quinta-feira, 22 de julho de 2010

A lei das sacolas plásticas

É ponto pacífico que as sacolas plásticas, quando descartadas sem qualquer cuidado, provocam danos ao meio ambiente. Qualquer iniciativa para conter esse problema é bem-vinda, mas tenho minhas dúvidas quanto à lei que passou a valer no Rio na semana passada. Para mim, ela cria obrigações demais, será de difícil cumprimento e vai ser mais uma das tantas leis que não vai pegar. Será mais uma prova de que nós brasileiros pegamos uma boa ideia de fora, mas metemos os pés pelas mãos na hora de colocá-la em prática.

Fundamentalmente, a nova lei obriga os comerciantes do estado do Rio a deixarem de oferecer sacolas plásticas. A pergunta que vem logo à mente é: como os consumidores vão levar as compras para casa? O brasileiro até leva uma sacola, bolsa, carrinho quando vai à feira ou a uma quitanda, mas ainda não tem esse costume quando vai ao supermercado. É um habito que vai levar algum tempo para ser adotado, imagino. Eu, por exemplo, tenho duas bolsas no carro, mas quase nunca me lembro de levá-las para o supermercado quando vou fazer compras.

A lei tem detalhes que tornam seu cumprimento difícil. Caso o comerciante não se enquadre, está previsto que o consumidor que levar uma bolsa de casa tem direito a três centavos de desconto a cada cinco itens que comprar e que 50 sacolas, em qualquer estado, podem ser trocadas por um quilo de feijão ou arroz. Vai se criar a indústria da caça ao saco. Além disso, os comerciantes são obrigados a afixar placas educativas no seu estabelecimento explicando que as sacolinhas levam até 100 anos para se decomporem no meio ambiente. E claro, há uma multa, e como não, que vai de 200 reais a 20 mil reais para o comerciante que cumprir a lei. Confusão demais para o meu gosto.

Não acho que as sacolinhas, sobretudo as de supermercado, devam ser abolidas, pois já fazem parte da nossa cultura. Atire a primeira pedra quem não as usa para colocar naquele lixinho da cozinha ou no lixo do banheiro. Nos Estados Unidos, elas realmente se acumulam e ficam sem uso, pois normalmente o recipiente para o lixo é bem maior e vai no armário embaixo da pia. Concordo que trazemos bem mais sacolas do supermercado do que realmente precisamos, mas aí é só reciclá-las. Ou seja, o problema maior não é o uso que você faz das sacolas, mas sim como você se desfaz delas.

Outro ponto importante é que vão fiscalizar o cumprimento da lei. Brasileiro gosta desse negócio de fiscalização. É bem tupiniquim ser fiscalizado Precisamos ter alguém fungando no nosso cangote, olhando se não estamos fazendo alguma coisa errada, pois não sabemos andar na linha sem que alguém nos discipline. O pior é que certamente não haverá fiscais suficientes e logo esse ímpeto fiscalizador passa. Vai tudo voltar a ser como era antes e terão sido gastos recursos e energia à toa. Já vimos esse filme mais de uma vez.

Se eu fosse dono de supermercado, estaria furioso. A grande maioria das obrigações recai sobre quem vende. Vão ter que designar funcionário para receber as sacolas e contá-las, arranjar um lugar para guardá-las, educar os consumidores por meio das tais placas. A impressão que me dá é que fazem essas leis sem parar para pensar nas consequências na prática. Isso me lembra a lei recente que estabelece que as crianças até determinada idade devem andar no carro presas numa cadeirinha própria. Aprovaram a lei, mas não olharam antes se o mercado comportaria essa mudança. Foram forçados a suspendê-la.

Por que não seguiram o exemplo dos Estados Unidos? Em Washington, por exemplo, adotaram uma solução bem simples: cobrar cinco centavos por sacola. Claro, um bom tempo antes da imposição da cobrança, os supermercados passaram a oferecer bolsas reutilizáveis que o consumidor podia adquirir e, assim, fazer a sua parte. Criou-se uma única obrigação para o comerciante: contar quantas sacolas o consumidor levava para casa. E ainda se tem a vantagem de “fazer doer no bolso das pessoas”, o método mais fácil para forçar alguém a abandonar um mau hábito ou a adotar uma nova prática.

Infelizmente, mais uma vez começamos com o pé esquerdo. Agora é torcer para que, os demais estados ou o governo federal, caso este deseje fazer uma lei única para as sacolas plásticas, mirem o que foi feito no Rio e tentem fazer diferente. Claro, vai haver uma grita geral no começo (além de pagar pelas compras, tenho que pagar pelas sacolinhas?!), mas isso num instante se ajeita e o povo toma consciência do problema e adota a nova solução. É esperar para ver.

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