quinta-feira, 25 de junho de 2009

João Vicente x Salvador Cabañas

Quem me conhece sabe bem que eu adoro a natureza. Sério! Adoro a natureza lá no lugar dela e eu aqui no meu lugar. Em inglês fala-se em “the great outdoors” para referir-se à maravilha que é estar ao ar livre, em contato com a natureza. Pois eu sempre digo: “I love the great indoors.” Escalada, caminhada no meio do mato, pescaria. Eu tô fora! Nada melhor que ficar no fresquinho do ar condicionado lendo um bom livro. Tudo bem, para não me chamarem de intransigente, pode ser na beira da piscina ou na praia. Mas falando em natureza, ela veio haver-se comigo aqui no meu quintal num dia desses.

Na sexta-feira, 5 de junho, pegamos a estrada e fomos visitar alguns lugares no nordeste dos EUA. Passamos seis dia fora e, na volta, encontramos um hóspede: uma marmota (groundhog ou woodchuck, em inglês) havia se instalado ali fora. Fizera um buraco perto de uma árvore e já tinha cavado um bocado, pois já havia um monte de terra considerável do lado de fora. Após observar o bicho por alguns minutos, resolvi batizá-lo de Cabañas, em homenagem ao centroavante gordinho e chato da seleção paraguaia. O “bicho”, como Clarissa e Rodrigo passaram a chamá-lo, se encaixava bem nessa descrição.

Cabañas passeando ao sol

Telefonei para o governo local, para a área que cuidava de animais e zoonoses, para saber se não viriam apanhar o Cabañas e levá-lo embora. Negativo. Só viriam se o bicho estivesse dentro da minha casa e, obviamente, eu não estava disposto a deixá-lo entrar. Liguei para uma firma especializada na remoção de animais e se comprometeram a vir olhar o serviço. No dia seguinte, sábado, veio a cacetada: o orçamento foi de 350 dólares. Imaginava que fosse caro, pois serviço nenhum aqui sai barato, mas 350 pratas para dar um fim no Cabañas era um pouco demais. Mas ficou acertado que viriam na segunda-feira de manhã.

Passei o fim de semana pensando numa maneira de evitar pagar aquilo tudo. Cheguei a abrir o portão lá fora, na esperança de o meu convidado resolver ir dar uma volta pela rua e aí eu correr e fechar-lhe o portão no focinho. Ele é bicho, mas não é burro, claro, e não caiu nessa. Nesse meio tempo, Clarissa me implorava que não fizesse mal ao “bicho”. No domingo, conversei com um amigo e ele me disse que a solução era mais simples do que eu imaginava. Era só comprar uma jaula/armadilha por umas 50 pratas no Home Depot, colocar meia maçã lá dentro e esperar. Antes que eu me esqueça, havia dado um jeito nas costas na quinta-feira anterior e mal podia andar. A idéia de, naquelas condições, ir caçar uma marmota fedorenta (segundo o meu amigo) e possivelmente raivosa e pulguenta não me agradava nem um pouquinho, mas todo o mundo tem seu preço. A perspectiva de economizar 300 pratas mexeu com os meus brios e resolvi topar a parada. Na manhã seguinte, liguei para a firma e cancelei o serviço. Assim que melhorasse das costas, eu mesmo despejaria o Cabañas.

O embate tardou um pouco mais do que devia porque precisei ir a Boston. Mas no último sábado, no fim da tarde, comprei a jaula e preparei tudo direitinho. Seguiu tudo conforme o roteiro. Por volta das 11 da matina o Cabañas já estava enjaulado. Não poderia soltá-lo aqui por perto porque as marmotas normalmente voltam para a sua última residência. Enfiei a gaiola num saco, forrei o porta-malas do carro com saco plástico e jornal (vai que o bicho me resolve fazer uma besteira lá no carro) e o levei embora, deixando a 66 e o Beltway entre ele a nossa casa. Abri a jaula perto de um parque e ele relutou, mas acabou saindo num pique sem nem agradecer a acolhida das últimas duas semanas. Por via das dúvidas, a jaula está lá fora preparadinha para o caso de o Cabañas ter deixado para trás um parente. Felizmente, até agora nada, mas ainda me toca consertar o estrago que ele fez. Vou ligar para uma firma de jardinagem que deixou o cartão aqui na porta outro dia. Só espero que o serviço não saia caro porque senão…

Cabañas devidamente enjaulado e, ao fundo, o monte de terra que cavou para fazer sua toca.

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