segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Dois retratos (feios) do Brasil

Estava vendo trechos do Fantástico enquanto arrumava umas coisas aqui. O negócio continua feio. Primeiro a reportagem sobre a sobrevivente do Bateau Mouche. No fim, a revelação de que, quase 21 anos após a tragédia, só uma família foi indenizada. Dois acusados foram condenados a regime semiaberto, mas fugiram do país. Eita justiçazinha morosa e ineficaz essa do Brasil, hein?! Ainda somos um país sem lei. Depois, veio a reportagem sobre a irresponsabilidade do brasileiro no trânsito, que mata 40 mil pessoas por ano.

Que ninguém me venha dizer que a Globo pinta o bicho mais feio do que ele é. Você e eu sabemos que a coisa no Brasil ainda é braba. Nessas horas, é duro pensar que vou voltar a morar aí.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Ainda mais esta

Como se já não bastasse tudo o que ocorreu naquele caso da moça do vestido curto no ABC, agora me vêm esses alunos da UnB se despir para protestar contra a Uniban e o machismo (http://tinyurl.com/yhqrfm8). E logo alunos da minha ex-universidade?! É o fim da picada.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Terrorismo de verdade

Quando se fala em terrorismo, pensa-se logo no ocorrido no 11 de setembro ou nos episódios recentes em Londres, um dia após o anúncio da cidade como sede das próximas olimpíadas, Madri, onde uma série de explosões no sistema de metrô mataram quase duas centenas de pessoas, e Bombaim, na Índia, onde ataques coordenados a lugares públicos como hotéis e um hospital vitimaram mais de 170. Perto desses episódios, é difícil imaginar que duas pessoas poderiam espalhar o terror e deixar uma região metropolitana inteira de joelhos. Pois foi exatamente isso o que ocorreu em 2002, provando que não é necessário seqüestrar um avião ou lançar mão de explosivos para semear o terror. Bastam dois idiotas com uma idéia errada na cabeça.

Essa história teve provavelmente o seu último capítulo. Foi executado na noite de ontem, com uma injeção letal, John Allen Muhammad, que entrou para a história por ter orquestrado uma série de atentados na região de Washington em outubro de 2002. Num período de três semanas, Muhammad e o então menor Lee Boyd Malvo mataram 10 pessoas e feriram outras três sem nenhuma ligação entre elas e aterrorizaram uma região que ainda se recuperava dos ataques terroristas de 11 de setembro do ano anterior.

Os assassinos escolhiam suas vítimas aleatoriamente e as alvejavam de dentro do porta-malas de um carro. No início, foram sete pessoas no espaço de dois dias, cinco delas no mesmo dia. O medo se espalhou rapidamente, pois os assassinos não se concentraram numa determinada área. Antes, começaram no estado de Maryland e depois seguiram para Virgínia, passando pelo Distrito de Colúmbia, onde mataram um homem. Qualquer um poderia ser uma vítima; bastava estar na rua. Dois episódios ficaram na minha memória.

Naquele ano, morávamos em Crystal City, na cidade de Arlington. Felizmente, o meu trajeto até o trabalho era bastante tranqüilo porque eu não precisava sair à rua. Nosso prédio tinha uma saída que dava para uma galeria subterrânea de lojas e serviços que levava até a estação de metrô. Eram seis estações até a minha. Para minha sorte, o prédio em que trabalhava ficava exatamente sobre a estação de metrô. Uma escada rolante fazia a comunicação entre a estação e a entrada do prédio. Em meio àquele terror, era tudo de que eu precisava.

Mas um dia, tive que ir ao prédio principal do Fundo, a dois quarteirões de onde eu trabalhava. Naquela altura, já havia ocorrido o assassinato no Distrito de Colúmbia. O que havia de comum entre as vítimas era que, no momento em que foram alvejadas, estavam paradas ou andando despreocupadamente. O negócio era não ficar parado para não dar chance ao sujeito. Ao chegar perto do cruzamento da 19th St. com a Pennsylvania, o sinal estava fechado e eu teria que esperar. Não teve outra: fiquei zanzando de um lado para o outro. Se ele tivesse que atirar em mim, eu não seria um alvo fácil.

Num sábado, iríamos a uma festa na casa de uma amiga em Germantown, Maryland, que ficava razoavelmente longe da nossa casa. O problema era que a gasolina do carro não daria para irmos e voltarmos e, ninguém esquecia, uma das vítimas havia sido morta enquanto abastecia o seu táxi. Que dureza! Não podíamos deixar de ir à festa, então não houve saída. Fomos ao posto onde costumávamos abastecer. Vale lembrar que aqui, como na maioria dos estados americanos, não há frentistas nos postos. É o próprio motorista quem abastece. Mas eu não vou me esquecer da cena nunca mais. Uma senhora parou, desceu, enfiou a mangueira de abastecimento no carro e voltou rapidinho pra dentro do veículo, onde ficou toda encolhidinha. Eu, um tantinho mais corajoso, fiquei do lado de fora, mas me vali do mesmo expediente: andei pra lá e pra cá enquanto tentava adivinhar onde o safado poderia estar escondido.

Pode-se dizer que o mais perto que os assassinos estiveram de nós foi quando mataram uma senhora no estacionamento do Home Depot da Arlington Boulevard onde fizemos compras algumas vezes. Assim como em todos os outros casos, era a pessoa errada no lugar errado. Enfim, quando John Muhammad e Lee Malvo foram presos, houve um misto de alívio, claro, e surpresa, pois ninguém imaginava as circunstâncias em que os crimes ocorreram nem que um adulto e um menor podiam ter iludido a polícia por tanto tempo. Com a morte de Muhammad, restou Malvo. Como era menor quando cometeu os crimes — atirou em três pessoas, inclusive na senhora do Home Depot —, não pôde receber a pena capital, mas passará o resto de seus dias na cadeia.

Outdoor interessante em Nova Iorque



Estava na Broadway, próximo ao Columbus Circle, quando vi este outdoor. Propaganda do filme 2012, com estréia programada para esta sexta. Mais um daqueles em que o mundo se vê à beira da destruição e por aí vai. Não esperem me ver no cinema porque não é o meu estilo de filme.

O caso Uniban

Aquela história da menina do vestido curto da Uniban está mal contada. A faculdade expulsa a menina pelos jornais e depois volta atrás. A moça, por sua vez, posa de vítima, porém só aparece com roupas insinuantes nos vídeos sobre o caso disponíveis na Web. Aquele santo tá querendo reza, viu?! O desfecho disso tudo ninguém sabe, mas as revistas masculinas nacionais já devam estar de olho na boutique dela. Não me espantaria se, nos próximos meses, ela aparecesse ao natural estampando as páginas de uma delas.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Let’s play ball!

Que história é essa de play ball? Afinal de contas, isso não vai ser ouvido até o ano que vem. Ontem os Yankees, de Nova Iorque, derrotaram os Phillies, da Filadélfia, na sexta partida e fecharam a World Series, a série de sete jogos que decide o campeonato de beisebol dos Estados Unidos. Agora são 27 World Series para os Yankees, os maiores campeões da história do beisebol americano e a equipe com mais títulos entre todos as equipes de esportes profissionais disputados nos EUA.

O beisebol é mais do que um esporte para os americanos. É o national pastime, o passatempo nacional. Mas nunca me agradou. Quando morava na Califórnia, ligava a TV no começo da tarde e jogavam os Dodgers, de Los Angeles, contra uma equipe lá qualquer. Não me interessava nem um pouquinho e eu simplesmente desligava o aparelho. No fim da tarde, umas três horas depois, tornava a ligar a TV e os caras ainda estavam jogando. Já imaginou? Eu ficava pensando nos pobres que estavam lá assistindo ao jogo no estádio. Um joguinho que não acaba nunca. Mas uma vez, um colega inglês me disse que uma partida de críquete podia muito bem durar dois dias. Jesus crucificado!

Contribuía para a minha birra com o beisebol o fato de eu não entender o jogo. O arremessador pegava a bola, se punha lá naquele montinho e aí vinha aquele ritual: girava o braço, mascava sei lá o quê (fumo, descobri depois), cuspia, coçava o saco, girava de novo o braço, coçava mais uma vez e arremessava. Do outro lado, o rebatedor nem se mexia. E eu olhando aquilo. Depois de toda aquela mise-en-scène, o cara nem fazia menção de rebater a bola?! Tá louco! Tremenda perda de tempo.

Adiantemos uns bons 10 anos, até 2003. Era a noite de 15 de outubro e eu estava no Hospital George Washington. Clarissa havia nascido de manhã e eu acompanhava mamãe Érica no hospital. As luzes do quarto apagadas e eu lá, embutido num sofá-cama extremamente desconfortável. Decidi ligar a TV e ver o que passava. Num dos canais, beisebol, World Series. Resolvi assistir, com a TV quase sem som. Comecei a entender o jogo. Strikes, outs e por aí vai. Havia uma área imaginária, a zona de strike, onde a bola devia ser arremessada. Se viesse fora daquela área, o rebatedor nem precisava se preocupar. Era por isso que ele não fazia menção de rebater. Ah! Agora sim.

Entendi o suficiente do jogo para não ficar boiando, mas ainda assim não aprendi a gostar dele. Tanto que só agora, após sete anos e meio vivendo aqui em Washington e outros dois na Califórnia, resolvi ir a um ballpark, como eles chamam os estádios de beisebol. Já havia visto ao vivo todos os principais esportes deles: basquete, futebol americano, hóquei no gelo, tênis. Não poderia ir embora daqui sem ir a um jogo de beisebol. Imbuído desse espírito, peguei o metrô no dia 9 de setembro e fui ao National Park ver os Nationals, o pior time da liga, enfrentar os Phillies, os campeões de 2008. Claro, eu nem sabia que os Phillies haviam se sagrado campeões no ano anterior. Fui descobrir isso durante o jogo.



A primeira impressão foi muito boa. O National Park é muito bonito, com tudo muito limpo e organizado. Pena que eram tão poucas pessoas para o tamanho do estádio; estavam mais para testemunhas do que torcedores. Já era o fim da temporada regular e, se considerarmos que cada equipe joga 162 partidas no ano, sem contar os playoffs, os torcedores de Washington já deviam estar cansados de ver o time apanhar. Vale notar também que, conforme mencionei na semana passada, os torcedores de um e de outro time ficam misturados, sem atrito.



O jogo propriamente dito é enfadonho. É o esporte perfeito para a TV, pois é um interminável para-e-continua. E você fica ali sentado vendo aquilo. Vez ou outra o rebatedor acerta a bola e aí é aquela empolgação, que dura pouco. Os lances são muito rápidos e esses momentos não devem somar nem um terço do tempo total da partida. Enquanto isso, a turma come. E como come. E bebe também, claro. E parecem não dar a mínima bola para o que está ocorrendo no jogo. Você fica se perguntando se estão ali para ver o jogo ou para encher a pança. O pior é que nada é barato. Uma garrafinha de cerveja long neck custa 7,50 dólares. Com o que se paga por três garrafas, dá para ir ao Costco, um atacadista, e comprar uma caixa com 24 garrafas. Sai caro ir a um jogo desses. É por essas e outras que a turma aqui vive endividada.



Bom, no fim das contas, o jogo foi até disputado, porém o time da casa, como se esperava, acabou amargando mais uma derrota. Mas ainda havia outro jogo, pois eu queria conhecer mais um estádio. Mas isso é assunto pra amanhã. Boa noite.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Os recatados do ABC

Fiquei mais de uma semana sem escrever porque viajei a Nova Iorque para participar do congresso anual da Associação Americana de Tradutores. Foram cinco dias longe de casa e praticamente afastado do computador, o que não foi de todo ruim. Mas o que vi por lá vai servir de inspiração para vários textos, como eu disse no Twitter há alguns dias. Mas vamos ao assunto de hoje, antes que ele caduque.

Viajei na quarta-feira e fiquei sem acompanhar o que ocorria no Brasil. Ao retornar, me espantei com aquele caso da universitária da Uniban e seu vestidinho cor-de-rosa. De onde saiu aquele recato todo? Por que a revolta com a menina? Sim, estava curto, mas precisava hostilizá-la a ponto de ela ter que sair escoltada da faculdade? Não me surpreenderia se a turma iniciasse um coro de gostosa ou coisa que o valha, mas chamá-la de "puta" foi exagero.

Que fique claro, não achei a roupa apropriada para o local. Na verdade, o vestido era curto demais para qualquer ocasião. Sempre achei que, se há muita carne à mostra, o resto não deve servir para muita coisa. E isso se aplica também aos homens. Mas voltando às mulheres, entendo que algumas põem uma roupa mais curta ou chamativa para atraírem os homens, mas será que não percebem que acabam nos atraindo pelos motivos errados? Essa aí é só pra farra, olha a roupa dela, pensamos nós. A mulher mais bonita e charmosa (charme, meninas, o negócio é charme) pode muito bem estar coberta da cabeça aos pés, sem revelar muita coisa. É esse o segredo.