terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Vai ser um ano longo

Vi a metade do segundo tempo da estréia do Vascão da Gama contra o Americano. A coisa está (ou continua) feia. Nesse ritmo, vai ser um ano longo para o time da Colina.

Para ser sincero, não fiquei satisfeito com o rebaixamento do Vasco no Campeonato Brasileiro do ano passado. Nenhum rubro-negro deveria. No Brasileirão, você flamenguista preferiria assistir a dois Flamengo x Vasco (casa cheia, renda polpuda e toda a rivalidade do Clássico dos Milhões) ou a dois Flamengo x Santo André ou Flamengo x Avaí? Pense nisso.

Não vi nem os gols da virada da Cabofriense sobre o Fluzão, mas gostei do resultado.

E para não dizerem que sou injusto, o Friburguense merecia melhor sorte no Maracanã. O bandeirinha anulou bisonhamente o gol ao apontar aquele impedimento inexistente. É bom notar que o casal de bandeiras cometeu vários erros durante o jogo, prejudicando tanto um lado como o outro. Mas o Fla não tem nada com isso. E vamos rumo a mais um tri.

Salgando a calçada

Até há pouco eu estava salgando a calçada. Mas peraí, que história é essa? Não seria melhor salgar uma picanha para metê-la na brasa? Seria, mas é que, sem sal lá fora, vai ser mais difícil entrar em casa depois.

A previsão do tempo para esta terça é de neve durante o dia e, da terça para a quarta, o que costumam chamar aqui de wintry mix. Esse “mix invernal”, que pode ter conseqüências infernais se você não tiver atenção ao volante ou ao caminhar pela rua, é basicamente uma mistura de neve e chuva que, no meio do caminho, vira gelo. Todo o cuidado é pouco para não escorregar ou perder o controle do carro.

A palavra neve traz belas imagens à mente. É realmente bonito ver a neve caindo, cobrindo o chão, ainda mais para gente de terras tropicais que não costuma ver isso de perto. Mas, sem querer decepcionar ninguém, neve só é bem-vinda em estação de esqui. As crianças adoram, mas é um grande transtorno, principalmente em áreas onde ela não costuma cair regularmente no inverno, como aqui na região de Washington (esta será a primeira neve desta estação, e já estamos no fim de janeiro).

Para tentar descrever a situação, imaginem que choveu, mas a água não foi embora, ficou por ali. Eu sei, isso tem ocorrido nas grandes cidades brasileiras com qualquer chuvinha, mas não tarda muito ela escorre para onde deveria ter ido. Neve não; ela fica ali durante dias. Há o problema também das escolas, que abrem mais tarde ou simplesmente ficam fechadas só porque caiu uma nevinha. E aí os pais têm que se virar para arrumar alguém que fique com as crianças ou uma creche de emergência para acolhê-las. Nesses dias, não raro aparece no trabalho uma criança que não teve onde ou com quem ser deixada.

Mas falando de previsão do tempo, isso é coisa séria nos EUA. Americano parece ser fanático por previsão do tempo. Quando a gente começa a viver aqui, causa até surpresa o fato de o homem ou a moça do tempo (que via de regra perde em beleza e simpatia para as nossas moças do tempo) aparecer a cada 15 ou 20 minutos no noticiário. Uma aluna da Érica costumava dizer que é a mania do americano de querer controlar tudo, até o tempo. Mania ou não, para os incautos a previsão do tempo aqui pode ser de assustar. Ela ganha um tom quase catastrófico, e o sujeito já fica imaginando algo de proporções bíblicas. Depois que a intempérie passa, ele fica se perguntando: “Isso aí? Essa chuvinha? Lá em Belém chove assim todas as tardes!”

Teria sido melhor não ter pensado nisso. Já estou achando que salguei minha calçada em vão... Bom, melhor prevenir.

[Para quem quiser ler um pouco mais sobre wintry mix, um artigo recente do Post: http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2009/01/14/AR2009011403608.html]

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Tradução de notícias

Dois tostões na esteira de uma mensagem recebida de um colega sobre uma tradução porca. O trecho em questão é este:

"A maioria dos presentes disse dar as boas-vindas à mudança de Obama, embora alguns, como o sargento retirado Israel del Toro tenham evitado fazer comentários a espera das decisões do próximo comandante-em-chefe." (http://noticias.terra.com.br/mundo/interna/0,,OI3462308-EI12934,00.html)

Para os tradutores, a Internet é uma das melhores coisas já inventadas. Com ela, a informação está sempre acessível. Se eu me visse limitado a apenas uma ferramenta de referência, não pensaria duas vezes: Internet. Com uma boa pesquisa, se encontra (quase) tudo. Mas a Internet também cria problemas.

Hoje em dia, as notícias são dadas quase que imediatamente após o fato. Uma notícia sai em inglês na CNN, na Reuters, na AP e, em virtude da velocidade dos meios de comunicação, o público espera que ela apareça nas demais línguas logo em seguida. Quem traduz isso? Como é feita a tradução? Adoraria ver o que se passa nos bastidores de sites como G1, Terra, Uol para verificar o processo por que passa a notícia até ser transformada naquilo que tentam nos passar como português.

Costumo ler as notícias do Brasil no G1, no Estadão e, com menos freqüência, no Correio Braziliense. Como a língua portuguesa tem apanhado! Muita coisa parece ser feita com tradução automática (pelo computador), mas outras são orelhadas de gente em carne e osso, como esse "retirado" (reformado) e este trecho maravilhoso ("disse dar as boas-vindas à mudança de Obama"). O Obama mal assumiu o cargo e já vai se mudar?! Na verdade, a notícia está eivada de erros.

Tais erros são vistos com cada vez mais freqüência no noticiário e há muita gente que passa por eles naturalmente, sem se dar conta. E o pior é que eles acabam sendo incorporados nos artigos redigidos originalmente em português. Já notaram que cada vez menos se vê as palavras equipe e praticamente? No meu tempo, a Ferrari era uma equipe de Fórmula 1 e o Brasil mandava uma equipe para jogar a Copa Davis (de tênis). Hoje em dia praticamente se ouve apenas falar em time. O Ipatinga se viu “virtualmente rebaixado” no Brasileirão do ano passado, e o São Paulo, nas últimas rodadas, era o “virtual campeão”. Credo! Há quem argumente que isso é o irrefreável processo evolutivo da língua. Para mim é involução.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Bank of America e Citigroup

Gostei deste artigo [http://www.ft.com/cms/s/0/6492f3c4-e57c-11dd-afe4-0000779fd2ac.html?nclick_check=1] do Frank Partnoy no Financial Times do último fim de semana. Segundo ele, o BofA e o Citi já foram pro brejo. Se os dois realmente quebrarem, a coisa vai ficar ainda mais feia. É uma das muitas encrencas que o Obama tem pela frente.

A posse de Barack Obama (5)

Acabou a cerimônia da posse. Haverá ainda uma parada, que começará no Capitólio, passará pela Avenida Pensilvânia e chegará à Casa Branca. Mas isso é para depois do almoço, que ele é presidente, mas não é de ferro. Agora resta a todas aquelas pessoas reunidas no Mall tomar o caminho de casa. Todos haviam sido avisados que seria impossível comparecer aos dois eventos (posse e parada).

A posse de Barack Obama (4)

Muito bom o discurso de Obama. Era o que se esperava dele, como grande orador. Para quem trabalha com o inglês, é um texto para ser relido e esmiuçado:

http://media.washingtonpost.com/wp-srv/politics/documents/obama_inaugural_address.html?hpid=topnews

Obama, como a maioria dos políticos, tem uma equipe encarregada de redigir seus discursos. Há pouco mais de um mês, causou surpresa o fato de que, Jon Favreau, o principal redator da equipe, é um rapaz de 27 anos (http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2008/12/17/AR2008121703903.html). Claro, todos os discursos passam pelo crivo de Obama, mas seria interessantíssimo poder ler a primeira versão de cada um deles e compará-la com a versão final, após obama "meter sua colher".

A posse de Barack Obama (3)

A TV mostrava as autoridades e demais VIPs chegando ao local da posse. Malia e Sasha Obama desciam as escadas no interior do Capitólio, para chegar ao lugar destinado a elas. Elas ainda são muito novas para discernir a grandiosidade do momento. Qualquer que seja a etnia ou nacionalidade do meu leitor, o fato de os americanos terem elegido um presidente negro (ou mulato, como querem alguns) é notável, histórico. É o sonho de Martin Luther King se tornando realidade, diriam alguns.

Eu pessoalmente não acreditava na vitória de Obama. Tinha como certo que o conservadorismo americano prevaleceria e John McCain acabaria eleito, apesar do desastroso governo de Bush. Foi uma grata surpresa e, admito, uma grande emoção. Não imaginava que, a despeito de tudo e de todos, os Estados Unidos conseguiriam se reinventar, ainda mais dessa maneira. Fico imaginando como os negros americanos devem estar se sentindo. Um deles chegou à presidência do país. Agora tudo é possível para eles.

Claro, toda essa empolgação não significa que Obama é o salvador da pátria e resolverá todos os problemas. Vai ser uma tarefa hercúlea. A tal herança maldita de que Lula várias vezes se queixou ao se referir ao governo de FHC e das elites que o antecederam é uma "marolinha" perto do legado de George W. Bush. Naturalmente, o capital político de Obama parece não ter precedentes e o povo americano terá um pouco mais de paciência com seu novo líder do que a de costume, mas ainda assim serão anos duros. Que ele tenha sucesso.

A posse de Barack Obama (2)

Estou acompanhando a posse pela TV e a comparando com o que ocorre no Brasil. Foram gastos 150 milhões de dólares para organizar o evento. Quem tem alguma intimidade com a cultura americana sabe que não se faz nada aqui sem pompa, sem festa. Tudo tem que ser grandioso. Claro, a transmissão do poder para o presidente-eleito é um dos pontos altos, talvez o clímax, da celebrada democracia americana. Tem que ser com todos os rapapés e nove-horas a que se tem direito. Deve-se notar, porém, que a maior parte desse dinheiro foi gasto com o aparato de segurança. Há uma preocupação grande com a segurança dos milhões que estão lá para testemunhar esse acontecimento, mas principalmente com a segurança do novo presidente. Os Estados Unidos têm uma história de atentados a presidentes, e muito se falou, durante e após a campanha, sobre um possível atentado a Obama. Guardadas as devidas proporções, afinal de contas o presidente americano é (ou ainda é) o homem mais importante do mundo, prefiro a posse aí no Brasil, em que o presidente assume o poder e sobe ao parlatório para falar ao povo sem vidro à prova de balas, sem medo (ao menos, é o que transparece).

A posse de Barack Obama

Não, não fui à posse de Barack Obama. Para ser sincero, admito que tive uma pontinha de vontade, mas achei melhor não. É um momento histórico, mas seria um trabalho danado. Para chegar lá e pegar um lugar razoavelmente bom, deveria ter saído de madrugada. Teria que enfrentar fila no metrô, fila para passar pelo aparato de segurança. Depois disso, ficar em pé no frio por várias horas seria complicado. A temperatura está mais baixa do que eu imaginava -4°C, com uma sensação térmica em torno de -10°C por causa do vento. Comparando com a temperatura no fim da semana passada, quando a sensação térmica chegou a -20°C, pode-se dizer que está até agradável lá fora, mas nem tanto. Após a cerimônia, seriam mais algumas horas no frio até conseguir sair de lá. É muito pra mim.