sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Let’s play ball!

Que história é essa de play ball? Afinal de contas, isso não vai ser ouvido até o ano que vem. Ontem os Yankees, de Nova Iorque, derrotaram os Phillies, da Filadélfia, na sexta partida e fecharam a World Series, a série de sete jogos que decide o campeonato de beisebol dos Estados Unidos. Agora são 27 World Series para os Yankees, os maiores campeões da história do beisebol americano e a equipe com mais títulos entre todos as equipes de esportes profissionais disputados nos EUA.

O beisebol é mais do que um esporte para os americanos. É o national pastime, o passatempo nacional. Mas nunca me agradou. Quando morava na Califórnia, ligava a TV no começo da tarde e jogavam os Dodgers, de Los Angeles, contra uma equipe lá qualquer. Não me interessava nem um pouquinho e eu simplesmente desligava o aparelho. No fim da tarde, umas três horas depois, tornava a ligar a TV e os caras ainda estavam jogando. Já imaginou? Eu ficava pensando nos pobres que estavam lá assistindo ao jogo no estádio. Um joguinho que não acaba nunca. Mas uma vez, um colega inglês me disse que uma partida de críquete podia muito bem durar dois dias. Jesus crucificado!

Contribuía para a minha birra com o beisebol o fato de eu não entender o jogo. O arremessador pegava a bola, se punha lá naquele montinho e aí vinha aquele ritual: girava o braço, mascava sei lá o quê (fumo, descobri depois), cuspia, coçava o saco, girava de novo o braço, coçava mais uma vez e arremessava. Do outro lado, o rebatedor nem se mexia. E eu olhando aquilo. Depois de toda aquela mise-en-scène, o cara nem fazia menção de rebater a bola?! Tá louco! Tremenda perda de tempo.

Adiantemos uns bons 10 anos, até 2003. Era a noite de 15 de outubro e eu estava no Hospital George Washington. Clarissa havia nascido de manhã e eu acompanhava mamãe Érica no hospital. As luzes do quarto apagadas e eu lá, embutido num sofá-cama extremamente desconfortável. Decidi ligar a TV e ver o que passava. Num dos canais, beisebol, World Series. Resolvi assistir, com a TV quase sem som. Comecei a entender o jogo. Strikes, outs e por aí vai. Havia uma área imaginária, a zona de strike, onde a bola devia ser arremessada. Se viesse fora daquela área, o rebatedor nem precisava se preocupar. Era por isso que ele não fazia menção de rebater. Ah! Agora sim.

Entendi o suficiente do jogo para não ficar boiando, mas ainda assim não aprendi a gostar dele. Tanto que só agora, após sete anos e meio vivendo aqui em Washington e outros dois na Califórnia, resolvi ir a um ballpark, como eles chamam os estádios de beisebol. Já havia visto ao vivo todos os principais esportes deles: basquete, futebol americano, hóquei no gelo, tênis. Não poderia ir embora daqui sem ir a um jogo de beisebol. Imbuído desse espírito, peguei o metrô no dia 9 de setembro e fui ao National Park ver os Nationals, o pior time da liga, enfrentar os Phillies, os campeões de 2008. Claro, eu nem sabia que os Phillies haviam se sagrado campeões no ano anterior. Fui descobrir isso durante o jogo.



A primeira impressão foi muito boa. O National Park é muito bonito, com tudo muito limpo e organizado. Pena que eram tão poucas pessoas para o tamanho do estádio; estavam mais para testemunhas do que torcedores. Já era o fim da temporada regular e, se considerarmos que cada equipe joga 162 partidas no ano, sem contar os playoffs, os torcedores de Washington já deviam estar cansados de ver o time apanhar. Vale notar também que, conforme mencionei na semana passada, os torcedores de um e de outro time ficam misturados, sem atrito.



O jogo propriamente dito é enfadonho. É o esporte perfeito para a TV, pois é um interminável para-e-continua. E você fica ali sentado vendo aquilo. Vez ou outra o rebatedor acerta a bola e aí é aquela empolgação, que dura pouco. Os lances são muito rápidos e esses momentos não devem somar nem um terço do tempo total da partida. Enquanto isso, a turma come. E como come. E bebe também, claro. E parecem não dar a mínima bola para o que está ocorrendo no jogo. Você fica se perguntando se estão ali para ver o jogo ou para encher a pança. O pior é que nada é barato. Uma garrafinha de cerveja long neck custa 7,50 dólares. Com o que se paga por três garrafas, dá para ir ao Costco, um atacadista, e comprar uma caixa com 24 garrafas. Sai caro ir a um jogo desses. É por essas e outras que a turma aqui vive endividada.



Bom, no fim das contas, o jogo foi até disputado, porém o time da casa, como se esperava, acabou amargando mais uma derrota. Mas ainda havia outro jogo, pois eu queria conhecer mais um estádio. Mas isso é assunto pra amanhã. Boa noite.

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