terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Serviço de primeira

Ligo para a Vivo porque o meu celular morreu. Infelizmente, eles não têm em estoque o celular que estou procurando. Segue o diálogo:

— O senhor teria que voltar a ligar para a Vivo para verificar se já temos o celular em estoque.
— Mas vou ter que ficar ligando? Não tem jeito de vocês fazerem uma reserva ou me avisarem quando ele chegar?
— Não, não trabalhamos assim. O senhor também pode verificar pelo site.
— Muito bem. O problema é que nunca havia me cadastrado no site. Ao tentar me cadastrar hoje, o site indicou que a senha será enviada para o meu celular. Como o meu celular não está funcionando, não tenho como receber a senha.
— Não tem outro jeito. Só podemos enviar a senha para o celular.

Pior que isso só os diálogos com essa mesma atendente e com uma colega dela após eu solicitar que as ligações para o meu celular fossem desviadas para o celular da Érica. Já estou ao telefone com a Vivo faz quase 40 minutos e parece que a coisa não vai virar. E não virou. Transferiram a ligação para uma terceira pessoa, que simplesmente dizia que não conseguia me ouvir. Desliguei o telefone. Será que eu tento de novo?

Vão ser ruins de serviço assim no raio que os parta. Dá vontade de mudar de operadora, mas tenho certeza de que vai ser trocar seis por meia dúzia.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Trabalho voluntário

Chegou a mim a informação de que uma grande (grande não, enorme) multinacional da área de informática vai realizar um evento aqui no Brasil e está procurando tradutores voluntários. Alguém me lembrou de que há muita gente pelo mundo afora fazendo trabalho voluntário, mas peraí: trabalho voluntário deve ser feito para quem não pode pagar. Se fizessem uma festa após o evento, na certa procurariam um serviço de buffet voluntário, músicos voluntários, garçons voluntários... É a triste realidade da nossa profissão. Não consigo pensar em nenhum outro profissional que seja procurado numa situação dessas para trabalhar como voluntário. Nem prostituta faz serviço voluntário, se me perdoam a franqueza.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Legendagem

Sem sono, sentei para trabalhar, pus a obra-prima chamada Back in Black para tocar (no fone, claro) e vou aproveitar para escrever uma coisinha sobre legendagem e tradução.

Érica e eu acabamos de voltar do cinema. Temos que aproveitar que estamos na casa do meu sogro e que temos gente para ficar com as crianças. Cinema lá em casa é artigo de luxo. Ou vai um sozinho (normalmente eu, para ver os filmes que a Érica não quer ver) ou então vamos todos com as crianças para ver um filme dos pequenos. Lá nos EUA, era mais caro porém mais fácil irmos ao cinema, pois tínhamos uma babá e algumas suplentes. Como é difícil achar babá aqui, sobretudo confiável. Que falta fazem a Michelle, a Clarissa, a mãe da Elaine (me esqueci do nome; melhor não arriscar e deixar assim mesmo).

Mas fomos ver Atração Perigosa (The Town), com o Ben Affleck e a Rebecca Hall. Fiquei assistindo ao filme e me perguntando onde já tinha visto aquela atriz antes. Vicky Cristina Barcelona. Ela era a morena. Mas vamos deixá-la pra lá. Sabem que gostei do serviço do tradutor/legendador? Boas soluções, fluentes, naturais. É raro ver isso no cinema. Mas claro que eu não escreveria aqui simplesmente para tecer elogios. Tenho que ver o outro lado também e fazer minha crítica.

Traduzir é libertar-se dos grilhões do original. Alguém já disse isso? Talvez sim ou talvez o tenham dito com outras palavras. Tradutor é um cara preso, oprimido pelo original. Não consegue se desvencilhar das palavras, da forma da língua de partida e ater-se às palavras, à forma da língua de chegada. O resultado, por vezes, é uma coisa pouco natural, desajeitada até, que poderia ser melhorada com um toquezinho. Por exemplo, os americanos têm lá aquela coisa de dizer “Oscar Winner ou Academy Award Winner Fulano de Tal”. Peraí, vamos escolher uma atriz. Que tal “Academy Award Winner Charlize Theron”? Boa. Então, aparece em inglês:

Academy Award Winner Charlize Theron

Aí, nas telas dos cinemas do Brasil, surge:

Ganhadora do Oscar Charlize Theron

Tudo bem, pode ser chatice minha, mas custava inverter a ordem?

Charlize Theron, Ganhadora do Oscar

Não fica mais natural? Para mim fica. Também me irrito com os verbos. Por que o registro tem que ser tão formal? Um professor meu costumava nos lembrar de um exemplo ótimo. Em um filme de ação, um bandidão dizia para os seus comparsas: Peguem-no, amarrem-no e joguem-no no mar. Bandido finíssimo esse, com um português escorreito. Tudo bem, quiseram evitar o pega ele, amarra ele... , mas por que não alguma coisa mais natural como “pega esse cara, amarra e joga no mar”? Mais natural e mais curta do que o que saiu na legenda. É bom lembrar que espaço é um dos principais problemas para quem faz legendagem. Você tem um número de caracteres x para escrever numa língua tudo o que está sendo dito em outra. É tarefa das mais inglórias.

No Atração Perigosa, também aparece um exemplo bom desse (mau) uso dos verbos. O Ben Affleck está lá passando a conversa na moça e se sai com esta: “permita-me (ou deixe-me, sei lá) oferecer-lhe um drinque”. Fiquei me imaginando soltando uma dessas ao ouvido de uma menina. Eu estaria até hoje solteiro. Talvez funcione lá no chá da Academia Brasileira de Letras e olhe lá, hein?!

Mas eu queria mesmo era escrever, com o perdão da palavra, sobre o porra. Não é que apareceu um na legenda do filme que nós vimos. Isso é raro. Normalmente, os estúdios (ou sabe lá Deus quem toma essas decisões) não permitem palavrões nas legendas. Uma colega contou no Twitter que uma vez não lhe deixaram pôr um singelo e inócuo “cocô de cachorro” na legenda. E a pobre fazendo uma ginástica danada para sair dessa. Mas é assim mesmo. O cara pode soltar um monte de impropérios, mas aparece no máximo um filho da mãe na tradução. O argumento, ao que parece, é que, escritos, os palavrões poderiam causar problema. Como diz a minha mãe, as palavras faladas, o vento leva; o que está escrito fica. Tudo bem, até concordo, mas estava lá no meu filme, com todas as letras, um porra. Vibrei, e com razão.

Ora, pense bem, praticamente todas as vezes em que o americano diz lá um fuckin’, o que aparece na legenda? O correntíssimo e batidíssimo até... maldito. Stop the fuckin’ car vira “pare o maldito carro”. Lindo, não? O maldito cachorro fez cocô no tapete. Se fosse no meu tapete, eu não me referiria exatamente assim ao animal. Voltando ao filme, não me lembro da frase exata. Fiquei tão fixado no porra que já me esqueci do que o fuckin’ adjetivava, mas acho que a frase era “open the fuckin’ safe”. Na legenda, saiu “Abra a porra do cofre.” Estamos melhorando, gente. Mas ainda dá para deixar a coisa um tiquinho mais natural. Onde você costuma enfiar o seu porra? Eu prefiro no fim, enfático, forte. “Abre o cofre, porra!”, acredito eu, teria a mesma ênfase da frase original e soaria mais usual. Assim, tradutor, ao deparar-se com o fuckin’ , se permitirem, experimente meter um porra lá no fim. E, se lhe servir de incentivo, você ainda economiza dois preciosos caracteres, coisa que não se despreza na legendagem.