segunda-feira, 26 de julho de 2010

Criticar é fácil

É perfeitamente compreensível que os brasileiros que acompanham a Fórmula 1 e torçam por nossos pilotos estejam chateados com a cachorrada perpetrada ontem na Alemanha. Mas os tempos mudaram, o esporte não é mais aquele de Émerson, Piquet e Senna. A maioria está criticando o Felipe Massa injustamente, está empurrando um bêbado ladeira abaixo. Bater em quem não pode se defender é muito fácil. Nessas horas, algumas coisas passam despercebidas.

Não se pode criticar sem estar a par de tudo o que ocorre. Alguém já viu o contrato que a Ferrari firma com seus pilotos? Deve conter cláusulas estabelecendo que a equipe deva ser colocada em primeiro lugar. Imagino que, se o piloto não obedecer, corre o risco de pagar uma multa polpuda e até de perder o emprego. Deve ser fácil conseguir outro posto numa equipe de ponta da F1. Há tantas, não é? E são tão poucos pilotos. Dirigir um carro daqueles é um privilégio e o piloto se vê obrigado a aceitar muita coisa para fazê-lo.

Cria-se uma situação desconfortável, claro. O piloto quer ganhar a corrida, mas tem de respeitar o contrato que assinou, ou seja, tem que engolir esses sapos. Quem nunca teve vontade de ir lá e dizer umas poucas e boas para o chefe? Fácil, não é? Mas o teu emprego, o dinheirinho que você leva para casa no fim do mês, é mais importante. Você pensa bem, engole em seco, e baixa a crista. Isso também ocorre em casa, nos relacionamentos, amorosos ou não. Faz parte da vida. Mas sempre aparecem os inconsequentes para criticar a falta de coragem. É o que estamos vendo.

O grande problema é que nós torcedores nos iludimos achando que as corridas são decididas tão somente no braço de cada piloto. Há dinheiro e interesses demais envolvidos. As críticas deveriam ser dirigidas à Ferrari e a quem organiza o esporte, que permite essas cachorradas e não faz as regras serem cumpridas. Se não é para ter jogo de equipe, que não haja. A solução para a vergonha de ontem deveria ter sido a pronta desclassificação da Ferrari, o que puniria indevidamente o Massa, mas antes assim. Que se dê o exemplo para que não ocorra de novo. Mas não vai ser o caso. O todo-poderoso da FIA é o francês Jean Todt, ex-dirigente da Ferrari. Vai acabar em pizza... à italiana.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Emprego a dar com pau

Estava eu aqui pensando com os meus botões: se o governo conseguir iniciar e tocar todas as obras previstas para a Copa e as Olimpíadas, não vai haver peão que chegue. Vão pegar gente em tudo que é lugar para trabalhar nas obras. Se bobear, vamos precisar importar peão do mundo inteiro. Se você está desempregado, faça um curso de pedreiro, de mestre de obras, e fique de olho nos classificados. Emprego é que não vai faltar. Enquanto isso, vou me preparando para ver a Copa na Inglaterra, o plano B da FIFA.

Ideia de jerico

Autoridades paulistanas querem cadastrar os flanelinhas e guardadores de carro da cidade. É a mais completa ideia de jerico. Querem dar caráter oficial a uma atividade ilegal que nada mais é do que uma transferência de renda sob coação, uma extorsão. , ou seja, um crime. Por que, ao estacionar em área pública, tenho que dar dinheiro a um sujeito que está na rua dizendo que vai “tomar de conta” do meu carro? Ele vai se responsabilizar legalmente e financeiramente se ocorrer algo com o carro? Não vai. Isso não é coisa de país civilizado. Vai um sujeito ficar na rua cobrando para as pessoas poderem estacionar lá nos EUA, por exemplo. Vai preso por vagabundagem.

Na verdade, existe lei federal, de 1975, que prevê a profissão do flanelinha, vejam só. São os “guardadores e lavadores autônomos de veículos automotores”. Após registro e o cumprimento de algumas exigências, o sujeito pode exercer a profissão. Tem mais: o pagamento pelo serviço é opcional e o flanelinha é responsável pelo carro e pelos objetos nele deixados. Uma coisa dessas só funciona na cabeça dos nossos legisladores. É o que mencionei no artigo das sacolas. Criam-se leis estapafúrdias que, na prática, são difíceis ou impossíveis de serem cumpridas. Quem vai fiscalizar o cumprimento dessa e de outras leis? Ah, Brasil!

A lei das sacolas plásticas

É ponto pacífico que as sacolas plásticas, quando descartadas sem qualquer cuidado, provocam danos ao meio ambiente. Qualquer iniciativa para conter esse problema é bem-vinda, mas tenho minhas dúvidas quanto à lei que passou a valer no Rio na semana passada. Para mim, ela cria obrigações demais, será de difícil cumprimento e vai ser mais uma das tantas leis que não vai pegar. Será mais uma prova de que nós brasileiros pegamos uma boa ideia de fora, mas metemos os pés pelas mãos na hora de colocá-la em prática.

Fundamentalmente, a nova lei obriga os comerciantes do estado do Rio a deixarem de oferecer sacolas plásticas. A pergunta que vem logo à mente é: como os consumidores vão levar as compras para casa? O brasileiro até leva uma sacola, bolsa, carrinho quando vai à feira ou a uma quitanda, mas ainda não tem esse costume quando vai ao supermercado. É um habito que vai levar algum tempo para ser adotado, imagino. Eu, por exemplo, tenho duas bolsas no carro, mas quase nunca me lembro de levá-las para o supermercado quando vou fazer compras.

A lei tem detalhes que tornam seu cumprimento difícil. Caso o comerciante não se enquadre, está previsto que o consumidor que levar uma bolsa de casa tem direito a três centavos de desconto a cada cinco itens que comprar e que 50 sacolas, em qualquer estado, podem ser trocadas por um quilo de feijão ou arroz. Vai se criar a indústria da caça ao saco. Além disso, os comerciantes são obrigados a afixar placas educativas no seu estabelecimento explicando que as sacolinhas levam até 100 anos para se decomporem no meio ambiente. E claro, há uma multa, e como não, que vai de 200 reais a 20 mil reais para o comerciante que cumprir a lei. Confusão demais para o meu gosto.

Não acho que as sacolinhas, sobretudo as de supermercado, devam ser abolidas, pois já fazem parte da nossa cultura. Atire a primeira pedra quem não as usa para colocar naquele lixinho da cozinha ou no lixo do banheiro. Nos Estados Unidos, elas realmente se acumulam e ficam sem uso, pois normalmente o recipiente para o lixo é bem maior e vai no armário embaixo da pia. Concordo que trazemos bem mais sacolas do supermercado do que realmente precisamos, mas aí é só reciclá-las. Ou seja, o problema maior não é o uso que você faz das sacolas, mas sim como você se desfaz delas.

Outro ponto importante é que vão fiscalizar o cumprimento da lei. Brasileiro gosta desse negócio de fiscalização. É bem tupiniquim ser fiscalizado Precisamos ter alguém fungando no nosso cangote, olhando se não estamos fazendo alguma coisa errada, pois não sabemos andar na linha sem que alguém nos discipline. O pior é que certamente não haverá fiscais suficientes e logo esse ímpeto fiscalizador passa. Vai tudo voltar a ser como era antes e terão sido gastos recursos e energia à toa. Já vimos esse filme mais de uma vez.

Se eu fosse dono de supermercado, estaria furioso. A grande maioria das obrigações recai sobre quem vende. Vão ter que designar funcionário para receber as sacolas e contá-las, arranjar um lugar para guardá-las, educar os consumidores por meio das tais placas. A impressão que me dá é que fazem essas leis sem parar para pensar nas consequências na prática. Isso me lembra a lei recente que estabelece que as crianças até determinada idade devem andar no carro presas numa cadeirinha própria. Aprovaram a lei, mas não olharam antes se o mercado comportaria essa mudança. Foram forçados a suspendê-la.

Por que não seguiram o exemplo dos Estados Unidos? Em Washington, por exemplo, adotaram uma solução bem simples: cobrar cinco centavos por sacola. Claro, um bom tempo antes da imposição da cobrança, os supermercados passaram a oferecer bolsas reutilizáveis que o consumidor podia adquirir e, assim, fazer a sua parte. Criou-se uma única obrigação para o comerciante: contar quantas sacolas o consumidor levava para casa. E ainda se tem a vantagem de “fazer doer no bolso das pessoas”, o método mais fácil para forçar alguém a abandonar um mau hábito ou a adotar uma nova prática.

Infelizmente, mais uma vez começamos com o pé esquerdo. Agora é torcer para que, os demais estados ou o governo federal, caso este deseje fazer uma lei única para as sacolas plásticas, mirem o que foi feito no Rio e tentem fazer diferente. Claro, vai haver uma grita geral no começo (além de pagar pelas compras, tenho que pagar pelas sacolinhas?!), mas isso num instante se ajeita e o povo toma consciência do problema e adota a nova solução. É esperar para ver.

Um primor de texto

De perto ninguém é normal, já dizia Caetano. Tenho cá minhas esquisitices também. Uma delas é guardar jornal. Mas como assim? No fim do dia, não jogo o jornal fora se eu não o tiver lido. Guardo para ler quando puder. Na verdade, não leio o jornal exatamente por causa das notícias. Gosto dos comentários, das análises, dos editoriais. Ali está o melhor do jornal. Afinal de contas, nos dias de hoje é mais rápido receber as notícias pela Internet e pela TV. Mas com essa mania, às vezes se acumula uma pilha grande, da qual não me desfaço sem pelo menos dar uma passada de olho para ver se está indo embora algo importante. Sabe que vale a pena? Na terça-feira à noite, encontrei uma maravilha de crônica do João Ubaldo Ribeiro publicada no Estadão de domingo. Um primor de texto. Se eu simplesmente tivesse me desfeito do jornal, nunca teria lido aquela beleza. Bom, para quem ainda não leu, dê uma olhada aqui e se delicie.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Bairrismo

Vai um exemplo da rivalidade entre paulistas e cariocas? Concluída a nona rodada do Campeonato Brasileiro, Flamengo e Cruzeiro estão empatados em pontos, número de vitórias, saldo de gols e gols marcados. Se você olhar a tabela, por exemplo, no G1 (da Globo, carioca), o Flamengo aparece em quarto e o Cruzeiro em quinto. Já no caderno de esportes do Estadão, a chamada do artigo diz: "Fla bate lanterna e Cruzeiro chega ao G-4". Quem está certo? O G1. Se o campeonato acabasse hoje, o atual campeão brasileiro ficaria à frente e iria para a pré-Libertadores porque tem menos cartões vermelhos do que o time de Belo Horizonte. Mas, claro, o Estadão, um jornal de São Paulo, ignora os critérios de desempate e põe lá um time mineiro na frente do carioca. Encher a bola de um time do Rio é que eles não encheriam, naturalmente. Pequenez, ainda mais porque já é a segunda rodada seguida em que isso ocorre.

Nota: Acabei de notar que, na tabela, o Estadão colocou o Flamengo acima do Cruzeiro, embora empatados em quarto. Não está perfeito, mas dá pra passar.

sábado, 17 de julho de 2010

Tradução, apenas um serviço (1)

Na sexta-feira da semana passada, feriado de Nove de Julho aqui no estado de São Paulo, estivemos no Shopping Iguatemi. Passamos na Livraria Cultura e a Érica aproveitou para encomendar uns livros de que precisará para ministrar um curso neste semestre que se aproxima. A Cultura nos avisaria quando os livros chegassem para podermos apanhá-los (eu sei, eles também poderiam mandá-los para nossa casa, estamos cientes dessa opção, mas isso não vem ao caso). Aproveitamos a ocasião para comprar uns outros livros e já deixamos os da Érica pagos. Bastaria a ela trazer o comprovante para apanhá-los.

Na quarta-feira precisei ir ao Iguatemi para resolver outro assunto. Estava sem o referido comprovante, mas achei por bem dar um pulo na Cultura e ver se conseguia eu mesmo apanhar um dos livros, que já havia chegado. Fui à seção onde ficam os livros reservados e, para a minha surpresa, a funcionária me permitiu levar o livro. Bastou apenas me identificar e passar no caixa para desmagnetizar a etiqueta. Que maravilha! Mais uma vez eu ia à Cultura e saía de lá satisfeito. Para falar a verdade, não me lembro de uma vez sequer em que saí de uma loja deles tendo do que me queixar.

Mas por que estou contando essa história? Será que a Cultura está pagando um jabazinho ao João Vicente? E que raios isso tem a ver com tradução e com o título? Tem muito a ver. Estou iniciando com este texto uma série em que tento traçar paralelos entre a tradução e os mais diversos serviços prestados por aí. Já tenho mais dois ou três na manga e, certamente, outros virão. Afinal, na essência, a tradução guarda semelhanças com qualquer outro serviço. Nos parágrafos seguintes, quero me concentrar na satisfação do cliente.

Nosso mercado é disputado e a concorrência é grande. Para sobressair, não basta fazer a tradução direitinho e entregá-la no prazo combinado. Isso é o mínimo que se espera. É preciso ir mais longe, é preciso provocar no seu cliente sensação semelhante à que a Livraria Cultura me provocou. Da mesma forma que sempre volto à Cultura quando preciso de livros, o cliente satisfeito também voltará ao seu escritório, seja ele um cliente direto ou uma agência. Essa satisfação pode assumir diversas formas, mas destaco duas com base na minha experiência na quarta-feira.

Primeiro, a mais simples: a livraria resolveu o meu problema. Quando o cliente tem um problema, no nosso caso, a necessidade de ter um documento traduzido, o que ele mais quer é que lhe encontrem uma solução. Se for um problema sério, a solução vem para o primeiro plano e outros aspectos importantes, inclusive preço, podem até se tornar secundários. Segundo, a livraria resolveu meu problema de maneira fácil e rápida. Saí de lá naquele dia pensando “como é fácil trabalhar com esse pessoal”. Ora, quem não gosta de facilidade?! Cliente não quer aborrecimento, não se esqueça. No seu trabalho diário, almeje essa facilidade sempre, pois ela pode fazer a diferença na hora de perder ou manter um cliente. Até a próxima.

E a Copa se foi (não exatamente)

Junho e este início de julho foram meses bastante atribulados para mim. Quase uma semana depois da derradeira final, a maioria não quer mais saber da Copa, mas eu não poderia deixar de fazer meus comentários finais.

A Espanha mereceu ser campeã, embora não tenho jogado um futebol de primeira. É um time eficiente e deu para o gasto diante de uma seleção holandesa que entrou mais disposta a bater do que a jogar bola, lembrando a Holanda do primeiro tempo contra o Brasil. Durante todo o torneio, a Espanha não chegou a empolgar, mas não tomem isso como despeito ou choro de mau perdedor. Deixo essa distinção para o nosso presidente, que deveria ter ido à final da Copa, mas não o fez simplesmente porque o Brasil havia sido ejetado antes. Feio, descortês. Um chefe de Estado não faz isso.

No geral, não vou guardar lembranças boas desta Copa. Como positivo, destaco a escolha justíssima do uruguaio Forlán como melhor jogador do torneio, pois ele carregou o time nas costas durante todo o mundial. A grande decepção ficou por conta da Alemanha. Depois de apresentar um futebol de encher os olhos e golear Inglaterra e Argentina, os alemães se esqueceram de jogar contra a Espanha. Mas vai ficar mesmo na lembrança a má arbitragem. Não me lembro de uma Copa com tantos erros dos juízes e bandeiras. Que a FIFA tome uma providência e modernize o futebol.

Mas como indiquei no título, o assunto Copa não vai desaparecer. A Copa da África se foi, mas a Copa de 2014, a nossa Copa, vamos ouvir falar dela à exaustão até a bola efetivamente rolar. Infelizmente, até agora é só notícia ruim. Estamos com tudo atrasado, mas parece imperar a ideia de que “se os africanos conseguiram a gente também consegue”. Para ficar aqui na região, São Paulo, a maior, mais importante e mais rica cidade do país, ainda não sabe se terá o jogo de abertura. O Morumbi está descartado, o estádio que o Corínthians planeja construir é pequeno e, tudo conspira contra, o terreno onde querem construir o “Piritubão” está contaminado e, segundo a Cetesb, seriam necessários três anos para descontaminá-lo.

Diante das críticas da FIFA, Lula, o mau perdedor, o boquirroto do Planalto, sai com quatro pedras na mão e diz que não somos idiotas, que sabemos o que precisa ser feito e que tudo estará pronto. Idiotas somos nós, que já vimos esse filme e vamos assistir a uma continuação ainda pior. Os Jogos Pan-americanos tiveram o orçamento estourado em quase oito vezes, mas mesmo assim não aprendemos a lição. Claro, é bom lembrar que gastar mais que o orçado é comum a Copas e Olimpíadas, mas oito vezes me parece demais. Tudo que é feito a toque de caixa sai mais caro. Fiquemos de olho, pois estamos a caminho de fazer a Copa mais cara da história, provavelmente mais cara do que as que virão depois.

sábado, 3 de julho de 2010

Brasil x Holanda

E veio o que ninguém queria. Por melhor ou pior que esteja a Seleção, sempre temos ao menos um fiozinho de esperança de que dá para chegar e trazer o caneco mais uma vez. Diga lá que não dava para ter esperança, ao menos de chegar à semifinal, com um primeiro tempo daqueles? Como o futebol é caprichoso. Fizemos um gol com dez minutos, após um passe magistral de quem talvez menos se esperasse, do jogador mais criticado, que em pouco mais de uma hora de jogo, foi do céu ao inferno. Precisava cumprir as nossas expectativas, Felipe Melo? Saímos para o intervalo absolutos, tínhamos a partida nas mãos (ou nos pés, diriam alguns), mas conseguimos perdê-la, jogar fora o trabalho de quatro anos, por assim dizer. Foi uma tragédia em três atos.

Na minha crônica sobre o jogo contra o Chile, deixei de mencionar um dos meus maiores temores com relação à nossa equipe. Em nenhuma das quatro primeiras partidas, havíamos jogado com o placar adverso. Tomamos um gol dos coreanos e outro dos marfinenses, mas isso não fez muita diferença porque ambas as partidas estavam praticamente ganhas. Como jogaria aquele Brasil se saíssemos atrás no placar? Historicamente, nossa Seleção não sabe jogar muito bem com um placar adverso. Ora, normalmente somos nós que marcamos primeiro. Quando saímos em desvantagem, nosso sangue latino ferve e aí a coisa fica mais difícil. Ontem, não precisamos nem sair em desvantagem para perder a cabeça.

Bastou o gol de empate, aos oito minutos do segundo tempo, para solapar a tranquilidade e a confiança dos guerreiros do Dunga. Admita-se que não foi um gol qualquer. Na verdade, o gol contra do Felipe Melo foi, isto sim, uma falha clamorosa do Júlio César, considerado por muitos, inclusive por mim, o melhor goleiro do mundo. Errou feio quem menos esperávamos que errasse. Mas não era motivo de desespero. Havíamos controlado a partida até então. Havia tempo para desempatar, marcar até mais de um gol para afastar de vez a ameaça holandesa. Porém, consumou-se ali o primeiro ato da tragédia.

Um olhar mais aguçado revelaria que a Seleção que voltou para o segundo tempo não era a mesma do primeiro. Já na saída, colocamos a bola pela lateral. Abdicamos de jogar. Com a estrutura já abalada e os jogadores nervosos, a casa veio abaixo com o segundo gol, um gol que a defesa tida como a melhor do mundo não poderia ter tomado. Numa jogada mais do que manjada, cruza-se a bola no primeiro pau para alguém cabeceá-la para trás e facilitar a conclusão de quem estiver no miolo da área. Era o segundo ato. Mais uma vez tomamos um gol de um baixinho carequinha, à la Zidane em 98. Que o próximo técnico da Seleção fique de olho em adversários com esse perfil.

Daí em diante foi só esperar o fim do terceiro e último ato. Em inglês, diz-se que uma ópera não chega ao fim enquanto a gorda não cantar. E a gorda cantou na hora em que o Felipe Melo deu a botinada no Robben. Se já estava difícil com o time completo, imagina com um a menos. Talvez, tivéssemos empatado se o Kaká houvesse passado aquela bola para o Nilmar quando o ataque da Seleção desceu num dois contra dois, ou se o Daniel Alves tivesse cobrado bem a falta como o fez no ano passado contra a África do Sul. Mas teríamos condições de segurar a Holanda com um homem a mais na prorrogação? Só os deuses do futebol sabem, mas tenho minhas dúvidas. Mas será que foi só isso? Duas infelicidades da melhor defesa do mundo e uma atitude desclassificante de um jogador puseram tudo a perder e adiaram o sonho do hexa? Não.

x – x – x

Em inglês (de novo!), diz-se que hindsight is 20/20. A ideia é que, depois do acontecido, de posse dos fatos, é muito fácil falar, criticar. Infelizmente, isso não se aplica ao Dunga. Muitas das críticas feitas antes da Copa se concretizaram. Vou me deter em duas. Primeiro, a expectativa era que o Felipe Melo faria das dele em algum momento da Copa. Dunga não percebeu que o entrevero entre seu cabeça-de-área e o Pepe na partida contra Portugal era prenúncio de que algo pior estava por vir. Segundo, perdemos a Copa na convocação. Dunga não tinha um plano B. Na hora em que precisou, olhou para trás e viu um banco pobre, sem opções. Não teve como mudar o time. É esperar que o próximo técnico leve os melhores e não os mais obedientes.

Resta o consolo de que nuestros hermanos argentinos caíram de quatro e também ficaram pelo caminho. Até 2014.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Brasil x Chile

Quase na hora do jogo com a Holanda e eu aqui ainda com a cabeça no jogo do Chile. Ando muito ocupado, com bastante trabalho, e o tempo está escasso. Parece que meu carma é ficar atolado durante a Copa do Mundo. Mas vamos ao jogo.

Diferentemente da maior parte dos cronistas esportivos, não fiquei satisfeito com o desempenho do Brasil. Junto-me ao Pelé, que afirmou que a Seleção ainda não o convenceu. Acho que o melhor jogo do Brasil foi contra a Costa do Marfim e ainda vejo o time carente em criatividade. Foram mais de 30 minutos até o gol, naquela cabeçada salvadora do Juan após o escanteio do Maicon. Até então, a Seleção pouco havia agredido o adversário.

Do lado positivo, achei que o Brasil estava mais leve, talvez pela entrada do Ramires, seguramente o destaque da partida. Ele fará falta no jogo contra a Holanda. Gostei também da zaga, que é o melhor que o Brasil tem oferecido até agora. Quem diria que chegaríamos a ver isso, numa seleção que, historicamente, sempre primou pela ofensividade e pela força de seu ataque? Os tempos estão mudando.

Apesar de não me convencer, acredito que a Seleção tem condições de passar pela Holanda. Não estamos jogando um futebol brilhante, mas já mostramos que será difícil marcar gols no Brasil e que temos poder de fogo para matar o jogo em um ou dois lances. Talvez ganhemos até a Copa com esse futebol competitivo, mas não é o que esperava ver. Sou fã do futebol bonito, bem jogado, e tá duro ver isso aí. Mas prometo tentar controlar minhas expectativas. Até a próxima.