no curso de tradução da UnB em meados de 1994, me formei em 1998 e voltei à minha alma mater em 1999, onde dei aula durante dois anos. Em 2001, veio o concurso para tradutor no FMI. Quando vim fazer a entrevista em Washington, alguém me recomendou que eu não contasse a história de como ingressei na profissão porque não ficaria bem, era muito feio aquilo. Mas é claro que eu contei, oras! Por que perderia a oportunidade?

Bom, após o que terão sido oito anos de FMI, volto de mala e cuia para o Brasil e para o mercado freelancer. É chegada a hora de começar a escrever mais um capítulo desta história, que, tenho certeza, será venturoso.

domingo, 6 de dezembro de 2009

A batalha do Couto Pereira

Em agosto, quando estivemos no Brasil, visitamos Curitiba. Eu, claro, apreciador do futebol, fui assistir a um jogo lá no Alto da Glória. Passei um aperto. O Cruzeiro passou por cima do Coxa por 3 x 1 e o pau comeu. Quando o time mineiro fez 3 x 0 com 10 minutos do segundo tempo, uma das torcidas organizadas se enfureceu, derrubou um alambrado e iniciou-se a confusão. Não quis esperar para ver no que ia dar, pois não estava na minha cidade nem sabia que proporção a coisa poderia tomar. Peguei o rumo do hotel. Lamentei apenas perder o golaço marcado pelo Marcelinho Paraíba na ocasião.

Mas por que estou falando disso? Estava vendo pela Internet o caos que tomou conta do estádio após o empate que deixou o Fluminense na primeira divisão e relegou o Coxa à segundona no ano do seu centenário. Tristes cenas; o que eu passei nem se compara. O que para ser uma batalha apenas futebolística descambou para a violência. É desolador ver o estádio ser depredado pelos próprios torcedores do clube e, pior de tudo, ver aqueles pobres policiais arriscarem a pele para conter um bando de marginais. Coitados, poderiam estar em casa, curtindo o domingo ao lado da família, mas estavam ali, trabalhando. Muitos deles devem ser coxas-brancas e certamente estavam sofrendo tanto quanto os torcedores nas arquibancadas. Cadeia para esses baderneiros que tornam a ida a uma praça de esportes um programa de alto risco!

x - x - x - x

Um adendo: Tem que acabar esse negócio de o time ficar no vestiário esperando os outros jogos começarem para só então entrar em campo. Os jogadores valem-se desse expediente para saberem o desfecho dos outros jogos enquanto a bola ainda rola na sua partida (como se isso fosse ajudar em muita coisa). Que haja uma multa pesada para essa turma aprender a respeitar compromisso. Se o jogo está marcado para as 17h, tem que começar às 17h. Que tal derrota por w.o. para a equipe que não estiver lá na hora marcada? Talvez eu esteja pedindo demais, ainda mais no país do jeitinho, da acochambração. Mas que tem que ser por aí, pois brasileiro só entende e obedece na marra.

Aniversário do blog

Fui notar hoje que o blog fez um ano no dia 2 de dezembro. Não tenho dado muita atenção a ele, eu sei. Ontem, uma leitora, que eu nem sabia que me acompanhava, veio me perguntar por que eu nunca mais havia escrito nada. É, estou em falta mesmo, mas tenho um bom motivo. Estamos nos mudando e, com isso a vida está de pernas para o ar. Não vou ter muito tempo para escrever pelo menos até as coisas serem empacotadas e o caminhão de mudança sair daqui. Tenham paciência e fiquem por aí, leitores, que volto a escrever tão logo possa. Aquele abraço!

O hexa

Na última vez em que o Flamengo foi campeão brasileiro, eu morava aqui nos Estados Unidos. Não havia Internet e eu nem me lembro como fiquei sabendo da notícia. Agora, 17 anos depois, o Mengão repete a façanha. Será que eu preciso estar no exterior para o Fla ser campeão brasileiro? Oxalá não!

Não foi um jogo exatamente bonito, muito pelo contrário. Foi um jogo sem sal, sem muita emoção. E para quem imagina que estou dando pulos de alegria, não estou. Não se foi o jogo morno, a idade, a distância do Brasil. Estou feliz, claro, mas é uma felicidade contida.

Mas parabéns ao time e à torcida, pois nem o mais otimista rubro-negro imaginava um desfecho desses. A Libertadores já estaria de bom tamanho, mas deixaram o Mengão chegar. E, como vocês bem sabem, quando deixam o Mengão chegar...

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Dois retratos (feios) do Brasil

Estava vendo trechos do Fantástico enquanto arrumava umas coisas aqui. O negócio continua feio. Primeiro a reportagem sobre a sobrevivente do Bateau Mouche. No fim, a revelação de que, quase 21 anos após a tragédia, só uma família foi indenizada. Dois acusados foram condenados a regime semiaberto, mas fugiram do país. Eita justiçazinha morosa e ineficaz essa do Brasil, hein?! Ainda somos um país sem lei. Depois, veio a reportagem sobre a irresponsabilidade do brasileiro no trânsito, que mata 40 mil pessoas por ano.

Que ninguém me venha dizer que a Globo pinta o bicho mais feio do que ele é. Você e eu sabemos que a coisa no Brasil ainda é braba. Nessas horas, é duro pensar que vou voltar a morar aí.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Ainda mais esta

Como se já não bastasse tudo o que ocorreu naquele caso da moça do vestido curto no ABC, agora me vêm esses alunos da UnB se despir para protestar contra a Uniban e o machismo (http://tinyurl.com/yhqrfm8). E logo alunos da minha ex-universidade?! É o fim da picada.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Terrorismo de verdade

Quando se fala em terrorismo, pensa-se logo no ocorrido no 11 de setembro ou nos episódios recentes em Londres, um dia após o anúncio da cidade como sede das próximas olimpíadas, Madri, onde uma série de explosões no sistema de metrô mataram quase duas centenas de pessoas, e Bombaim, na Índia, onde ataques coordenados a lugares públicos como hotéis e um hospital vitimaram mais de 170. Perto desses episódios, é difícil imaginar que duas pessoas poderiam espalhar o terror e deixar uma região metropolitana inteira de joelhos. Pois foi exatamente isso o que ocorreu em 2002, provando que não é necessário seqüestrar um avião ou lançar mão de explosivos para semear o terror. Bastam dois idiotas com uma idéia errada na cabeça.

Essa história teve provavelmente o seu último capítulo. Foi executado na noite de ontem, com uma injeção letal, John Allen Muhammad, que entrou para a história por ter orquestrado uma série de atentados na região de Washington em outubro de 2002. Num período de três semanas, Muhammad e o então menor Lee Boyd Malvo mataram 10 pessoas e feriram outras três sem nenhuma ligação entre elas e aterrorizaram uma região que ainda se recuperava dos ataques terroristas de 11 de setembro do ano anterior.

Os assassinos escolhiam suas vítimas aleatoriamente e as alvejavam de dentro do porta-malas de um carro. No início, foram sete pessoas no espaço de dois dias, cinco delas no mesmo dia. O medo se espalhou rapidamente, pois os assassinos não se concentraram numa determinada área. Antes, começaram no estado de Maryland e depois seguiram para Virgínia, passando pelo Distrito de Colúmbia, onde mataram um homem. Qualquer um poderia ser uma vítima; bastava estar na rua. Dois episódios ficaram na minha memória.

Naquele ano, morávamos em Crystal City, na cidade de Arlington. Felizmente, o meu trajeto até o trabalho era bastante tranqüilo porque eu não precisava sair à rua. Nosso prédio tinha uma saída que dava para uma galeria subterrânea de lojas e serviços que levava até a estação de metrô. Eram seis estações até a minha. Para minha sorte, o prédio em que trabalhava ficava exatamente sobre a estação de metrô. Uma escada rolante fazia a comunicação entre a estação e a entrada do prédio. Em meio àquele terror, era tudo de que eu precisava.

Mas um dia, tive que ir ao prédio principal do Fundo, a dois quarteirões de onde eu trabalhava. Naquela altura, já havia ocorrido o assassinato no Distrito de Colúmbia. O que havia de comum entre as vítimas era que, no momento em que foram alvejadas, estavam paradas ou andando despreocupadamente. O negócio era não ficar parado para não dar chance ao sujeito. Ao chegar perto do cruzamento da 19th St. com a Pennsylvania, o sinal estava fechado e eu teria que esperar. Não teve outra: fiquei zanzando de um lado para o outro. Se ele tivesse que atirar em mim, eu não seria um alvo fácil.

Num sábado, iríamos a uma festa na casa de uma amiga em Germantown, Maryland, que ficava razoavelmente longe da nossa casa. O problema era que a gasolina do carro não daria para irmos e voltarmos e, ninguém esquecia, uma das vítimas havia sido morta enquanto abastecia o seu táxi. Que dureza! Não podíamos deixar de ir à festa, então não houve saída. Fomos ao posto onde costumávamos abastecer. Vale lembrar que aqui, como na maioria dos estados americanos, não há frentistas nos postos. É o próprio motorista quem abastece. Mas eu não vou me esquecer da cena nunca mais. Uma senhora parou, desceu, enfiou a mangueira de abastecimento no carro e voltou rapidinho pra dentro do veículo, onde ficou toda encolhidinha. Eu, um tantinho mais corajoso, fiquei do lado de fora, mas me vali do mesmo expediente: andei pra lá e pra cá enquanto tentava adivinhar onde o safado poderia estar escondido.

Pode-se dizer que o mais perto que os assassinos estiveram de nós foi quando mataram uma senhora no estacionamento do Home Depot da Arlington Boulevard onde fizemos compras algumas vezes. Assim como em todos os outros casos, era a pessoa errada no lugar errado. Enfim, quando John Muhammad e Lee Malvo foram presos, houve um misto de alívio, claro, e surpresa, pois ninguém imaginava as circunstâncias em que os crimes ocorreram nem que um adulto e um menor podiam ter iludido a polícia por tanto tempo. Com a morte de Muhammad, restou Malvo. Como era menor quando cometeu os crimes — atirou em três pessoas, inclusive na senhora do Home Depot —, não pôde receber a pena capital, mas passará o resto de seus dias na cadeia.

Outdoor interessante em Nova Iorque



Estava na Broadway, próximo ao Columbus Circle, quando vi este outdoor. Propaganda do filme 2012, com estréia programada para esta sexta. Mais um daqueles em que o mundo se vê à beira da destruição e por aí vai. Não esperem me ver no cinema porque não é o meu estilo de filme.

O caso Uniban

Aquela história da menina do vestido curto da Uniban está mal contada. A faculdade expulsa a menina pelos jornais e depois volta atrás. A moça, por sua vez, posa de vítima, porém só aparece com roupas insinuantes nos vídeos sobre o caso disponíveis na Web. Aquele santo tá querendo reza, viu?! O desfecho disso tudo ninguém sabe, mas as revistas masculinas nacionais já devam estar de olho na boutique dela. Não me espantaria se, nos próximos meses, ela aparecesse ao natural estampando as páginas de uma delas.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Let’s play ball!

Que história é essa de play ball? Afinal de contas, isso não vai ser ouvido até o ano que vem. Ontem os Yankees, de Nova Iorque, derrotaram os Phillies, da Filadélfia, na sexta partida e fecharam a World Series, a série de sete jogos que decide o campeonato de beisebol dos Estados Unidos. Agora são 27 World Series para os Yankees, os maiores campeões da história do beisebol americano e a equipe com mais títulos entre todos as equipes de esportes profissionais disputados nos EUA.

O beisebol é mais do que um esporte para os americanos. É o national pastime, o passatempo nacional. Mas nunca me agradou. Quando morava na Califórnia, ligava a TV no começo da tarde e jogavam os Dodgers, de Los Angeles, contra uma equipe lá qualquer. Não me interessava nem um pouquinho e eu simplesmente desligava o aparelho. No fim da tarde, umas três horas depois, tornava a ligar a TV e os caras ainda estavam jogando. Já imaginou? Eu ficava pensando nos pobres que estavam lá assistindo ao jogo no estádio. Um joguinho que não acaba nunca. Mas uma vez, um colega inglês me disse que uma partida de críquete podia muito bem durar dois dias. Jesus crucificado!

Contribuía para a minha birra com o beisebol o fato de eu não entender o jogo. O arremessador pegava a bola, se punha lá naquele montinho e aí vinha aquele ritual: girava o braço, mascava sei lá o quê (fumo, descobri depois), cuspia, coçava o saco, girava de novo o braço, coçava mais uma vez e arremessava. Do outro lado, o rebatedor nem se mexia. E eu olhando aquilo. Depois de toda aquela mise-en-scène, o cara nem fazia menção de rebater a bola?! Tá louco! Tremenda perda de tempo.

Adiantemos uns bons 10 anos, até 2003. Era a noite de 15 de outubro e eu estava no Hospital George Washington. Clarissa havia nascido de manhã e eu acompanhava mamãe Érica no hospital. As luzes do quarto apagadas e eu lá, embutido num sofá-cama extremamente desconfortável. Decidi ligar a TV e ver o que passava. Num dos canais, beisebol, World Series. Resolvi assistir, com a TV quase sem som. Comecei a entender o jogo. Strikes, outs e por aí vai. Havia uma área imaginária, a zona de strike, onde a bola devia ser arremessada. Se viesse fora daquela área, o rebatedor nem precisava se preocupar. Era por isso que ele não fazia menção de rebater. Ah! Agora sim.

Entendi o suficiente do jogo para não ficar boiando, mas ainda assim não aprendi a gostar dele. Tanto que só agora, após sete anos e meio vivendo aqui em Washington e outros dois na Califórnia, resolvi ir a um ballpark, como eles chamam os estádios de beisebol. Já havia visto ao vivo todos os principais esportes deles: basquete, futebol americano, hóquei no gelo, tênis. Não poderia ir embora daqui sem ir a um jogo de beisebol. Imbuído desse espírito, peguei o metrô no dia 9 de setembro e fui ao National Park ver os Nationals, o pior time da liga, enfrentar os Phillies, os campeões de 2008. Claro, eu nem sabia que os Phillies haviam se sagrado campeões no ano anterior. Fui descobrir isso durante o jogo.



A primeira impressão foi muito boa. O National Park é muito bonito, com tudo muito limpo e organizado. Pena que eram tão poucas pessoas para o tamanho do estádio; estavam mais para testemunhas do que torcedores. Já era o fim da temporada regular e, se considerarmos que cada equipe joga 162 partidas no ano, sem contar os playoffs, os torcedores de Washington já deviam estar cansados de ver o time apanhar. Vale notar também que, conforme mencionei na semana passada, os torcedores de um e de outro time ficam misturados, sem atrito.



O jogo propriamente dito é enfadonho. É o esporte perfeito para a TV, pois é um interminável para-e-continua. E você fica ali sentado vendo aquilo. Vez ou outra o rebatedor acerta a bola e aí é aquela empolgação, que dura pouco. Os lances são muito rápidos e esses momentos não devem somar nem um terço do tempo total da partida. Enquanto isso, a turma come. E como come. E bebe também, claro. E parecem não dar a mínima bola para o que está ocorrendo no jogo. Você fica se perguntando se estão ali para ver o jogo ou para encher a pança. O pior é que nada é barato. Uma garrafinha de cerveja long neck custa 7,50 dólares. Com o que se paga por três garrafas, dá para ir ao Costco, um atacadista, e comprar uma caixa com 24 garrafas. Sai caro ir a um jogo desses. É por essas e outras que a turma aqui vive endividada.



Bom, no fim das contas, o jogo foi até disputado, porém o time da casa, como se esperava, acabou amargando mais uma derrota. Mas ainda havia outro jogo, pois eu queria conhecer mais um estádio. Mas isso é assunto pra amanhã. Boa noite.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Os recatados do ABC

Fiquei mais de uma semana sem escrever porque viajei a Nova Iorque para participar do congresso anual da Associação Americana de Tradutores. Foram cinco dias longe de casa e praticamente afastado do computador, o que não foi de todo ruim. Mas o que vi por lá vai servir de inspiração para vários textos, como eu disse no Twitter há alguns dias. Mas vamos ao assunto de hoje, antes que ele caduque.

Viajei na quarta-feira e fiquei sem acompanhar o que ocorria no Brasil. Ao retornar, me espantei com aquele caso da universitária da Uniban e seu vestidinho cor-de-rosa. De onde saiu aquele recato todo? Por que a revolta com a menina? Sim, estava curto, mas precisava hostilizá-la a ponto de ela ter que sair escoltada da faculdade? Não me surpreenderia se a turma iniciasse um coro de gostosa ou coisa que o valha, mas chamá-la de "puta" foi exagero.

Que fique claro, não achei a roupa apropriada para o local. Na verdade, o vestido era curto demais para qualquer ocasião. Sempre achei que, se há muita carne à mostra, o resto não deve servir para muita coisa. E isso se aplica também aos homens. Mas voltando às mulheres, entendo que algumas põem uma roupa mais curta ou chamativa para atraírem os homens, mas será que não percebem que acabam nos atraindo pelos motivos errados? Essa aí é só pra farra, olha a roupa dela, pensamos nós. A mulher mais bonita e charmosa (charme, meninas, o negócio é charme) pode muito bem estar coberta da cabeça aos pés, sem revelar muita coisa. É esse o segredo.

domingo, 25 de outubro de 2009

Praça de esportes ou praça de guerra?

Muito falou-se nessa semana sobre esse Flamengo x Botafogo. O lógico seria jogar no Maracanã, mas o Botafogo preferiu fazer diferente. Como o Fogão é o mandante, optou por levar a partida para o Engenhão, como costuma fazer quando joga contra times de fora do Rio. Felizmente a prática de ceder apenas 10% dos ingressos para a torcida do visitante não vale para este jogo. Os ingressos foram divididos meio a meio, embora, ao que parece, não será fácil dividir as duas torcidas no estádio.

Na Gávea, do lado do Flamengo, já se falava do assunto antes mesmo do jogo contra o Palmeiras no domingo passado. Reclamou-se muito que jogar no Engenhão seria, no mínimo, uma imprudência. O time está embalado, a torcida rubro-negra é grande e certamente compareceria em peso. O estádio seria pequeno para acomodar todo o mundo e haveria confusão.

Do lado das autoridades e de quem organiza a partida, mais preocupação. O efetivo policial será de mil homens, o que me parece exagerado. Trezentos desses policiais atuarão dentro do estádio. O Botafogo também contratou seguranças particulares. Haverá uma delegacia móvel e uma carceragem! Se pensarmos que o Maracanã vai ser fechado para reformas a partir do início do ano que vem e que todos os clássicos vão ser jogados no Engenhão, será que vai ser esse Deus nos acuda todas as vezes que houver um jogão?

Uma pausa para acompanhar o noticiário. Torcedores dos dois clubes brigaram e causaram tumulto em Niterói; dois acabaram presos. Já nos arredores do estádio, torcedores do Flamengo e policiais estão se enfrentando. Derrubaram cerca, a polícia mandou bomba de efeito moral e gás de pimenta, aquela esculhambação que a gente já conhece. Será que vai ser sempre assim? Será que um dia o torcedor brasileiro toma jeito? Quando é que ir a uma praça de esportes no Brasil, sobretudo para ver um clássico, deixará de ser um programa de alto risco? Pelo jeito, mil policiais vão ser pouco.

Não posso deixar de comparar essa bagunça com o que ocorre aqui nos EUA. Um evento esportivo é, antes de tudo, um programa para toda a família. Dá para levar a criançada numa boa, sem medo algum. Não se vê briga, arruaça, e olha que aqui se vende bebida nos estádios. Ah! Tampouco se ouve palavrão como se ouve aí. Costumo dizer aos estrangeiros que, para aprender palavrão em português, o melhor curso é ir a um estádio de futebol no Brasil. Após dois tempos de 45 minutos, você sai catedrático no assunto.

Há quem diga que a situação nos estádios americanos é mais fácil de manter sob controle. Salvo raras exceções, os jogos são de uma torcida só, pois cada cidade tem apenas um representante em cada esporte ou campeonato. Não é bem o caso, e dou um exemplo. Fui assistir a um jogo do Nationals, o time de beisebol daqui, e havia muitos torcedores uniformizados do Phillies, clube rival, da Philadelphia. Não foram xingados, não levaram tapa na orelha, não levaram copo de cerveja (ou de coisa pior) nas costas.

Vamos sediar a Copa e as Olimpíadas, está na hora de aprendermos a nos comportar. Já que o povão brasileiro é tão macaco de auditório dos Estados Unidos e copia tantas coisas feitas por aqui, por que não seguimos esse bom exemplo da civilidade dos americanos nos estádios? Só teríamos a ganhar.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Para quem se aventura a traduzir para uma língua estrangeira

Há algum tempo eu não escrevia sobre tradução, então vamos lá. O que vem a seguir são dois tostões de prosa suscitados por um texto e respectivos comentários publicados no blog do Danilo Nogueira, amigo e colega de profissão (http://www.tradutorprofissional.com/2009/10/terceirization-e.html). O começo é meio abrupto, mas é que primeiro abordei um dos comentários para depois seguir para o texto principal.

Como disse o anônimo, essas traduções de resumo de dissertação ou tese são apenas para cumprir um requisito. Normalmente são feitas pelo próprio autor, de maneira “intercrural”, ou por um amigo que sabe (ou pensa que sabe) um pouco mais de inglês. Não raro a tradução sai porca. Olha, para ser sincero, resumo e currículo são duas das piores coisas que podem aparecer na frente de um tradutor. Sempre procurei me esquivar desses pepinos, mesmo quando estava começando. Mas não era disso que eu queria tratar.

Com relação ao assunto do texto do Danilo, há uma regrinha boa a ser seguida: Verifique se a solução encontrada vem de um texto escrito originalmente naquela língua ou de uma tradução. Se vier de uma tradução, é bem possível que o tradutor que a fez tenha passado pelo mesmo apuro que você está passando. De onde será que ele tirou aquela palavra? Será que era um tradutor competente, confiável? Quem traduziu terceirização por terceirization não tinha a mínima ideia do que estava fazendo. Um bom redator em língua inglesa não escreveria terceirization. É o texto de falantes nativos e bons redatores que você tem que tomar como base para confirmar um palpite.

Mas essa história toda me faz lembrar de um outro “causo”, que costumava citar nas minhas palestras. O sujeito estava lá traduzindo e lhe aparecia o termo fiscalização. Desatento, mandava lá um fiscalization. Pausa no causo. E agora? Será que é parente de terceirization? Numa hora dessas, o sujeito vai ao Google e faz uma busca. Mas por favor, nada de simplesmente digitar fiscalization na página inicial e mandar pau. Selecione direitinho os parâmetros da sua busca. Para verificar se o termo existe na língua inglesa, selecione a língua correta, senão vai vir resultado de tudo quanto é língua. Uma das maneiras é ir à “Pesquisa avançada” e selecionar “Inglês” no campo “Idioma – Exibir páginas escritas em”.

Retomando o causo, nosso tradutor fez sua busca no Google como manda o figurino e encontrou lá milhares e milhares de páginas em língua inglesa com fiscalization. Deu-se por satisfeito e tocou o barco pra frente. Que pena, pulou uma etapa importante. Se tivesse ido além de simplesmente se contentar com o número de páginas resultante da busca e houvesse esmiuçado algumas dessas páginas, teria percebido que havia um problema. A palavra fiscalization existe no inglês, mas tem a ver com a idéia de dar um caráter fiscal a alguma coisa, relacioná-la com tributo, finanças públicas. Ou seja, não tem nada a ver com o significado mais conhecido de fiscalização no português: inspeção, controle, vigilância.

Mas e como é que a gente traduz então essa nossa fiscalização para o inglês? Vai depender do contexto, mas enforcement, palavra pouco lembrada pelos brasileiros que se arriscam a traduzir para o inglês, é uma boa solução em muitos casos. Uma vez eu estava sentado num banco no Washington Square Park, em frente à New York University, e passou uma viatura com “Park Enforcement” escrito na porta. Olha aí! Outro exemplo? Vejo muito nas ruas por aqui uma placa com o limite de velocidade e, embaixo, outra placa com os dizeres “Photo Enforced”. É a nossa fiscalização eletrônica, que, na minha querida Brasília, chamamos singelamente de “pardal”.

P.S.: Após meu comentário, Danilo me avisou que também se usava o termo pardal em outros lugares do Brasil. Bom saber...

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Carro novo

Estamos de carro novo já há algumas semanas. Na verdade, nós não, o Rodrigo. Foi presente de aniversário atrasado, pois estávamos no Brasil em agosto.

Olha o sorriso dele ao ver o carro novo:


E os dois estão dividindo o carro direitinho. Cada hora, um dirige um pouco.


Parabéns pra ela!

Hoje é aniversário da minha filhotinha. Há seis anos nascia a Clarissa, para transformar nossa vida de maneiras que nem imaginávamos. Que a alegria desses poucos anos se repita pelo resto de nossas vidas.

Um beijão procê, Kika. Você será sempre a gatinha do seu papai.



Dificultar o que já não é fácil

Terça-feira é dia de ginástica do Rodrigo. Até o semestre passado, um pai ou responsável tinha que estar ali do lado, acompanhando a criança durante os exercícios. Agora que ele já completou três anos, fica lá só com as outras crianças e as professoras. A mim, resta esperar no hall de entrada, junto com os outros pais, que na verdade são em sua grandessíssima maioria mães. São sempre as mesmas, salvo uma ou outra que falta ou que leva a criança para repor uma aula perdida.

O ambiente lá é espartano. Ao redor, escaninhos onde as crianças guardam os sapatos; um freezer com picolé, dois bebedouros, uma janela que dá para a secretaria e dois lugares para os pais se sentarem. Um é uma mesa tubular com tampo de plástico e bancos de um lado e de outro, com assentos também de plástico. Deve comportar umas seis a oito pessoas. O outro é uma pequena arquibancada vazada, feita de tubos de metal e tábuas de madeira. São três níveis com apoio para os pés.

Eu estava lá sentado no nível mais alto dessa arquibancada, no canto, para ter uma visão melhor do Rodrigo e, claro, para poder me concentrar no meu livro. Mas de vez em quando uma pessoinha me tirava a atenção. Era uma menininha oriental, que, pela desenvoltura, já devia ter mais de um ano. Eu já a havia notado antes. A irmã vai fazer ginástica e a pequenininha fica lá com a mãe. E era aí que eu queria chegar.

A menininha subia nessa arquibancada e ia de um lado para o outro. Por duas vezes quase caiu entre o nível mais alto e o do meio. Na segunda vez, quase tive que acodi-la, pois a mãe estava meio distraída, de olho na filha mais velha, que se esbaldava numa cama elástica. Não tardou, a pequena perdeu o interesse pela arquibancada e passou a vaguear pelo recinto. Dava seus passinhos até um dos bebedouros e lá ia a mãe atrás para evitar que a menina se molhasse. Bulia com o freezer de sorvetes e voltava para a arquibancada. E tornava a flanar.

A mãe tentava detê-la, fazer com que se mantivesse no mesmo lugar. Vigiar cada passo da mocinha dava muito trabalho. Mas os esforços maternos eram em vão; a criança não queria nem saber. Até que, num dado momento, a coisa desandou de vez. A pequena se jogou no chão e deu um piti daqueles a que todo pai tem horror. As outras mães continuaram a conversar e fingiram que não era com elas. Fizeram muito bem. Acho que se tivessem se voltado para mirar o espetáculo, a mãe, que se limitou a olhar a filha, teria ficado ainda mais aperreada.

É duro manter ocupada e sossegada uma criança de um ano e pouco durante 45, 50 minutos, sobretudo num lugar como aquele. Quem não sentiria empatia por aquela mãe? O rosto já estampava-lhe o cansaço, e eram apenas dez e pouco da manhã do que tinha tudo para ser um longo dia. Até eu me cheguei a me apiedar da pobre, mas esse sentimento durou pouco.

Ela havia saído de casa despreparada; dificultara o que já não é fácil. Para entreter a criança, tinha apenas uma garrafinha de água e um copinho com Cheerios (um cereal que as crianças — e os adultos também — adoram). Por que não havia trazido um ou mais brinquedos? Uns livrinhos também teriam sido uma ótima idéia. Sentaria a pequena no colo e leria. Quem tem mais de um filho sabe que a concorrência pela atenção dos pais é feroz. Teria sido ótima oportunidade de dar atenção individualizada à caçula. A espera teria sido mais prazerosa, ou menos árdua, para ambas e todo o mundo teria saído de lá mais feliz.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Economical Writing


This is the very first time I post in English. I will try to do this as often as possible, but you will continue seeing mostly Portuguese here. But for sure I will use English from now on to comment on books written in this language.

Economical Writing is a short little book that grabbed my attention the other day at the Fund. The author had economists in mind, but that doesn’t mean people from other fields could not benefit from reading it. To tell you the truth, I was not terribly impressed, as you can find better books in the market (The Elements of Style comes to mind).

If you still want to give it a try, check rules 23 (on word order), 25 (on verbs, active ones), 26 (on avoiding words that bad writers love), and 28 (on being plain).

O swing do Rodrigo

Vou começar a colocar uns vídeos aqui. Para abrir a série, vai o Rodrigo, com pouco mais de um ano, já mostrando os seus dotes de dançarino.

domingo, 11 de outubro de 2009

Em outro planeta

Aproveito o gancho do texto anterior para comentar um fato curioso. Todas as quintas-feiras, o Washington Post traz um suplemento com notícias locais de cada área administrativa daqui da região. No meu caso, recebo o caderno de Fairfax. Entre as várias notícias, vem uma relação das ocorrências criminais da semana. A maioria são crimes corriqueiros, que decerto não figurariam na crônica policial do Brasil. O que chama a atenção, sobretudo aqui em Vienna, é que todas as semanas há uns três ou quatro casos de objetos roubados do interior de veículos que haviam sido deixados destrancados. Parece que estamos em outro planeta. A sensação de segurança, ou a ingenuidade das pessoas, é tanta que nem se preocupam em trancar o carro. O difícil é explicar para esse povo que, no Brasil, mesmo se estacionarmos numa garagem privativa, instalarmos alarme e trancarmos o carro, vagabundo ainda assim acha um jeito de roubar-lhe o carro ou levar o que está dentro. Nessas horas, fica difícil pensar em voltar.

A criminalidade aumenta... e eu acho é bom

Para quem mora no Brasil, crime e violência são uma constante. Vive-se sobressaltado, torcendo, ou rezando, para não ser a próxima vítima. Aqui na região metropolitana de Washington, essa não é exatamente uma das minhas preocupações. A região é conhecida por ter áreas bastante tranqüilas, ao menos para nossos padrões tupiniquins, e um ou outro bolsão de violência, sobretudo onde predomina a população negra. De uns meses para cá, porém, temos tido notícias de um número crescente, embora ainda pequeno, de crimes aqui pelas redondezas.

Em agosto, quando estávamos no Brasil, um homem foi assaltado na avenida que passa em frente à nossa estação de metrô. Se bem me lembro do caso, ele voltava do trabalho quando foi abordado por dois homens, ainda com o dia claro. Deram-lhe uma ou duas pauladas e levaram-lhe a carteira, o celular e o laptop. E pensar que, durante uns bons anos, fiz esse mesmo caminho todos os dias.

Após a nossa volta, no início de setembro, uma moça foi atacada na frente do prédio onde morava. Um rapaz de origem hispânica a agarrou por trás, mas ela conseguiu se desvencilhar e correr. O local onde isso se deu fica bem próximo ao posto de gasolina em que costumamos abastecer. Aqui no nosso condomínio, roubou-se um aparelho de GPS de um carro. É bom lembrar que condomínio aqui não tem cancela, segurança armado, cerca elétrica, muro com caco de vidro em cima, aqueles itens básicos de segurança das cidades brasileiras.

Nas últimas semanas, houve duas tentativas de um outro tipo de crime que nos preocupa bem mais. Um tarado foi avistado em dois lugares diferentes tentando atrair e raptar crianças. Ele prefere lugares abertos, onde haja aglomeração. Um dos ataques foi numa aulinha de futebol, ao ar livre. Boa hora em que escolhemos para matricular o Rodrigo numa aula dessas. Mas que ninguém se preocupe porque o pai fica de olho no futuro craque, numa marcação cerrada.

Ontem, conversando com uns amigos, fiquei sabendo da última ocorrência, esta bem séria. Na última quinta-feira à noite, um funcionário graduado do FMI foi baleado na garagem de casa, ao chegar do trabalho. O bandido fugiu correndo e ainda não se tem pista dele. O que mais surpreende é que o crime tenha ocorrido em Bethesda, Maryland, uma região reconhecidamente tranqüila. Segundo as últimas notícias, a vítima continua internada, em estado grave.

Alguns desses crimes talvez sejam mais uma das indesejáveis conseqüências da crise econômica. Assim, são uma onda passageira e teremos menos ocorrências tão logo a economia entre nos eixos. Outros, claro, não têm relação direta com carestia ou penúria. Contudo, de uma forma ou de outra, consigo ver um lado bom nisso tudo. Se a situação continuar a piorar, não vou mais nem esquentar a cabeça com a iminência de uma possível volta ao Brasil, pois, em breve, a tão propalada criminalidade daí parecerá cada vez mais branda em comparação com a daqui.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Quosque tandem?

Numa segunda-feira, por volta da hora do almoço, me aparece na porta o Alexandre, meu vizinho, filho da Dona Diva. Sai logo me perguntando:

— Vamos almoçar na churrascaria nova que abriu?

Meio desligado, respondi:

— Que churrascaria é essa?

— Barriga Gaúcha…

Isso foi lá pelos idos de 1995, quando o Fluminense foi campeão estadual em cima do meu Flamengo com aquele fatídico gol de barriga do Renato (logo dele!). Quase fui ao Rio ver aquele jogo. O que evitou o pior foi uma prova de latim no dia seguinte. O latim já me salvou de outras boas também, mas isso não vem ao caso agora.

Mas voltando ao assunto, bons tempos aqueles do Fluminense. Mas no ano seguinte a coisa degringolou. Seria rebaixado, mas acabaria salvo por uma manobra política. Porém, no ano seguinte, caiu para a Segunda Divisão e, em 1998, para a terceirona. Pobre Fluminense. E não é que, mais uma vez, o time se vê muito perto dessa situação. Com a bolinha que vem jogando, não consigo ver salvação.

Contudo, quem imagina que estou feliz com isso está redondamente enganado. Em matéria de futebol, sou bairrista e torço para os times do Rio (claro, menos para o Vasco, mas isso é assunto para outra hora). Cresci vendo os clubes cariocas na TV e prefiro o futebol do Rio. Mas o principal motivo por que não gosto de ver os grandes adversários do Mengão rebaixados é outro. Quem viu o Fla x Flu do último domingo, com mais de 82 mil pessoas no Maracanã, recorde de público do ano no Brasil, sabe do que estou falando. Antes ver um clássico estadual do que um Flamengo x Santo André, Flamengo x Barueri.

Mas é uma pena que o futebol mais charmoso do Brasil, esse futebol que enche o estádio como nenhum outro, tenha um desempenho bem aquém do de seus vizinhos. Há anos os times de São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais, sobretudo o Cruzeiro, fazem sombra aos cariocas, que penam para se manter na primeira divisão e tentam, sem muito êxito, equacionar suas dívidas. Num esporte em que, segundo Simon Kuper, articulista do Financial Times, os clubes estão fadados a serem deficitários, seja na Europa ou em qualquer outro lugar do mundo, tem-se a impressão de que os cariocas vivem numa realidade só deles. Por que não conseguem aprender com os outros clubes? O que falta para “profissionalizar” o futebol? É difícil entender por que o Flamengo, em particular, não consegue transformar uma nação inteira de torcedores em receita para o clube. Quosque tandem abutere patientia nostra?

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O Flamengo vai ter uma parada dificílima logo mais contra o Vitória, lá em Salvador. O Imperador vai fazer falta. Mesmo jogando mal, ele é fonte constante de dor de cabeça para as zagas adversárias. Num lance fortuito, ele pode meter um canudo de onde estiver e decidir a partida. Vai ser duro assistir ao Dênis Marques tentando e não conseguindo fazer o que o Adriano faz. Oxalá eu queime a minha língua.

No sábado, contra o São Paulo, também vai ser uma pedreira. O tricolor vem sem o Miranda, zagueiro de Seleção, mas o Adriano é uma perda maior. Que o Mengão tire partido da vantagem de jogar em casa e possa se impor.


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Se o Ibson e o Kléberson estivessem nesse time do Flamengo, não teria pra ninguém, vocês vão me desculpar.


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Que maravilha ver o Palmeiras jogar! Está com pinta de campeão. É o Muricy rumo ao tetra. Aquele terceiro gol contra o Santos foi uma pintura, apesar do desfecho ter sido mais um lance de sorte e força do que de habilidade. Foi uma beleza ver a jogada ir se desenhando desde os pés do Diego Souza. Torci para que culminasse em gol porque seria um desperdício e tanto ver a bola cortada por um adversário ou nas mãos do goleiro. Para quem não viu, dê um pulo em http://globoesporte.globo.com/Esportes/Futebol/0,,CCF30584-9825,00.html e se delicie.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Viva o Rio, Viva o Brasil!

Estava almoçando com a Érica no California Pizza Kitchen, no Tysons Corner. Era um olho na Érica e outro no telefone, esperando o resultado. Não agüentei esperar sentado e, enquanto ela pedia a conta, fui para a frente de uma TV, sintonizada na CNN. Quando o sujeito mostrou o papel com Rio de Janeiro estampado, dei um pulo e gritei. Segundo a Érica, consegui chamar a atenção de todo o restaurante. Mas e daí?! Fiquei extático, contendo as lágrimas, que já tive de conter mais de uma vez desde então.

Que boa notícia, para os cariocas e para nós brasileiros. Quantos já não se perguntaram o que houve com o Rio para ele chegar aonde está, numa situação em que a denominação “Cidade Maravilhosa” muitas vezes parece não fazer sentido. Fico me lembrando das histórias que minha mãe me conta. Ela fez residência no Hospital do Fundão e costumava ir ao cinema com a mãe e as amigas, a pé, tarde da noite, no Largo do Machado. Hoje em dia é preciso um bocadinho de coragem para sair à noite no Rio. Os que moram lá dizem que não é bem assim, mas não é a impressão que a cidade passa.

Talvez o Rio nunca tenha se recuperado do baque de ter sido rebaixado e deixado de ser a capital da República. Será que foi isso? Muita gente até hoje não entende por que os cariocas votam do jeito que votam. Sempre seguiram uma linha própria deles. Outros acreditam que a derrocada do Rio se deve ao fato de que o povo de lá se acha mais “ixxxperrrrto” do que os demais mortais, abençoados por Deus e bonitos por natureza. Um povo que sempre pensou que não precisava se preocupar porque as coisas se arranjariam cedo ou tarde. É chegada a hora.

Que a concretização do sonho olímpico ajude o Rio a se reerguer e mostrar sua pujança. Os cariocas podem contar com a ajuda dos demais brasileiros. Oxalá o Rio possa ser mais maravilhoso do que nunca e nos encha ainda mais de orgulho. Vejo todos lá em 2016, onde estarei, espero, trabalhando.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Dia do Tradutor

O dia 30 de setembro é sempre lembrado como o dia da secretária. Eu me recordo de um 30 de setembro em que eu estava trabalhando nos Correios. A secretária, Dona Dálvia, ganhou beijo, abraço, chocolate, flores, festa. Que beleza! Não que ela não merecesse, mas o problema foi que ninguém se lembrou do tradutor. Mas o que tem a ver o tradutor com a secretária? É que o dia 30 de setembro é também o dia de São Jerônimo, o santo-padroeiro dos tradutores. Assim, ficou convencionado que esse é o dia internacional do tradutor. Assim, ficam aqui os meus parabéns aos colegas de profissão.

E agora, quem não for tradutor, largue o computador um pouquinho e vá cumprimentar o seu tradutor favorito, pois ele merece.

sábado, 26 de setembro de 2009

Santo André

O ocorrido em Santo André na quinta-feira foi resultado de uma combinação explosiva: irresponsabilidade e fiscalização frouxa, que ainda prevalecem no Brasil do jeitinho, da vista grossa, da ilegalidade. Arrasou-se um quarteirão inteiro, duas pessoas morreram, dezenas se feriram e o patrimônio de vários foi destruído.

O casal não tinha autorização para operar uma loja de fogos de artifício; tampouco podia fabricá-los, o que fazia de forma clandestina, como se suspeita. Evidentemente, são os grandes culpados. Personificam o que analiso como uma certa falta de respeito do brasileiro pela vida alheia. Nas nossas ações, não nos preocupamos com o impacto sobre os outros. É a mesma negligência que demonstramos ao dirigir como dirigimos, ao jogar lixo na rua.

E as autoridades? São culpadas também. Apesar de terem sido avisadas repetidas vezes, conforme alegam as pessoas da região, não fizeram o suficiente para evitar o ocorrido. Interessante ver que, um dia depois da tragédia, a polícia saiu à rua para investigar denúncias de venda irregular de fogos. Duas lojas foram fechadas. É o proverbial cadeado após a porta ter sido arrombada.

Mas quem vai cobrir os prejuízos? Um americano que visse aquela destruição toda pensaria logo que algumas seguradoras morreriam numa grana preta. Não no Brasil. Ainda não temos essa cultura do seguro. Acho difícil que alguém ali tivesse a casa ou loja segurada. O casal que operava o “bazar” muito provavelmente não tinha seguro para cobrir os danos causados a terceiros. E agora, quem vai pagar? O governo? Se fosse aqui, já haveria gente processando as autoridades por não terem feito a parte delas, qual seja, fiscalizar e fazer cumprir as leis. Certíssimo.

Carecemos de duas coisas que fazem a diferença aqui nos EUA. A primeira é o fato de que as autoridades arrocham mais do que aí. No Brasil, a coisa corre solta. Se der uma zebra, deu. Não precisa se preocupar porque a cana, se vier, não é tão dura. A segunda, diretamente relacionada à primeira, é a responsabilização. Nos EUA, grosso modo, não existe acidente, ou melhor, dificilmente existe o acidente do qual ninguém é culpado. É preciso encontrar o culpado porque ele será responsabilizado e vai pagar, e caro, pelos danos. Claro, os americanos levaram essa idéia às últimas conseqüências e vemos processos descabidos por qualquer motivo. Mas no Brasil, temos o oposto. Ainda se tem a sensação de que pouco adianta recorrer à Justiça, pois um processo corre anos a fio nos meandros dos tribunais e a justiça nunca é feita. Precisamos nos americanizar um pouquinho e começar a ter mais responsabilidade e responsabilização.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Vítimas do mesmo mal

Câncer de pâncreas. Um dos mais terríveis. Agressivo e de difícil diagnóstico, ao ser detectado normalmente já está em estágio avançado. E o fato de o pâncreas estar ali escondidinho atrás do estômago dificulta uma intervenção cirúrgica.
Nas telas, Patrick Swayze foi ótimo como dançarino, leão-de-chácara, fantasma, drag queen. Marcou a minha geração. Mas, com esse currículo todo, ele ainda perde para a Renilde. Minha prima, queridíssima, também vítima de um CA de pâncreas, nos deixou em março do ano passado. Entre tantos predicados, fazia um pato no tucupi e uma maniçoba como poucos. E tinha mais, sempre guardava o melhor pedaço do pato pra mim. Era o jeito dela.
A Nilde se foi sem saber que me ajudou a abrir os olhos e ver que a situação em que me encontrava naquela época não era um problema, mas tão somente um empecilho, um pequeno obstáculo a ser transposto. Por tudo isso, lhe serei grato pelo resto da vida.

domingo, 13 de setembro de 2009

Leite derramado


Quando vi o livro pela primeira vez, lá em Rio Preto, me aborreci. Por que os livros do Chico, do Verissimo e de vários outros autores no Brasil são paginados de forma a deixar tanto espaço em branco na folha? Para mim, é um desperdício de papel. Não estou pedindo para espremerem as linhas em cada página, mas sejamos um tantinho ecológicos, ora! Isso me faz lembrar de um conhecido que dizia que, para um livro poder ser considerado realmente um livro, não pode tombar após ser colocado em pé na mesa. Se não passar no teste, é no máximo um fascículo. Mas vamos ao Chico.

Estorvo não me arrebatou, por assim dizer, mas gostei de Budapeste. Após ler resenhas positivas sobre este livro, resolvi comprá-lo. Até o momento, é o melhor deles. A leitura é ágil e flui melhor do que a dos outros.

Na página do livro na Livraria Cultura, na guia “Saiu na imprensa”, há um vídeo de uns seis minutos com o Chico lendo um trecho do livro. Confiram.

Vou tentar terminar esta leitura logo porque chegou hoje da Amazon um outro, sobre novas idéias sobre a criação de filhos, que pulou todos os livros que estavam na fila.

http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/resenha/resenha.asp?nitem=13005475&sid=9816916121191331826134418&k5=33B89FDE&uid=

O ataque da Copa

Como o Adriano jogou bola ontem, hein?! Se ele me faz aquele gol da matada no peito, o Maracanã vem abaixo. Deve ter se dado conta de que ficou devendo no jogo contra o Chile no meio da semana. Mas que ninguém se assanhe e comece a imaginar, por exemplo, o imperador e o gordo na África do Sul. É um ou o outro.

Não vejo lugar para os dois na Seleção. Os atacantes da Copa vão ser Luís Fabiano, Robinho, Nilmar (ou Tardelli, talvez, se o Nilmar estiver machucado) e Ronaldo ou Adriano. Luís Fabiano é eminentemente um homem de área e é lá que tem que jogar, pois tem feito gol adoidado. É o homem-gol e o titular da camisa 9. Ronaldo e Adriano não se movimentam tanto, sobretudo aquele, e também jogam mais dentro da área. Para ficarmos apenas com um atacante leve, o Robinho, não dá. A Seleção fica limitada, sem muita opção. Mas e se o Dunga resolver levar um atacante a mais? Aí sim, mas não vai ser o caso.

No ano que vem, veremos uma boa disputa entre Ronaldo e Adriano. Vão fazer gol à beça, defendendo os times de maior torcida do Brasil. Nosso futebol só tem a ganhar com isso. Mas quando chegar a época da derradeira convocação, só um vai à Copa. Quem? A escolha é difícil. O Adriano é mais novo, mas o Ronaldo é mais jogador. Com os dois em forma, acho que prefiro o gordo. Ele é mais decisivo.

Comédias Brasileiras de Verão



Acabei num dia desses. Verissimo é sempre uma beleza. Mas aviso logo que não são histórias inéditas. Talvez uma ou outra seja, não sei, mas muita coisa foi tirada de um livro dele chamado Histórias Brasileiras de Verão, publicado pela própria Objetiva em 1999.

A leitura é leve e flui bem. As histórias são curtas, duas, três páginas, o que facilita parar a leitura no meio.

http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/resenha/resenha.asp?nitem=11028610&sid=9816916121191331826134418&k5=14278535&uid=

De volta à “casa”

Foram seis semanas, seis longas semanas. Não se deve dizer nunca, mas prometi a mim mesmo nunca mais ficar longe de casa por tanto tempo. No início do ano passado, já havíamos viajado por cinco semanas. Não aprendemos a lição. E olha que nem somos neozelandeses, que têm a fama de fazerem verdadeiros périplos. Mas acho que faria o mesmo se eu morasse lá no fim do mundo como eles moram.

Mas foi bom voltar pra casa. Eu ia aspear casa todas as vezes que aparecesse no texto, mas desisti. Já notei que ficou casa sem aspas logo no primeiro parágrafo. O motivo das aspas é que onde estamos agora é a nossa casa, porém não por muito tempo. Nas últimas semanas no Brasil, tinha uma sensação estranha ao pensar que voltaria para uma casa que logo deixará de ser a minha. É mais ou menos como se já não fosse.

Mas isso não significa que já, digamos assim, tenhamos jogado a toalha e desistido de vez dos EUA. É que somos realistas e sabemos mais do que ninguém o que vai por nossas cabeças, do que precisamos no momento. Só eu sei tudo o que nós passamos desde fevereiro de 2008, ou talvez eu deva puxar o início de todo esse processo para meados de 2007. Mas eu já estou fugindo do assunto.

Foi bom voltar pra casa. Claro, sempre há uns senões. Fiquei logo contrariado ao olhar pela janela e ver o matagal que havia tomado conta do meu quintal. Aquilo me abalou. Sabem que naquela noite, sonhei com o Cabañas? Lembram-se dele? No pesadelo, não era que me aparecia outra marmota no meio daquele mato. Credo! Ao ver o matagal, pensei logo: “Lá vou eu ter que cuidar disso.”


Natureza não é a minha e esse tipo de serviço não me agrada. Mas sabem quanto custa mandar alguém fazê-lo por mim? Uns cem, cento e poucos dólares. Caro? Caríssimo, sobretudo quando eu me lembro da situação de um amigo que vive numa cidade próxima a São Paulo. Ele tem um rapaz que lhe vem em casa fazer todo o tipo de serviço braçal, duas vezes por semana, por 350 reais ao mês. Que maravilha! Nesse aspecto, o Brasil dá de 10 x 0 nos EUA. Viva a mão-de-obra barata! Um conforto desses não tem preço, não apenas por você não ter de fazer o trabalho duro, mas por poder dispor desse tempo — o tempo, a mais preciosa das riquezas —, para fazer coisas mais proveitosas.

Tenho que admitir que as horinhas que passei desbastando o quintal foram boas para arejar as idéias, pensar um pouco. Claro, duas Bud Light Lime ajudaram, mas isso não vem ao caso. Um ex-professor e ex-colega meu da UnB me dizia que a melhor hora para lhe aparecerem boas soluções para problemas de tradução era quando limpava a piscina na chácara. Você está ali, fazendo um serviço que não exige muita massa cinzenta e aí a cabeça fica livre para pensar melhor. Faz sentido, mas não é por isso que eu vou passar a fazer esses serviços braçais todo lépido e faceiro. Vou sempre pensar que poderia estar lendo um bom livro.

Como era de se esperar, a casa ficou de pernas pro ar após nossa chegada. Era muita mala pra desarrumar, roupa pra lavar e, claro, duas crianças que, pela tenra idade, mais bagunçam do que arrumam. Minha mesa aqui embaixo, no meu escritório/refúgio/academia ficou uma tragédia. Haja papel. E olha que já havia coisa amontoada em julho, antes de viajarmos. Mas aos poucos fomos dando conta de tudo. Ontem à noite cheguei em casa do Fundo e tive a sensação de que havíamos conseguido finalmente dar à casa uma cara de arrumada, o que durou algumas horas, até as crianças acordarem. Coitados, os bichinhos são bonzinhos e fazem a bagunça normal que toda criança faz. Mas ainda arrumam muito pouco.

Mas eu dizia que havia chegado do Fundo. Pois é, fui lá assinar um papel que precisava assinar. Tenho procurado ir lá o mínimo possível. Acho que esta foi a terceira ou quarta vez que estive lá desde maio. Junto tudo o que tenho de fazer lá e tento dar cabo numa viagem só. Para que ir lá? O lugar me deprime. Mas não pensem que eu ainda me apoquento com aquilo ali. Já passei por todo o ciclo por que passa quem se vê na situação em que eu me vi. Mas o lugar se tornou deprimente e não há muito que eu possa fazer quanto a isso além de minimizar minhas idas até lá. Que fique claro que não são as pessoas (evidentemente, há sempre uns que destoam do resto). Tenho amigos lá e me têm em muito boa conta, tanto que as vezes em que estive lá acabaram se estendendo por muito mais tempo do que eu esperava. Mas deixemos isso pra lá.

Este foi o meu texto da volta para casa. Pretendia tê-lo escrito, exatamente, logo após a volta, mas fui me ocupando com outras coisas. Vou tentar ser mais assíduo. Tenho muito sobre o que escrever. O dia-a-dia me dá bom material e as seis semanas na Pindorama vão render muitos textos. Vi muita coisa aí que merece ser comentada e farei muitas comparações sobre a vida aí e a vida aqui. É só aguardarem.

sábado, 29 de agosto de 2009

Trocando de roupa

A reportagem de capa da Vejinha (www.vejinha.com.br) da semana que se encerra neste sábado é sobre a troca de mercadorias em lojas paulistanas. Fizeram um teste em trinta lojas de roupas da cidade para avaliar o tratamento dispensado ao cliente na hora da troca. O artigo menciona que, nos Estados Unidos, é praxe aceitar a devolução de produtos e reembolsar o cliente em dinheiro. Pois a coisa pode ir ainda mais longe e chegar ao que seria impensável para nós brasileiros.

Num Natal, comprei uma blusa para a Érica na J. Jill do Pentagon City. Claro, errei no tamanho da peça e, após o Natal, fui trocar, desta vez, na J. Jill de outro shopping, o Fair Oaks Mall. Eu me dirigi ao balcão, expliquei o ocorrido à vendedora e ela me dirigiu para a arara onde estava aquela peça. Peguei a blusa do tamanho certo e voltei ao caixa. Agora vem o pulo do gato.

Imaginei que seria apenas uma troca, mas a vendedora me sugeriu que devolvesse a blusa que havia comprado antes do Natal. Ela me reembolsaria e aí eu compraria a blusa do tamanho certo. O porquê? O preço da blusa havia caído depois do Natal. Assim, eu economizaria uns dólares. Fiquei pasmo, olhando para ela e pensando que aquilo nunca, mas nunca mesmo, ocorreria no Brasil. E não foi só essa vez. Fato semelhante me ocorreu anos depois numa outra loja. Coisa de primeiro mundo.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Boy alone


Na verdade, é o que acabei de ler. Terminei ontem, a tempo de deixá-lo para o meu irmão. Não tenho esse apego todo por livros. Se for me servir como referência para o meu trabalho, guardo; senão, passo para a frente. Espaço para livros está em falta lá em casa.

Mas já ia me esquecendo do livro. Boy Alone é a história de um garoto autista contada pelo irmão. É uma perspectiva interessante, que me cativou muito. A história é bem contada e a recomendo para quem enfrenta na família problema semelhante.

O próximo livro da lista provavelmente será o último de crônicas do Verissimo, uma leitura leve, rápida, que desopila o fígado.

http://www.amazon.com/gp/product/0061136662/ref=s9_simz_gw_s4_p14_i1?pf_rd_m=ATVPDKIKX0DER&pf_rd_s=center-1&pf_rd_r=0FXQ3323QEZPJ3F5ZFR2&pf_rd_t=101&pf_rd_p=470938131&pf_rd_i=507846

http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/resenha/resenha.asp?nitem=2636250&sid=00101756211825756264639711&k5=166A97D4&uid=

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Para ver a Seleção

Nestes tempos de futebol globalizado, em que o futebol das grandes seleções se tornou um produto e à CBF resta apenas o direito de vetar os amistosos escolhidos por outrem, nos toca, por exemplo, assistir pela TV aos nossos craques enfrentarem um país sem tradição, num estádio que acomodava uns nove, dez mil torcedores e nem cheio estava. O principal interessado, o povão brasileiro, mais uma vez ficou a ver navios.

Sou do tempo em que as seleções européias vinham jogar os amistosos aqui, num estádio com nome terminado em “ão”, n'alguma capital do Nordeste, sob um calor senegalês. Os gringos, acostumados com o frio europeu, mal tinham gás para um tempo e aí era goleada do Brasil na certa. Hoje, a Seleção só vem aqui nas eliminatórias da Copa. E tome ingresso caro. O futebol, a alegria do povo, virou coisa de gente abastada, que pode pagar uma pequena fortuna por um ingresso.

E na Copa de 2014, vai ser ainda pior. Estive em Curitiba na semana passada e visitei a Arena da Baixada, o estádio do Atlético Paranaense, considerado o mais moderno do país. A mocinha que serviu de guia durante a nossa visita comentou que a previsão é de o ingresso mais barato para os jogos da Copa na Baixada custar uns 400 reais. Quem quiser ver um jogo da Copa no Brasil sem ter que recorrer a favor de ninguém, pode começar a fazer uma poupança e a torcer pela sorte. É bem possível que, mesmo com dinheiro suficiente no bolso, se consiga entrar no estádio.

A importância da revisão

Pouquíssimas coisas são mais úteis para formar um bom tradutor do que revisar e ser revisado. Revisão deveria receber um enfoque bem maior nos cursos de tradução. É um baita exercício, em que muitas vezes vemos erros que não cometemos e, ainda melhor, vemos erros que cometemos sem nem nos darmos conta deles. Aprendi muito revisando e sendo revisado nos meus sete anos e meio de FMI. Aprendi também a ser grato aos meus revisores. Você trabalha um pouco mais tranqüilo sabendo que, se passar alguma coisa -- e vão passar algumas coisas –-, um outro par de olhos vai detectá-las (por vezes nem todas, mas são os ossos do ofício). Mas não devemos confundir essa tranqüilidade com relaxo: "Ah! Faço de qualquer jeito mesmo que depois o revisor conserta." Desafortunadamente, esse tem sido o modelo com base no qual muita gente trabalha hoje em dia.

Twitter (2)

Agora as minhas atualizações do Twitter estão no blog também. Dêem uma olhada aí na direita, abaixo dos marcadores.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Diplomacia e erros de tradução

Adoro casos como este. Corre o mundo a notícia de que a Secretária de Estado americana, Hillary Clinton, foi descortês com um estudante congolês ao ser indagada sobre a opinião de Bill Clinton sobre uma determinada questão.

Recebi um texto há pouco explicando que, na verdade, tudo decorreu de um erro do intérprete. O jovem congolês perguntou, em francês, qual era a opinião do presidente, e o intérprete, sabe Deus por que cargas d'água, mandou lá um "What does Mr. Clinton think?", misturando (ex-)presidente Clinton com presidente Obama. Claro, para começar, ele não deveria nem ter mencionado o nome do presidente, fosse ele quem fosse, mas isso são outros quinhentos.

É uma pena que esses episódios sejam logo esquecidos, pois servem para mostrar que uma tradução ou interpretação mal feita pode ter um resultado desastroso.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Tradução para legendas (2)

Dia destes critiquei a tradução de um filme que fui ver com a Érica. Infelizmente, não tinha exemplos para ilustrar a minha bronca.

Domingo à noite formos ver Inimigos Públicos, o filme em que Johnny Depp interpreta John Dillinger, um dos maiores bandidos americanos da época da Grande Depressão. A tradução não comprometeu, embora, como tantas outras traduções de filmes, em certos momentos poderia ter sido mais natural e menos presa ao inglês original. Dessa vez, consegui guardar um exemplo.

Numa das fugas de uma prisão, um dos guardas postados numa das torres de observação avista os prisioneiros e grita, "there they are". Nossa tradutora, cujo nome não recordo, saiu-se com, "ali estão". Tudo bem, é uma tradução possível do que foi dito em inglês, mas será que alguém diria isso? Já que os bandidos estavam correndo (eles estavam fugindo, oras!), por que não algo mais natural como, "lá vão eles"? Não é exatamente o que foi dito em inglês, mas é o que provavelmente diria um falante de português naquela mesmíssima situação. Ali estão? Tenho cá minhas dúvidas...

Gosto de tradução que não sabe ao original. Não aprecio muito esse negócio de trazer o universo estrangeiro para o universo do leitor da língua de chegada. Claro, não dá para generalizar e há diferentes estilos e tipos de texto, que exigirão maior ou menor fidelidade à letra do original. Se você estiver traduzindo um contrato, nada de se arvorar a omitir, acrescentar ou embelezar. Vai dar bode na certa. Mas, sempre que posso, me agarro à regra: "O que diria um falante de português nessa situação?".

Eu ia falar também sobre palavrões nas legendas, mas fica para outro dia. Agora é banho e cama.

Somos atrasados mesmo

O Estadão de domingo trazia uma entrevista com o Diretor do Departamento de Física da USP de, se não me engano, São Carlos. Ele é candidato à reitoria da universidade. Ao ser indagado sobre a possibilidade de obter doações de ex-alunos, uma promessa de todos que assumem o cargo, ele respondeu, para o meu espanto, o seguinte: tão logo o aluno se forma, a USP apaga dos seus registros o e-mail do aluno. Dá pra acreditar? E estamos tratando da melhor da universidade do Brasil.

Enquanto isso, ao norte do Rio Grande, é praxe as instituições de ensino superior manterem contato com quem passou pelos seus bancos. Um dos meus ex-chefes, ao se aposentar, me pediu que cuidasse por um tempo da correspondência dele. Até hoje recebo, correspondências de duas das maiores universidades dos EUA endereçadas a ele. Uma delas envia uma revista de primeiríssima qualidade, só para ilustrar, impressa num papel melhor do que o de qualquer revista vendida em banca aqui na Pindorama.

E a USP apaga os e-mails. Somos atrasados mesmo.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Serviço de primeira

Estou rodando em São Paulo no carro da minha cunhada, a quem sou extremamente grato, pois alugar um carro aqui no Brasil não é para qualquer bolso. Hoje fui atrás de uma oficina para resolver um probleminha nesse carro. O acendedor de cigarro não estava funcionando, o que me impedia de usar o GPS ou carregar o iPhone.

Fui a uma auto-elétrica aqui perto da casa do meu sogro. Um rapazinho entrou no carro, fez uns testes e rapidamente diagnosticou o problema. Não era um fio solto como havia sugerido a concessionária, mas apenas um fusível queimado. Trocou e não queria cobrar nada por isso. Se fosse nos EUA, só para entrar no carro me cobraria umas 50 pratas.

Na terra do Tio Sam é assim: Ou você aprende a consertar tudo ou você é muito rico. Como o meu talento para estragar é infinitamente maior do que a minha capacidade de consertar, fico apertado. Nessas horas, o bom é estar no Brasil, onde os serviços ainda são baratos, talvez mais baratos do que deveriam, sobretudo do ponto de vista de quem os presta e deles depende para subsistir.

Quanto ao auto-eletricista, dei-lhe uma garça e ele saiu satisfeito. Ganhamos todos.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Erramos

A empresa a que me referi ontem no texto Tradução para legendas se chama Central de Traduções e não Central de Textos.

Tradução para legendas

Voltamos do cinema há pouco. Fomos assistir a um filme água com açúcar chamado "A Proposta", estrelado pela Sandra Bullock. Não tem jeito: passo quase um ano e meio longe do Brasil e, ao voltar mais uma vez, constato que a qualidade da nossa tradução para legendas continua insatisfatória. Não existe tradução perfeita e será sempre possível encontrar formas de melhorar uma tradução. Contudo, vários dos erros nas legendas do filme poderiam ser considerados imperdoáveis.

Fiz tradução para legendas uma única vez, ainda na universidade, mas estou familiarizado com o processo e sei das dificuldades. O tempo é curto, o espaço também, e as demais condições de trabalho estão longe das ideais. Não é bolinho. Mas certos erros revelam a imperícia e o desconhecimento de quem está traduzindo. E eu lá me dividindo entre curtir o filme, comer pipoca, tomar Coca-Cola, acarinhar a Érica, tomar nota mentalmente das boas escolhas do tradutor (sim, as há) e buscar soluções melhores para as traduções que me desagradam. Naturalmente, procuro sempre contar os caracteres da tradução do colega e da minha, pois qualquer sugestão precisa caber naquele espacinho lá.

E no meio disso tudo, acabo me perguntando: "Será que os espectadores não se perguntam em algum momento o porquê de os personagens falarem daquele jeito estranho?" E o pior, imagino, é que provavelmente não o fazem. Antes que eu me esqueça, os responsáveis desta vez foram uma empresa chamada "Central de Textos".

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Programa paulistano

Cheguei ontem a São Paulo. À noite, já fui fazer um programa bem paulistano: ir ao Pacaembu ver o Corínthians. Na verdade, queria ver era o Ronaldo. E o gordo, como até mesmo a torcida do Corínthians o chama, correspondeu. O Sport, abriu o placar logo no início, mas o gordo foi lá e meteu dois de cabeça, que não é lá a especialidade dele, vejam só. Apesar da reação do Sport, que chegou a buscar a igualdade em 3 x 3, o “Timão” acabou conseguindo um suado 4 x 3. Vale notar que fui ao jogo com o meu cunhado, são-paulino. O pobre disse que foi uma experiência terrível e que nunca mais senta numa arquibancada para ver um jogo do Corínthians. Para mim foi normal, mas até entendo a queixa dele: não sei se eu teria paciência para ir a São Januário ver o “time da colina”.

Agora já estamos planejando pegar a estrada e descer a serra. Vamos à Vila Belmiro ver Santos x Internacional. Só vai ficar faltando o Parque Antárctica, onde já vi show de rock, mas pelada não.





sábado, 11 de julho de 2009

Tradução: cursos, ferramentas e o nosso maltratado português

Artigo redigido como comentário ao texto publicado no blog Tradutor Profissional, do Danilo Nogueira, um velho amigo e colega de profissão.

Sou egresso do curso de tradução da UnB, onde me formei em 98. Um ano depois, passei lá quatro semestres como professor. Até hoje, minha mãe não se conforma que, o curso da UnB, à semelhança de tantos outros pelo Brasil afora, não aplique uma prova de habilidade específica para peneirar os candidatos e permitir que só faça o curso quem realmente está habilitado linguisticamente a fazê-lo. O problema é que, a maioria dos candidatos ficaria nessa peneira e, ao fim da seleção, não haveria candidato suficiente para preencher todas as vagas. O que ocorreria? Após alguns anos o MEC fecharia o curso por falta de demanda. É, de certa forma, uma questão de sobrevivência.

Mas aí o curso sobrevive com um material humano abaixo, bem abaixo, da média. Um material humano que força os professores a nivelar por baixo. Quantas vezes eu me vi em situações em que poderia ter dado uma aula mais puxada, mais aprofundada para o benefício de uma meia dúzia que teria condições de absorver o conteúdo. Mas e os outros 12 ou 15 alunos? Eu me lembro de alunos que cometiam os mesmos erros, erros básicos, coisa que me haviam ensinado quando fiz o meu concurso para o Colégio Militar em 82. Apesar dos comentários e correções do professor, passavam o semestre inteiro cometendo vários dos mesmos erros. Um ano e meio depois, no meu último semestre como professor, lá estavam alguns desses alunos numa turma minha. E adivinhem? Aqueles velhos erros não haviam ficado pelo caminho.

Infelizmente, essa é a realidade do ensino brasileiro. Não é apenas culpa do professor universitário. É culpa de todo o mundo: do aluno que não se interessa (há uns poucos que se interessam), do sistema educacional, que necessita de melhorias urgentes, e dos professores, que ficam sem saber o que fazer ao se deparar com falhas gritantes que deveriam ter sido corrigidas na série ou nível anterior. Fazer o quê? Uma reprovação em massa? Enquanto não melhorarmos a situação lá na nascente, a água vai continuar chegando cada vez mais turva na foz. Mas que fique bem claro, essa insuficiência é generalizada. Está difícil encontrar quem saiba português e matemática, o mais básico, em qualquer profissão.

Quanto ao pecado de formar profissionais da tradução sem ensinar a usar ferramentas de tradução assistida por computador, acho que não é bem por aí. Há tantas coisas que aqueles jovens precisam aprender antes de travarem contato com Trados ou DV. Muitos não sabem nem redigir direito. Sim, está cada vez mais difícil arranjar trabalho se você não usa ferramentas de tradução, mas não é impossível. Se o cara não faz uma boa tradução nem com papel e caneta, não vai ser o Trados que vai resolver os problemas dele. Para deixar bem claro, num mundo perfeito, um bom curso de tradução deveria ensinar o uso de ferramentas de tradução, mas o que temos hoje em dia nos cursos por aí está bem longe da perfeição. Só não vale depreciar as universidades e faculdades porque, repito, a culpa não é só delas.

É bom dar uma olhada no perfil de quem ensina nos cursos de tradução. Muitos dos professores não atuam como tradutores ou atuam num mercado bem distinto do nosso, do mercado da tradução comercial, dos clientes internacionais. São simplesmente pesquisadores, gostam da teoria ou até mesmo têm ojeriza à prática. Para eles ainda é possível ignorar essas ferramentas (mas não por muito tempo). Assim, não há como esperar que venham a falar sobre elas.

Vale ressaltar também o que os alunos procuram no curso. São poucos os que saem de um curso de tradução e vão efetivamente trabalhar como tradutores. Há muita gente formada em tradução dando aula de inglês. Muitos o fazem para se manterem enquanto a carreira de tradutor não engrena, mas há quem fique o resto da vida como professor. Outros seguem o rumo da pesquisa. Minha mulher, por exemplo, formou-se em tradução na UNESP Rio Preto, mas não quis saber de traduzir. Enveredou-se por um mestrado e um doutorado em áreas conexas à tradução, mas recusa-se peremptoriamente a traduzir. Sempre que tento convencê-la, já puxa uma estaca da gaveta e a aponta para o meu peito.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Twitter

Estou no Twitter (jvdepaulo). Não vejo ainda muita utilidade naquilo, mas comigo não tem essa de não comi, não gostei. Vamos ver que bicho dá.

O alto custo da medicina nos EUA

Num dia desses a Érica foi fazer uma pequena cirurgia na boca para remover dois pedacinhos de tecido que, segundo o dentista, poderiam evoluir para um tumor. Chegou aqui me contando como foi a aventura. A cirurgia era simples e ela estava tranqüila, mas foi chegar lá que se assustou. Montaram um aparato que impressionava qualquer um. Meteram-na numa cadeira e conectaram-na praticamente à mesma parafernália que usaram quando ela deu à luz a Clarissa e o Rodrigo: monitor cardíaco, aquele breguete na ponta do dedo para medir a oxigenação e por aí vai. Além do médico, havia duas enfermeiras na sala e perguntaram a ela se preferia anestesia local ou geral. Anestesia geral para queimar com laser dois pedacinhos de tecido na boca?! Tá louco! Podemos comparar a situação com uma cirurgia por que passei no Brasil, há uns bons 15 anos, para remover dois pedaços de tecido que me estavam cobrindo os molares inferiores e lhes dificultando a limpeza. Era só o meu dentista e não tinha nada de laser, não. Foi anestesia local e um abraço.

Quando se trata de procedimento médico aqui, todo cuidado é pouco. O medo permeia a relação entre médico e paciente. Mas não é medo de machucar o outro, é medo de processo. E isso encarece um bocado o serviço. Dia desses ouvia na NPR o depoimento de um médico com 25 anos de profissão. Dizia que as coisas haviam mudado muito desde que ingressara na medicina. Hoje em dia, numa cirurgia simples, de vinte minutos, contava ele, fica lá uma pessoa na sala só para anotar o que está sendo feito. No fim, ele tem umas 12 páginas para assinar. É para o caso de um erro médico. Quer outro exemplo? Um obstetra aqui na região de Washington gasta 120 mil dólares de seguro por ano. Já imaginou? Você começa a trabalhar todo o mês com um déficit de 10 mil pratas, fora os demais custos. Haja dinheiro para financiar isso tudo e o profissional acaba cobrando muito mais caro do que deveria. É por essas e outras que os Estados Unidos são, de longe, o país que mais gasta com saúde, mas nem assim têm um serviço de primeiro mundo.

Um sinal

Tenho recebido sinais de que está na hora de voltar para o Brasil. Hoje veio mais um.

Para morar aqui nos Estados Unidos, o cara tem que ser um pau-pra-toda-obra e saber consertar praticamente tudo em casa. Eu sou um zero à esquerda em termos de habilidades manuais. Se for bater um prego, o dedo vai invariavelmente levar umas marteladas.

Hoje fui desatarraxar um troço numa torneira e acabei cortando os polegares. Foram cortezinhos superficiais, nada sério, mas estou aqui com um dos dedos com um band-aid de homem-aranha, que foi o que estava à mão.

Olhando o serviço depois de feito, qualquer um perguntaria, “Mas como você conseguiu se cortar fazendo isso?” Pois é. Tá na hora mesmo de ir embora.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

4 de julho (antes tarde do que nunca)

Antes que o 4 de julho fique longe demais, dois comentários que eu acabei esquecendo. O dia da independência aqui também é dia de show de fogos de artifício. O principal, claro, é lá em DC, no Mall, mas deve ser o evento que reúne mais pessoas naquela região. Só perde, claro, para a posse do presidente. Seria uma operação muito complicada levar as crianças para lá na idade em que estão. Há quem leve, mas acho que é sofrimento demais para pouco retorno. Quando estiverem grandinhos, passamos as férias de julho aqui na terra deles e todo mundo vê o show. Resolvemos ficar aqui em Vienna mesmo e foi bem satisfatório. Eram centenas e centenas de pessoas num gramadão/estacionamento, algumas deitadas em cobertores ou toalhas de praia, outras nas suas cadeirinhas dobráveis. E o show durou meia hora. E nós deitados lá, olhando para o céu, sem pensar em muita coisa, o que de vez em quando é muito bom.

O outro comentário é apenas uma curiosidade. No 4 de julho, as pessoas aqui te desejam um “Happy 4th” ou um “Happy 4th of July”. Já imaginaram alguém no Brasil virar pra você e dizer “Feliz Dia da Independência” ou “Feliz 7 de setembro”? No começo, nós estranhávamos, mas agora já nos acostumamos. Afinal de contas, é o jeito deles…

sábado, 4 de julho de 2009

Patriotismo ou patriotada?

Eu sempre digo aos amigos aqui nos Estados Unidos que brasileiro só é patriota mesmo e veste as cores do país quando tem jogo da seleção na Copa. Não é que não sejamos orgulhosos do nosso torrão natal, mas não se vê no Brasil a necessidade de ostentar nosso amor à pátria.

Aqui nos EUA a situação é outra. De modo geral, o americano é notoriamente patriota e faz questão de demonstrar isso. Ele veste a camisa e estampa as cores da bandeira em tudo. Vejam, por exemplo, esta senhora que vi ontem no supermercado (a do meio):

A foto está meio desfocada, mas pode-se distinguir as cores e as estrelas da bandeira americana no casaco. Leitor, você tem um casaco com as cores da bandeira brasileira? Provavelmente não. E que tal estes pratos e guardanapos para o churrasco do 4 de julho?

Recentemente, organizou-se um churrasco num parque. Uma amiga brasileira e o marido americano se encarregaram de chegar mais cedo e arrumar tudo por lá. O marido aproveitou que era dia da bandeira aqui e decorou as mesas a contento:

Lembram-se da última vez em que trouxeram a bandeira brasileira para a mesa de refeição? A grande maioria no Brasil não deve nem se lembrar do Hino à Bandeira, o “Salve lindo pendão da esperança...”

É comum também ver a bandeira propriamente dita hasteada na frente das residências americanas (não num mastro vertical, mas diagonal, fixado à frente da casa). Alguém aí no Brasil tem a bandeira hasteada na frente de casa?

Já imaginaram como está isto aqui hoje, 4 de julho? E aí, é patriotismo ou patriotada? Talvez nós brasileiros pudéssemos nos espelhar um pouco nos americanos e estender o nosso patriotismo para o intervalo entre uma Copa e outra. Mas nada de exageros. Na minha forma de ver, esse patriotismo exagerado, quando bem manipulado, alimenta a beligerância americana, e a gente sabe muito bom no que dá.

4 de julho

Dia da independência dos Estados Unidos. Hoje é dia de acender a churrasqueira e encher a pança num barbeque, o churrasco deles. Há quem asse um salmãozinho, uma costela, um franguinho, mas o negócio mesmo é hambúrguer e cachorro quente. Eu não fugi à tradição, mas, evidentemente, como bom brasileiro, fiz um churrasco à nossa moda. Nada de salsicha, pão, ketchup e mostarda. Fomos de carne mesmo, só no sal grosso, arroz, vinagrete, cervejinha. Temos que seguir os costumes dos nossos anfitriões, ainda mais na data do aniversário do país deles, mas não precisa ser ao pé da letra, não é?

sábado, 27 de junho de 2009

Uma noite de sexta

Nós quatro reunidos na cozinha, pizza do nosso lugar favorito, uma garrafa de Chardonnay. Rimos, ouvimos música, as crianças fizeram a boa e velha bagunça delas.

Na hora de dormir, claro, o Rodrigo naquela animação. Entro no quarto dele e converso. Depois de um beijo de boa noite retribuído como só ele sabe fazer, digo (!!!): “Now you go to sleep, boy. You’re the coolest little kid in the whole wide world, did you know that? Sleep tight, OK? Sweet dreams." (Numa tradução livre, “Agora vamos dormir, gatinho. Você é o menininho mais bacana do mundo, sabia? Durma bem. Sonhe com os anjinhos.) E ele ficou quietinho, escutando, como se entendesse... e o pior é que entende. Dois segundo depois, estava dormindo.

Criança dá um trabalho imenso, só quem tem sabe. Mas criança também proporciona esses momentos especialíssimos... que só quem tem sabe.

Ia escrever também sobre o Clapton, mas vai ficar para amanhã que estou com sono e me faltam só umas seis páginas do Life Without Lawyers. Livro no finzinho não é coisa que se desperdice. Poucas sensações se igualam à de terminar um livro e poder ficar naquela gostosa indecisão na frente da estante: “E agora? O que eu vou ler?” Encerro com uma tira especialíssima da Hilary Price (www.rhymeswithorange.com). É uma daquelas situações que só entende quem já passou por ela.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

MJ

Já estava no seu ocaso, mas sua morte não deixa de ser uma grande perda. Soube escrever músicas pop como pouquíssimos. Entre as suas façanhas, gosto desta: Thriller vendeu mais de um milhão de cópias... só em Los Angeles. Se você parar pra pensar, não é pouca coisa não.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Copa das Confederações

Que beleza a falta batida pelo Daniel Alves! O Joel, raposa velha, quase apronta pra gente, mas não deu. Acredito que teremos vida mais fácil no domingo.

Agora, para ficar tudo certo, só falta a FIFA proibir aquelas cornetas na final de domingo e no ano que vem, na Copa. Tenham dó, vai?! Aquele zumbido o jogo inteiro enche o saco!

Xô, advogados!!

Life Without Lawyers é uma beleza de livro! Mostra de forma bem imparcial e objetiva um dos mais graves males, senão o mais grave, de que padecem os Estados Unidos. O advogado Philip Howard revela como a falta de bom senso e a forte inclinação dos americanos para o litígio dificultam a vida em um país doente e afetam desde as atividades mais comezinhas, como ir ao médico ou levar o filho para brincar na rua, até o ensino e as relações empregatícias. Este vai ser o meu assunto nos próximos dias.

João Vicente x Salvador Cabañas

Quem me conhece sabe bem que eu adoro a natureza. Sério! Adoro a natureza lá no lugar dela e eu aqui no meu lugar. Em inglês fala-se em “the great outdoors” para referir-se à maravilha que é estar ao ar livre, em contato com a natureza. Pois eu sempre digo: “I love the great indoors.” Escalada, caminhada no meio do mato, pescaria. Eu tô fora! Nada melhor que ficar no fresquinho do ar condicionado lendo um bom livro. Tudo bem, para não me chamarem de intransigente, pode ser na beira da piscina ou na praia. Mas falando em natureza, ela veio haver-se comigo aqui no meu quintal num dia desses.

Na sexta-feira, 5 de junho, pegamos a estrada e fomos visitar alguns lugares no nordeste dos EUA. Passamos seis dia fora e, na volta, encontramos um hóspede: uma marmota (groundhog ou woodchuck, em inglês) havia se instalado ali fora. Fizera um buraco perto de uma árvore e já tinha cavado um bocado, pois já havia um monte de terra considerável do lado de fora. Após observar o bicho por alguns minutos, resolvi batizá-lo de Cabañas, em homenagem ao centroavante gordinho e chato da seleção paraguaia. O “bicho”, como Clarissa e Rodrigo passaram a chamá-lo, se encaixava bem nessa descrição.

Cabañas passeando ao sol

Telefonei para o governo local, para a área que cuidava de animais e zoonoses, para saber se não viriam apanhar o Cabañas e levá-lo embora. Negativo. Só viriam se o bicho estivesse dentro da minha casa e, obviamente, eu não estava disposto a deixá-lo entrar. Liguei para uma firma especializada na remoção de animais e se comprometeram a vir olhar o serviço. No dia seguinte, sábado, veio a cacetada: o orçamento foi de 350 dólares. Imaginava que fosse caro, pois serviço nenhum aqui sai barato, mas 350 pratas para dar um fim no Cabañas era um pouco demais. Mas ficou acertado que viriam na segunda-feira de manhã.

Passei o fim de semana pensando numa maneira de evitar pagar aquilo tudo. Cheguei a abrir o portão lá fora, na esperança de o meu convidado resolver ir dar uma volta pela rua e aí eu correr e fechar-lhe o portão no focinho. Ele é bicho, mas não é burro, claro, e não caiu nessa. Nesse meio tempo, Clarissa me implorava que não fizesse mal ao “bicho”. No domingo, conversei com um amigo e ele me disse que a solução era mais simples do que eu imaginava. Era só comprar uma jaula/armadilha por umas 50 pratas no Home Depot, colocar meia maçã lá dentro e esperar. Antes que eu me esqueça, havia dado um jeito nas costas na quinta-feira anterior e mal podia andar. A idéia de, naquelas condições, ir caçar uma marmota fedorenta (segundo o meu amigo) e possivelmente raivosa e pulguenta não me agradava nem um pouquinho, mas todo o mundo tem seu preço. A perspectiva de economizar 300 pratas mexeu com os meus brios e resolvi topar a parada. Na manhã seguinte, liguei para a firma e cancelei o serviço. Assim que melhorasse das costas, eu mesmo despejaria o Cabañas.

O embate tardou um pouco mais do que devia porque precisei ir a Boston. Mas no último sábado, no fim da tarde, comprei a jaula e preparei tudo direitinho. Seguiu tudo conforme o roteiro. Por volta das 11 da matina o Cabañas já estava enjaulado. Não poderia soltá-lo aqui por perto porque as marmotas normalmente voltam para a sua última residência. Enfiei a gaiola num saco, forrei o porta-malas do carro com saco plástico e jornal (vai que o bicho me resolve fazer uma besteira lá no carro) e o levei embora, deixando a 66 e o Beltway entre ele a nossa casa. Abri a jaula perto de um parque e ele relutou, mas acabou saindo num pique sem nem agradecer a acolhida das últimas duas semanas. Por via das dúvidas, a jaula está lá fora preparadinha para o caso de o Cabañas ter deixado para trás um parente. Felizmente, até agora nada, mas ainda me toca consertar o estrago que ele fez. Vou ligar para uma firma de jardinagem que deixou o cartão aqui na porta outro dia. Só espero que o serviço não saia caro porque senão…

Cabañas devidamente enjaulado e, ao fundo, o monte de terra que cavou para fazer sua toca.