domingo, 31 de maio de 2009

Crueldade

http://www.rhymeswithorange.com/

Copa de 2014

As cidades-sede estão escolhidas. Para termos uma Copa sem sustos, chegarmos à final e levantarmos o caneco, sugiro o seguinte: a Alemanha deve jogar no calor de Manaus. Itália, França (se chegar lá), Espanha e Inglaterra vão para as capitais do Nordeste; além de torrar no calor, vão pensar que estão de férias. No categoria calorão, ainda sobra Cuiabá, para onde podemos mandar alguma outra equipe européia mais encardida. Nigéria e Gana, supondo que serão estes os africanos mais perigosos da Copa, devem ir para Curitiba e Porto Alegre, para passarem bastante frio. Só ficou faltando uma sede para os argentinos. Se a FIFA houvesse deixado Florianópolis entre as 12, estava fácil, pois argentino só vai para lá para veranear. Mas a Argentina é freguês e não vai incomodar ninguém. Se o Uruguai não nos aprontar outro Maracanazo, a Copa é nossa.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

O dom da oratória

Ontem à noite, vinha da aula ouvindo a NPR (www.npr.org). Estavam transmitindo a cerimônia em que o Obama anunciou a indicação da juíza Sonia Sotomayor para a Suprema Corte americana. Primeiro, ele discursou. Que beleza é ouvir o Obama falar. Quanta eloqüência! Para um político, ser bom orador já é meio caminho andado. Carregam-se massas apenas com a palavra. Depois fiquei pensando no Lula. A imagem que me vem quando o Lula discursa é a de um equilibrista na corda-bamba, mais precisamente de um equilibrista não muito hábil. Ele chegará ao outro lado, assim como o nosso presidente chegará ao fim do seu discurso, mas haverá desequilíbrios, sobressaltos, sustos, e o português apanhará um bocado. Quanta diferença…

Memorial Day (2)

O fim de semana desse feriado também marca o início do verão nos Estados Unidos. É quando se abrem as piscinas e a turma começa a temporada do barbeque, o churrasco deles, que não lembra muito o nosso. Aqui no nosso condomínio, a piscina abriu com algumas restrições. Até que se encerre o ano letivo nas escolas públicas, a piscina só abre após as 16h (as aulas terminam às 15h). Aqui ninguém tem refresco. Outra regra, esta um pouco menos sensata, estabelece que a nossa piscina só pode abrir depois do meio-dia. No melhor horário do dia, a manhã, ficamos impossibilitados de tomar um banhozinho. Chatos!

As piscinas ficarão abertas até o Dia do Trabalho, que aqui é comemorado na primeira segunda-feira de setembro. Depois disso, só em determinados lugares, como em centros comunitários para recreação e desporto (centros esses que merecem um texto à parte, pois são um primor). O que incomodo é que, apesar de o calor continuar até o início de outubro, não se abrem exceções. Pode fazer um calor de rachar, mas as piscinas fechadas no Dia do Trabalho só poderão ser freqüentadas de novo no ano seguinte, no próximo Memorial Day. Para nós brasileiros, que crescemos habituados a temperaturas altas quase o ano inteiro, é difícil, mas acabamos nos acostumando.

Para mim, particularmente, o Memorial Day é também o feriado das motos. Nesse fim de semana prolongado, dezenas de milhares de motoqueiros vêm a Washington nas suas Harleys para homenagear os prisioneiros de guerra e os soldados desaparecidos em combate. Existe inclusive uma organização sem fins lucrativos que congrega essas pessoas, a Rolling Thunder (http://www.rollingthunder1.com).

Memorial Day (1)

A última segunda-feira foi feriado. Foi o Memorial Day, o dia reservado aqui nos EUA para lembrar os americanos mortos nas várias guerras de que o país participou. É gente que não acaba mais. Para se ter uma idéia, só no cemitério nacional de Arlington estão enterrados os corpos de mais de 300 mil.

Mas não é esse o foco deste texto. Assim como boa parte dos feriados aqui nos Estados Unidos, o Memorial Day não cai numa data específica, mas sim num dia da semana pré-estabelecido. Mas como assim? O Memorial Day cai na última segunda-feira de maio. Dessa forma, a data sempre varia. Este ano, foi 25 de maio; ano que vem, será no 31 de maio. Com a exceção do Dia de Ação de Graças (última quinta-feira de novembro) e do 4 de julho (dia da independência), do Dia de Natal e do primeiro dia do ano, todos os outros feriados caem em segundas-feiras.

Eu acho esse sistema ótimo, para ser sincero. Assim, evita-se aquela farra que a gente vê no Brasil de dias de trabalho serem enforcados porque um feriado caiu na terça ou na quinta (ou até mesmo na quarta, em certas repartições públicas). Virei caxias de repente? Não é por aí. Num país como o Brasil, que ainda está longe de ser rico, não faz sentido jogar fora tantos dias de trabalho como se costuma fazer. Pelo que tenho visto ultimamente, essa preocupação não é só minha. Eu me recordo de ter visto umas duas reportagens sobre o assunto em telejornais da Globo. Numa, chegou-se até a calcular o prejuízo (milionário, vejam vocês) que o comércio do Rio tinha num dia enforcado em virtude de um feriado.

Eu ficaria satisfeito se me aparecesse algum político disposto a adotar o sistema à americana. Coitado, provavelmente lhe pespegariam a pecha de louco. Mas não custa tentar.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Mais respeito com as donas de casa (ou Tributo à Érica)

O marido volta do trabalho e não raro se surpreende ao encontrar a casa praticamente do mesmo jeito que a deixou. Um ou outro, mais corajoso ou desavisado, se vira para a mulher e pergunta: “O que você ficou fazendo o dia inteiro?” Aí o tempo fecha.

Vida de dona de casa não é fácil, especialmente no caso das chamadas stay-at-home moms, ou seja, as mães que não trabalham fora e ficam em casa cuidando das crianças. E olha que essas pobres, diferentemente das mães brasileiras de classe média alta para cima, não desfrutam do luxo de contar com empregada, faxineira, babá e outras fadas-madrinhas

Como estou saindo do meu emprego, agora é a minha vez de ser um stay-at-home dad. Desde a quinta-feira passada, tenho experimentado um pouco do que essas mães vivem. É matar um leão por dia. Hoje, enquanto engolia o almoço, fiquei pensando que essa tem sido a vida da Érica nos últimos cinco anos e meio e comecei a bolar este texto. Mas voltemos umas horas no tempo.

Acordei pouco antes das seis, fiz uma hora de esteira, tomei banho e saí para deixar a Clarissa na escola. Na volta, só deu tempo de tomar um café com leite, comer um pedaço de queijo e sair correndo para deixar a Érica na faculdade, lá em DC. Chegamos às 9h, em cima da hora. Daí, foi voltar correndo para Vienna e largar o Rodrigo na escola às 9h30. De lá passei no Costco para trocar uma camisa que havia comprado na segunda e corri para Arlington para a consulta com o terapeuta às 10h30. Às 11h20, voltei para casa. Tinha que temperar o salmão que vai para o forno à noite e tentar resolver uma ou duas coisas para então ir almoçar e apanhar o Rodrigo às 13h30. Já cansaram?

Em casa, troquei os lençóis da cama e estava me preparando para descer quando tocou o telefone. Ah, o telefone! Claro, a ligação durou mais do que eu esperava e acabei ficando com o tempo mais curto. Desci, arrumei a pia que havia ficado bagunçada do café, temperei o salmão, me vesti e corri para o McDonalds (!!), munido de uma pilha de jornais para ler enquanto comia (e já eram 12h50).

Nada de sanduíche, claro. Pedi uma saladinha com frango grelhado, sem molho nem croutons. Tenho carregado uns quilos extras que não me pertencem e cheguei à conclusão que me esfalfar na esteira não vai ser o suficiente para me fazer perdê-los no prazo que estipulei. Enquanto almoçava, consegui terminar a coluna da Lucy Kellaway do Financial Times de segunda-feira, cuja leitura eu havia iniciado ontem, enquanto esperava a Clarissa fazer a aula de natação. Ia começar a ler o Post de hoje, mas aí resolvi ganhar tempo e passar logo na lavanderia para pegar umas camisas e deixar outras.

Apanhei o Rodrigo na escola e, agora, ele dorme uma sonequinha até as 14h55, quando tenho que tirá-lo do berço, sem acordá-lo, se possível, enfiá-lo no carro e sair para apanhar a Clarissa na escola. Na volta, vou dar uma passada no supermercado para comprar umas alcaparras, limão e cebola. Érica já deverá estar em casa quando chegarmos, então terei ajuda para entreter as feras até a hora da janta, banho e cama. Ih! Ia me esquecendo de que hoje à noite a Érica dá aula. A janta, banho e cama vão ser por minha conta. O pior de tudo é que, no fim do dia, estarei morto e a minha lista de coisas a fazer estará praticamente intacta.

Quem passa o dia inteiro num escritório não imagina a dureza que é cuidar de criança. Eu costumo dizer que é mais ou menos como tentar executar uma série de tarefas enquanto outras pessoas (no meu caso, duas) tentam te atrapalhar. Os chefes, gerentes de projeto, diretores têm muito a aprender com as mães. O projeto que elas tocam tem uma vida mais longa do que a de qualquer tarefa em um escritório. Além disso, o cliente não grita, não chora, não esperneia. E, mais importante, você não tem laço afetivo algum com o cliente; já com a molecada em casa...

Ficou mal arrematado, mas vai assim mesmo que já são 14h55.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Freakonomics

Já estava na minha estante há um tempo, esperando para ser lido. Embora tenha sido escrito por um economista, tem tudo para agradar em cheio até quem não gosta de economia. Os capítulos sobre pais e sobre nomes dados a bebês aqui nos EUA são ótimos.

Natal fora de época

Foi sofrido, como foi. E o pior foi que o grito de “É campeão” ficou entalado na garganta mais de duas horas após o jogo haver terminado. A Globo Internacional e o PFC resolveram pregar uma peça nos flamenguistas e botafoguenses e transmitiram ao vivo para os EUA duas finais de campeonatos que já estavam praticamente decididos (que me perdoem os santistas e atleticanos). O jogo do Flamengo só viria depois de ser encerrada a transmissão da final paulista. E como demorou. Mostraram a festa toda, a entrega da taça, o apuro do capitão William com aquele inesperado fogo (Ronaldo reclamou, e com razão, da desorganização; coisas de Brasil misturar fogo com papel picado). Mas eu me mantive impassível e esperei. Felizmente, aqui não tem foguete nem grito do vizinho quando sai um gol. Dá muito bem para assistir ao “teipe” como se o jogo fosse ao vivo.

Mas como eu disse, foi sofrido, e o sofrimento começou na noite anterior. Sei lá o que me deu que eu sonhei que o Botafogo enfiava incríveis 8x0 no Flamengo. Acordei preocupado, com vontade de descer e ir ver o jogo. Mas aí me lembrei que ainda era sábado para domingo e a partida ainda seria jogada. Voltei a dormir. Mais tarde, sonhei que o Fla vencia por 2x1, mas o Bota igualava no finzinho, levava a decisão para os pênaltis e, pior, conquistava o título. Despertei ainda mais preocupado. Coisa de torcedor. Durante o dia, lembrei-me daquela fatídica final do estadual de 89, quando o Botafogo saiu da fila depois de 21 anos sem título. Naquela noite, havíamos ido comer um cachorro-quente lá na 106, no Neto (era bom aquele cachorro…). Já não me lembro bem quem estava comigo (Marcelo Viana?). Ao voltar para a quadra, comentei que estava com um mau pressentimento, que naquele noite ia dar bode. E pior que deu. Mas deixa isso pra lá e voltemos à tarde de ontem, que foi mais feliz.

No Brasil, a torcida já festejava o tri quando a Globo começou a passar o jogo aqui. Mas eu havia resisti e assistiria ao jogo todo para ter a mesma emoção que tiveram aí. Com os 2x0, pensei, “está no bolso”. O pênalti do Vítor Simões, defendido pelo Bruno, me deu a impressão de que ali o Botafogo se entregaria e o Flamengo ainda faria mais. Que nada! O Fogão não estava morto. No empate, me veio à memória a noite mal dormida. “Sequei o Mengão. Vai dar Botafogo nos pênaltis.” A Globo, para o Faustão poder entrar no horário, foi aos poucos cortando um pedacinho aqui e outro ali. Dos 38 do segundo tempo, pularam para os 47 e a expulsão do capita. Viriam os pênaltis e a minha profecia se tornaria realidade. E eu que já me preparava para ir cantar o “Chororô” com a Clarissa e o Rodrigo, que, como bons flamenguistas, já conhecem a letra (E ninguém cala, esse chororô…).

Mas São Bruno estava lá e fechou o gol. Eu estava uma pilha de nervos e o grito de campeão foi um alívio (tri, de novo, o terceiro que eu testemunho desde que me entendo por gente). Só não pude ver a festa toda porque a Globo tinha que seguir em frente com a sua programação “normal”. Bom, no fim das contas, dos males o menor: Perdi o campeonato (duas vezes!) no sonho, mas o pesadelo real acabou sendo dos torcedores do Glorioso.

Mas, alguns devem estar se perguntado, o que tem a ver essa história toda com Natal? Há alguns meses, o Bom Dia Brasil mostrou uma reportagem sobre como a paixão por um clube passa de pai para filho. Um sujeito do Rio definiu com rara precisão a felicidade que é ver o clube do coração ganhar um título. Parafraseando, é a sensação que você tem quando acorda no dia de Natal e sabe que o seu presente está ali te esperando. Sábias palavras. E o pior é que tem gente que não gosta de futebol. Que pena!

P.S.: Eu estava no Brasil quando o Bota ganhou o estadual de 89. Estava aqui nos EUA na conquista do Brasileirão de 92 e neste tricampeonato do Mengão. Será que em todas as finais contra o Botafogo eu vou ter que me ausentar do país para que o Flamengo se sagre campeão? Desse jeito, acho que vou ficar por aqui de vez.

P.S. 2: Num dia desses levei até um puxão de orelha porque não vinha atualizando o blog. Infelizmente o blog não tem sido uma prioridade nos últimos tempos por vários motivos, os quais não posso comentar agora (um dia o faço). Mas aos poucos retomo as coisas por aqui, estejam certos.