terça-feira, 28 de julho de 2009

Tradução para legendas (2)

Dia destes critiquei a tradução de um filme que fui ver com a Érica. Infelizmente, não tinha exemplos para ilustrar a minha bronca.

Domingo à noite formos ver Inimigos Públicos, o filme em que Johnny Depp interpreta John Dillinger, um dos maiores bandidos americanos da época da Grande Depressão. A tradução não comprometeu, embora, como tantas outras traduções de filmes, em certos momentos poderia ter sido mais natural e menos presa ao inglês original. Dessa vez, consegui guardar um exemplo.

Numa das fugas de uma prisão, um dos guardas postados numa das torres de observação avista os prisioneiros e grita, "there they are". Nossa tradutora, cujo nome não recordo, saiu-se com, "ali estão". Tudo bem, é uma tradução possível do que foi dito em inglês, mas será que alguém diria isso? Já que os bandidos estavam correndo (eles estavam fugindo, oras!), por que não algo mais natural como, "lá vão eles"? Não é exatamente o que foi dito em inglês, mas é o que provavelmente diria um falante de português naquela mesmíssima situação. Ali estão? Tenho cá minhas dúvidas...

Gosto de tradução que não sabe ao original. Não aprecio muito esse negócio de trazer o universo estrangeiro para o universo do leitor da língua de chegada. Claro, não dá para generalizar e há diferentes estilos e tipos de texto, que exigirão maior ou menor fidelidade à letra do original. Se você estiver traduzindo um contrato, nada de se arvorar a omitir, acrescentar ou embelezar. Vai dar bode na certa. Mas, sempre que posso, me agarro à regra: "O que diria um falante de português nessa situação?".

Eu ia falar também sobre palavrões nas legendas, mas fica para outro dia. Agora é banho e cama.

Somos atrasados mesmo

O Estadão de domingo trazia uma entrevista com o Diretor do Departamento de Física da USP de, se não me engano, São Carlos. Ele é candidato à reitoria da universidade. Ao ser indagado sobre a possibilidade de obter doações de ex-alunos, uma promessa de todos que assumem o cargo, ele respondeu, para o meu espanto, o seguinte: tão logo o aluno se forma, a USP apaga dos seus registros o e-mail do aluno. Dá pra acreditar? E estamos tratando da melhor da universidade do Brasil.

Enquanto isso, ao norte do Rio Grande, é praxe as instituições de ensino superior manterem contato com quem passou pelos seus bancos. Um dos meus ex-chefes, ao se aposentar, me pediu que cuidasse por um tempo da correspondência dele. Até hoje recebo, correspondências de duas das maiores universidades dos EUA endereçadas a ele. Uma delas envia uma revista de primeiríssima qualidade, só para ilustrar, impressa num papel melhor do que o de qualquer revista vendida em banca aqui na Pindorama.

E a USP apaga os e-mails. Somos atrasados mesmo.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Serviço de primeira

Estou rodando em São Paulo no carro da minha cunhada, a quem sou extremamente grato, pois alugar um carro aqui no Brasil não é para qualquer bolso. Hoje fui atrás de uma oficina para resolver um probleminha nesse carro. O acendedor de cigarro não estava funcionando, o que me impedia de usar o GPS ou carregar o iPhone.

Fui a uma auto-elétrica aqui perto da casa do meu sogro. Um rapazinho entrou no carro, fez uns testes e rapidamente diagnosticou o problema. Não era um fio solto como havia sugerido a concessionária, mas apenas um fusível queimado. Trocou e não queria cobrar nada por isso. Se fosse nos EUA, só para entrar no carro me cobraria umas 50 pratas.

Na terra do Tio Sam é assim: Ou você aprende a consertar tudo ou você é muito rico. Como o meu talento para estragar é infinitamente maior do que a minha capacidade de consertar, fico apertado. Nessas horas, o bom é estar no Brasil, onde os serviços ainda são baratos, talvez mais baratos do que deveriam, sobretudo do ponto de vista de quem os presta e deles depende para subsistir.

Quanto ao auto-eletricista, dei-lhe uma garça e ele saiu satisfeito. Ganhamos todos.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Erramos

A empresa a que me referi ontem no texto Tradução para legendas se chama Central de Traduções e não Central de Textos.

Tradução para legendas

Voltamos do cinema há pouco. Fomos assistir a um filme água com açúcar chamado "A Proposta", estrelado pela Sandra Bullock. Não tem jeito: passo quase um ano e meio longe do Brasil e, ao voltar mais uma vez, constato que a qualidade da nossa tradução para legendas continua insatisfatória. Não existe tradução perfeita e será sempre possível encontrar formas de melhorar uma tradução. Contudo, vários dos erros nas legendas do filme poderiam ser considerados imperdoáveis.

Fiz tradução para legendas uma única vez, ainda na universidade, mas estou familiarizado com o processo e sei das dificuldades. O tempo é curto, o espaço também, e as demais condições de trabalho estão longe das ideais. Não é bolinho. Mas certos erros revelam a imperícia e o desconhecimento de quem está traduzindo. E eu lá me dividindo entre curtir o filme, comer pipoca, tomar Coca-Cola, acarinhar a Érica, tomar nota mentalmente das boas escolhas do tradutor (sim, as há) e buscar soluções melhores para as traduções que me desagradam. Naturalmente, procuro sempre contar os caracteres da tradução do colega e da minha, pois qualquer sugestão precisa caber naquele espacinho lá.

E no meio disso tudo, acabo me perguntando: "Será que os espectadores não se perguntam em algum momento o porquê de os personagens falarem daquele jeito estranho?" E o pior, imagino, é que provavelmente não o fazem. Antes que eu me esqueça, os responsáveis desta vez foram uma empresa chamada "Central de Textos".

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Programa paulistano

Cheguei ontem a São Paulo. À noite, já fui fazer um programa bem paulistano: ir ao Pacaembu ver o Corínthians. Na verdade, queria ver era o Ronaldo. E o gordo, como até mesmo a torcida do Corínthians o chama, correspondeu. O Sport, abriu o placar logo no início, mas o gordo foi lá e meteu dois de cabeça, que não é lá a especialidade dele, vejam só. Apesar da reação do Sport, que chegou a buscar a igualdade em 3 x 3, o “Timão” acabou conseguindo um suado 4 x 3. Vale notar que fui ao jogo com o meu cunhado, são-paulino. O pobre disse que foi uma experiência terrível e que nunca mais senta numa arquibancada para ver um jogo do Corínthians. Para mim foi normal, mas até entendo a queixa dele: não sei se eu teria paciência para ir a São Januário ver o “time da colina”.

Agora já estamos planejando pegar a estrada e descer a serra. Vamos à Vila Belmiro ver Santos x Internacional. Só vai ficar faltando o Parque Antárctica, onde já vi show de rock, mas pelada não.





sábado, 11 de julho de 2009

Tradução: cursos, ferramentas e o nosso maltratado português

Artigo redigido como comentário ao texto publicado no blog Tradutor Profissional, do Danilo Nogueira, um velho amigo e colega de profissão.

Sou egresso do curso de tradução da UnB, onde me formei em 98. Um ano depois, passei lá quatro semestres como professor. Até hoje, minha mãe não se conforma que, o curso da UnB, à semelhança de tantos outros pelo Brasil afora, não aplique uma prova de habilidade específica para peneirar os candidatos e permitir que só faça o curso quem realmente está habilitado linguisticamente a fazê-lo. O problema é que, a maioria dos candidatos ficaria nessa peneira e, ao fim da seleção, não haveria candidato suficiente para preencher todas as vagas. O que ocorreria? Após alguns anos o MEC fecharia o curso por falta de demanda. É, de certa forma, uma questão de sobrevivência.

Mas aí o curso sobrevive com um material humano abaixo, bem abaixo, da média. Um material humano que força os professores a nivelar por baixo. Quantas vezes eu me vi em situações em que poderia ter dado uma aula mais puxada, mais aprofundada para o benefício de uma meia dúzia que teria condições de absorver o conteúdo. Mas e os outros 12 ou 15 alunos? Eu me lembro de alunos que cometiam os mesmos erros, erros básicos, coisa que me haviam ensinado quando fiz o meu concurso para o Colégio Militar em 82. Apesar dos comentários e correções do professor, passavam o semestre inteiro cometendo vários dos mesmos erros. Um ano e meio depois, no meu último semestre como professor, lá estavam alguns desses alunos numa turma minha. E adivinhem? Aqueles velhos erros não haviam ficado pelo caminho.

Infelizmente, essa é a realidade do ensino brasileiro. Não é apenas culpa do professor universitário. É culpa de todo o mundo: do aluno que não se interessa (há uns poucos que se interessam), do sistema educacional, que necessita de melhorias urgentes, e dos professores, que ficam sem saber o que fazer ao se deparar com falhas gritantes que deveriam ter sido corrigidas na série ou nível anterior. Fazer o quê? Uma reprovação em massa? Enquanto não melhorarmos a situação lá na nascente, a água vai continuar chegando cada vez mais turva na foz. Mas que fique bem claro, essa insuficiência é generalizada. Está difícil encontrar quem saiba português e matemática, o mais básico, em qualquer profissão.

Quanto ao pecado de formar profissionais da tradução sem ensinar a usar ferramentas de tradução assistida por computador, acho que não é bem por aí. Há tantas coisas que aqueles jovens precisam aprender antes de travarem contato com Trados ou DV. Muitos não sabem nem redigir direito. Sim, está cada vez mais difícil arranjar trabalho se você não usa ferramentas de tradução, mas não é impossível. Se o cara não faz uma boa tradução nem com papel e caneta, não vai ser o Trados que vai resolver os problemas dele. Para deixar bem claro, num mundo perfeito, um bom curso de tradução deveria ensinar o uso de ferramentas de tradução, mas o que temos hoje em dia nos cursos por aí está bem longe da perfeição. Só não vale depreciar as universidades e faculdades porque, repito, a culpa não é só delas.

É bom dar uma olhada no perfil de quem ensina nos cursos de tradução. Muitos dos professores não atuam como tradutores ou atuam num mercado bem distinto do nosso, do mercado da tradução comercial, dos clientes internacionais. São simplesmente pesquisadores, gostam da teoria ou até mesmo têm ojeriza à prática. Para eles ainda é possível ignorar essas ferramentas (mas não por muito tempo). Assim, não há como esperar que venham a falar sobre elas.

Vale ressaltar também o que os alunos procuram no curso. São poucos os que saem de um curso de tradução e vão efetivamente trabalhar como tradutores. Há muita gente formada em tradução dando aula de inglês. Muitos o fazem para se manterem enquanto a carreira de tradutor não engrena, mas há quem fique o resto da vida como professor. Outros seguem o rumo da pesquisa. Minha mulher, por exemplo, formou-se em tradução na UNESP Rio Preto, mas não quis saber de traduzir. Enveredou-se por um mestrado e um doutorado em áreas conexas à tradução, mas recusa-se peremptoriamente a traduzir. Sempre que tento convencê-la, já puxa uma estaca da gaveta e a aponta para o meu peito.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Twitter

Estou no Twitter (jvdepaulo). Não vejo ainda muita utilidade naquilo, mas comigo não tem essa de não comi, não gostei. Vamos ver que bicho dá.

O alto custo da medicina nos EUA

Num dia desses a Érica foi fazer uma pequena cirurgia na boca para remover dois pedacinhos de tecido que, segundo o dentista, poderiam evoluir para um tumor. Chegou aqui me contando como foi a aventura. A cirurgia era simples e ela estava tranqüila, mas foi chegar lá que se assustou. Montaram um aparato que impressionava qualquer um. Meteram-na numa cadeira e conectaram-na praticamente à mesma parafernália que usaram quando ela deu à luz a Clarissa e o Rodrigo: monitor cardíaco, aquele breguete na ponta do dedo para medir a oxigenação e por aí vai. Além do médico, havia duas enfermeiras na sala e perguntaram a ela se preferia anestesia local ou geral. Anestesia geral para queimar com laser dois pedacinhos de tecido na boca?! Tá louco! Podemos comparar a situação com uma cirurgia por que passei no Brasil, há uns bons 15 anos, para remover dois pedaços de tecido que me estavam cobrindo os molares inferiores e lhes dificultando a limpeza. Era só o meu dentista e não tinha nada de laser, não. Foi anestesia local e um abraço.

Quando se trata de procedimento médico aqui, todo cuidado é pouco. O medo permeia a relação entre médico e paciente. Mas não é medo de machucar o outro, é medo de processo. E isso encarece um bocado o serviço. Dia desses ouvia na NPR o depoimento de um médico com 25 anos de profissão. Dizia que as coisas haviam mudado muito desde que ingressara na medicina. Hoje em dia, numa cirurgia simples, de vinte minutos, contava ele, fica lá uma pessoa na sala só para anotar o que está sendo feito. No fim, ele tem umas 12 páginas para assinar. É para o caso de um erro médico. Quer outro exemplo? Um obstetra aqui na região de Washington gasta 120 mil dólares de seguro por ano. Já imaginou? Você começa a trabalhar todo o mês com um déficit de 10 mil pratas, fora os demais custos. Haja dinheiro para financiar isso tudo e o profissional acaba cobrando muito mais caro do que deveria. É por essas e outras que os Estados Unidos são, de longe, o país que mais gasta com saúde, mas nem assim têm um serviço de primeiro mundo.

Um sinal

Tenho recebido sinais de que está na hora de voltar para o Brasil. Hoje veio mais um.

Para morar aqui nos Estados Unidos, o cara tem que ser um pau-pra-toda-obra e saber consertar praticamente tudo em casa. Eu sou um zero à esquerda em termos de habilidades manuais. Se for bater um prego, o dedo vai invariavelmente levar umas marteladas.

Hoje fui desatarraxar um troço numa torneira e acabei cortando os polegares. Foram cortezinhos superficiais, nada sério, mas estou aqui com um dos dedos com um band-aid de homem-aranha, que foi o que estava à mão.

Olhando o serviço depois de feito, qualquer um perguntaria, “Mas como você conseguiu se cortar fazendo isso?” Pois é. Tá na hora mesmo de ir embora.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

4 de julho (antes tarde do que nunca)

Antes que o 4 de julho fique longe demais, dois comentários que eu acabei esquecendo. O dia da independência aqui também é dia de show de fogos de artifício. O principal, claro, é lá em DC, no Mall, mas deve ser o evento que reúne mais pessoas naquela região. Só perde, claro, para a posse do presidente. Seria uma operação muito complicada levar as crianças para lá na idade em que estão. Há quem leve, mas acho que é sofrimento demais para pouco retorno. Quando estiverem grandinhos, passamos as férias de julho aqui na terra deles e todo mundo vê o show. Resolvemos ficar aqui em Vienna mesmo e foi bem satisfatório. Eram centenas e centenas de pessoas num gramadão/estacionamento, algumas deitadas em cobertores ou toalhas de praia, outras nas suas cadeirinhas dobráveis. E o show durou meia hora. E nós deitados lá, olhando para o céu, sem pensar em muita coisa, o que de vez em quando é muito bom.

O outro comentário é apenas uma curiosidade. No 4 de julho, as pessoas aqui te desejam um “Happy 4th” ou um “Happy 4th of July”. Já imaginaram alguém no Brasil virar pra você e dizer “Feliz Dia da Independência” ou “Feliz 7 de setembro”? No começo, nós estranhávamos, mas agora já nos acostumamos. Afinal de contas, é o jeito deles…

sábado, 4 de julho de 2009

Patriotismo ou patriotada?

Eu sempre digo aos amigos aqui nos Estados Unidos que brasileiro só é patriota mesmo e veste as cores do país quando tem jogo da seleção na Copa. Não é que não sejamos orgulhosos do nosso torrão natal, mas não se vê no Brasil a necessidade de ostentar nosso amor à pátria.

Aqui nos EUA a situação é outra. De modo geral, o americano é notoriamente patriota e faz questão de demonstrar isso. Ele veste a camisa e estampa as cores da bandeira em tudo. Vejam, por exemplo, esta senhora que vi ontem no supermercado (a do meio):

A foto está meio desfocada, mas pode-se distinguir as cores e as estrelas da bandeira americana no casaco. Leitor, você tem um casaco com as cores da bandeira brasileira? Provavelmente não. E que tal estes pratos e guardanapos para o churrasco do 4 de julho?

Recentemente, organizou-se um churrasco num parque. Uma amiga brasileira e o marido americano se encarregaram de chegar mais cedo e arrumar tudo por lá. O marido aproveitou que era dia da bandeira aqui e decorou as mesas a contento:

Lembram-se da última vez em que trouxeram a bandeira brasileira para a mesa de refeição? A grande maioria no Brasil não deve nem se lembrar do Hino à Bandeira, o “Salve lindo pendão da esperança...”

É comum também ver a bandeira propriamente dita hasteada na frente das residências americanas (não num mastro vertical, mas diagonal, fixado à frente da casa). Alguém aí no Brasil tem a bandeira hasteada na frente de casa?

Já imaginaram como está isto aqui hoje, 4 de julho? E aí, é patriotismo ou patriotada? Talvez nós brasileiros pudéssemos nos espelhar um pouco nos americanos e estender o nosso patriotismo para o intervalo entre uma Copa e outra. Mas nada de exageros. Na minha forma de ver, esse patriotismo exagerado, quando bem manipulado, alimenta a beligerância americana, e a gente sabe muito bom no que dá.

4 de julho

Dia da independência dos Estados Unidos. Hoje é dia de acender a churrasqueira e encher a pança num barbeque, o churrasco deles. Há quem asse um salmãozinho, uma costela, um franguinho, mas o negócio mesmo é hambúrguer e cachorro quente. Eu não fugi à tradição, mas, evidentemente, como bom brasileiro, fiz um churrasco à nossa moda. Nada de salsicha, pão, ketchup e mostarda. Fomos de carne mesmo, só no sal grosso, arroz, vinagrete, cervejinha. Temos que seguir os costumes dos nossos anfitriões, ainda mais na data do aniversário do país deles, mas não precisa ser ao pé da letra, não é?