terça-feira, 27 de novembro de 2012

Yes, we can! Not quite...

Estava lendo uma matéria no Estadão sobre o primeiro dos cinco shows que os Stones estão fazendo para celebrar os 50 anos da banda. Lá pelo meio do texto, o cidadão que traduziu o que havia sido escrito pelas agências internacionais se sai com o seguinte:

— Não podemos lhes agradecer o suficiente.
Que beleza é o inglês escrito com palavras portuguesas! Quem, em sã (ou mesmo malsã) consciência fala assim? Por que não algo mais natural em português, algo que produza o mesmo efeito?
— Não temos como agradecer a vocês.
Acho que é uma boa saída para o “we can’t thank you enough” dito pelo Jagger. Esse can traduzido como poder me mata. Para, olha, pensa. Nem sempre can é poder.
— I can’t talk right now. Não posso falar agora.
— Muito bem.
— I can’t swim. Não posso nadar.
— Não pode? Quem disse que não pode? Pode sim. Ninguém está te segurando. Pula na piscina. Se você “não sabe nadar”, até melhor. Que você se afogue para nunca mais se sair com uma tradução dessas.


terça-feira, 18 de setembro de 2012

Cada vez pior

Muita gente pronuncia gratuito como se houvesse um hiato ali no meio, como em cuíca ou suíte (está errado; pronuncia-se como circuito, fortuito). Até aí nenhuma novidade. Mas não é que hoje me apareceu gratuíto, assim, com acento agudo no "i". Transformaram o erro de pronúncia em erro de grafia. O pior é que estava em uma mensagem da escola dos meus filhos e, como se não bastasse, foi grafado por uma estudante de Letras. Alguns dizem que não é assim, mas a minha impressão é de que a coisa só piora.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Isto é anúncio que se apresente, Breitling?

"Quando somos apaixonados pela aeronáutica, partilhamos apenas os nossos voos com o mais lendário dos cronógrafos."

Gostou? Eu não. É a chamada da mais recente campanha da Breitling. Está em um anúncio no jornal e vinha me perturbando já há alguns dias. A frase original era esta:

"A man passionate about aviation and fine mechanisms only shares his flights with the ultimate chronograph legend."

Não estou me queixando da adaptação nem da eliminação desta ou daquela palavra. É que a frase em português é ruim mesmo, inclusive porque o "apenas" fora de lugar diz algo diferente do que foi dito na frase em inglês.

Abriram os cofres na hora de contratar o garoto-propaganda (o ator John Travolta), mas, pelo jeito, economizaram no tradutor. Qualquer semelhança com o que se vê por aí nas mais diversas áreas NÃO é mera coincidência.

O pior é que isso não vai afetar nem um pouco a venda dos tais cronógrafos (ou, com um português desses, cornógrafos). No fim das contas, a tradução não faz tanta diferença assim como alguns imaginam que ela faça. É triste, mas muitas vezes é essa a realidade.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Faça, seja, tenha

Hoje me deparei com uma notinha aqui no feicibu de uma pessoa atrás de um tradutor para “realizar um trabalho”. Pedia também que entrasse em contato quem se interessasse em “realizar um orçamento”. Duas vezes de uma tacada só é duro. Abusam do realizar. Qual é o problema com o bom e velho “fazer”? Acho que o sujeito deve pensar: “Fazer um trabalho? Que pobre! Vou é realizar um trabalho. Assim ele sai mais bem feito... Opa? Feito? Ah! Sei lá!”

E já que estamos falando disso, de vez em quando vejo por aí agências de tradução que anunciam orgulhosas: “efetuamos traduções”. Efetuamos?! Se o cliente fosse eu, já perderia o interesse e procuraria outra. Deixe o efetuar para operações aritméticas e para pagamentos (que já é uso corrente) e faça traduções.

E antes que eu me esqueça, dê uma chance ao ser e ao ter. Isso constitui a causa do problema. De jeito algum. Isso é a causa do problema. A casa possui sala, dois quartos… Nessa eu não moro. A casa tem sala, dois quartos… Da próxima vez que for escrever, faça, seja, tenha. São mais simples, poupam tinta, papel e tempo do leitor, e dão conta do recado direitinho.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Irresponsabilidade não é fatalidade

Não consigo tirar da cabeça esse caso da menina que foi atropelada e morta por um jet ski numa praia do litoral paulista no fim de semana. Estive na praia com meus filhos há uns meses e fico pensando que, como ocorreu com essa criança, poderia ocorrer com um dos meus. Porém, como disse o nobre advogado, foi "um fatídico acidente". Ora, o jet ski não se materializou ali do nada. Alguém o entregou a uma pessoa que não estava habilitada a ligá-lo, que dirá conduzi-lo. Pronto, não há o que justificar.

Mas no Brasil é quase sempre assim. Irresponsabilidade, imperícia, incompetência, imprudência viram apenas um acidente, uma fatalidade. Nessas horas, chego a achar justificável o exagero que impera nos Estados Unidos, onde não existe acidente, onde alguém tem que ser responsabilizado sempre que alguma coisa de ruim ocorre. São os dois extremos, aqui e lá, mas o gosto da impunidade, que não nos sai da boca, é mais amargo do que qualquer outro.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Ela está de olho...

Dona Dilma está de olho nos bancos e quer meter-lhes um freio, pois estão faturando demais. Se ela vai realmente fazer alguma coisa, não sei, mas a iniciativa é boa e tem todo o meu apoio. Quem acompanha o caderno de Economia dos jornais lê a cada trimestre notícias de lucro recorde deste E daquele banco. Os nossos bancos oferecem um serviço bem ruinzinho e ganham muito, mas muito dinheiro em cima da gente. Fico pensando na entrevista de um americano que li há uns anos. Ele dizia que seu sonho era abrir um banco aqui. Nas palavras dele, "o melhor negócio no Brasil é um banco bem administrado. O segundo melhor? Um banco mal administrado." É por aí.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Ah, Brasil...

Após o desabamento dos prédios no Rio, ontem à noite, foram fechadas quatro estações de metrô nas imediações. Hoje li que havia taxistas se aproveitando da situação e rodando sem taxímetro. É isso, é prefeito que embolsa o dinheiro que deveria ser usado para ajudar os desabrigados pelas chuvas, é político que desvia praticamente toda a verba para o seu estado. O que me dá uma tristeza imensa é saber que isso tudo não é exceção, é regra. Brasileiro é assim. Quer ser esperto, tirar vantagem em tudo, passar a perna nos outros. Se ninguém tá vendo, qual é o problema? Isso não se faz? Faz sim, bobo, todo o mundo faz. É por isso que o país, embora avance, o faça de forma lenta. Isto aqui poderia ser bem melhor, mas ainda falta muito. E eu morro e não vejo o tão propalado futuro chegar. E não adianta reclamar dos políticos. São gente que nem os que votaram neles. Ah, Brasil...