sexta-feira, 28 de maio de 2010

Fiscalização eletrônica

Para começar esses papos sobre tradução, algo que todo o mundo conhece. No fim de semana passado, fomos a Campos do Jordão visitar uns amigos. Pela Dom Pedro e Carvalho Pinto, se lia nas placas: "Fiscalização Eletrônica". Mas como se diz isso em inglês?

Se você pensou em electronic fiscalization, já comeu bola. Para começar, fiscalization não tem esse sentido do qual estamos tratando no português, como já mencionei num artigo neste blog. Mas não se aflija. As opções são várias:

Nos EUA, normalmente se vê uma placa branca com o limite de velocidade (speed limit) e, abaixo, os dizeres photo enforced. Mas e se for no sinal (ou farol, como dizem aqui em São Paulo)? Red light e, logo abaixo, photo enforced é bem comum, assim como o desenho clássico do sinal, com as três luzes coloridas, e photo enforced abaixo.

Outras expressões úteis nesse contexto são red light camera, speed camera, electronic speed tickets, e-tickets. Existe até um site, www.photoenforced.com, em que você pode verificar onde estão localizados os “pardais” nas ruas e estradas dos EUA. Evidentemente, a melhor opção no seu texto vai depender, como tudo na tradução, do contexto.

Mais tradução

Há tempos venho pensando em passar a escrever mais sobre tradução neste espaço. A partir de hoje, começo a pôr essa ideia em prática. Mas não esperem ensaios sobre teoria da tradução. Teoria não é a minha; gosto da prática. O que pretendo fazer é mais ou menos na linha do “mas como é que a gente traduziria isso?” Vou pegar coisas que encontro no dia a dia, seja na rua, no jornal, na Internet. Não fiz opção por esta ou aquela língua de partida. Também vou aproveitar para lançar um olhar crítico sobre o que se escreve por aí e mostrar que a coisa está cada vez mais feia.

É bom frisar que as sugestões de tradução a serem apresentadas são exatamente isso: sugestões, pois, com muito mais frequência do que imagina o leigo, há mais de uma forma de traduzir uma palavra, expressão, frase. Minhas traduções vão se basear na minha experiência, sobretudo com o inglês americano e os Estados Unidos, e podem diferir da sua tradução. Assim, acolherei críticas, sugestões, comentários, especialmente aqueles com soluções que funcionariam em outros países. O espaço é livre.

Por fim, antes que perguntem, os textos pessoais vão continuar, entremeados com os artigos sobre tradução. Ainda não vejo a necessidade de separar as duas coisas. Aquele abraço.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

A língua nossa de cada dia

Após ter passado praticamente a vida inteira em Brasília, minha cidade natal, e os últimos oito anos nos EUA, vim morar no interior de São Paulo, a mais ou menos uma hora da capital. Nesses quatro meses que estou aqui, tenho, como sempre, prestado muita atenção no que leio e escuto. Algumas coisas têm chamado a minha atenção, umas positivas, outras nem tanto.

Logo que chegamos, mais precisamente quando a Érica começou a dar aula, descobrimos com os alunos dela que uma coisa que sempre gostei de fazer tem nome. Desde pequeno, sempre tive o costume de molhar o pão ou a torrada ou o biscoito no café com leite. Aqui na região de Campinas, chamam isso de pochar. Conheciam? Serve também quando se molha o pão na sopa, no chá, etc. Entrou, claro, para o meu vocabulário.

Outra coisa que me chama a atenção aqui é o costume das pessoas de chamar as outras apenas pela primeira sílaba do nome. Não me lembro de fazermos isso em Brasília. Aqui é muito usual. Na escola, as crianças são chamadas de Rô e Clá. Pode?! E pensa que eles gostam? Já os instruí a responder que é Rodrigo e Clarissa. Mas para ter uma ideia de como é sério isso aqui, uma frase como esta seria perfeitamente compreensível na família da minha mulher, de São José do Rio Preto: “Pá, fala pra mã que a Dá, a Mi, o Fá e a Mê vão passar o fim de semana na casa da Vã e do Ju. Será que é costume só aqui em São Paulo ou isso é usual em outras partes do Brasil?

Mas tenho visto uma também que, vamos ser sinceros, é bem feia e, por mim, deveria sumir. Que história é essa de “chupa”? Quando o Flamengo eliminou o Corínthians na Libertadores, recebi um email de um amigo são-paulino com os dizeres “Chupa timinho”. No Twitter foi um tal de “Chupa Flamengo” após a eliminação da Libertadores. Mas não é só com time de futebol. No Twitter mesmo se lê Chupa PT, Chupa Garotinho, Chupa Dilma. Quando saí do Brasil no comecinho de 2002, eu não ouvia isso. De onde veio essa besteira? Tá bom de ela voltar pra lá e não aparecer mais.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Caro carro, carro caro (2)

A título de comparação, hoje deu no G1 que a Chevrolet vai lançar o sedã Malibu aqui no Brasil (http://tinyurl.com/38pljsx). O Malibu é um carrinho normal nos Estados Unidos, não é considerado um carro luxuoso. Lá, custa a partir de 22 mil dólares (http://tinyurl.com/29q637j). Aqui, vai custar a partir de 90 mil reais e, vejam só, vai ficar posicionado entre o Vectra e o Ômega. Mais um básico americano vendido aqui como carro de luxo e por um preço exorbitante.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Caro carro, carro caro

No fim de semana, li reportagem da revista Exame sobre o porquê dos automóveis serem tão caros no Brasil, tanto em termos absolutos como em comparação a outros países emergentes como o nosso. Para mim, dois pontos se destacaram, um evidente e outro que talvez não venha de imediato à ideia.

O primeiro é que uma boa parcela do preço dos carros é imposto. O governo arrecada muito e, claro, não vai abrir mão dessa fonte de receita só porque o povão quer carro mais barato. O segundo e, para mim, o pior, é que, apesar dos preços altos e das condições de crédito escorchantes, nunca se vendeu tanto carro no Brasil. Se vende tanto, por que as montadoras e revendedoras baixariam os preços? Ora, se a demanda pela minha mercadoria é grande, posso subir meu preço ou, ao menos, mantê-lo lá em cima.

Em suma, se alguém tinha alguma esperança de um dia não ter que gastar uma fortuna na hora de comprar um carro, pode ir tirando o cavalinho da chuva porque isso não vai ocorrer tão cedo. Assim como em tantos outros casos, continuaremos a pagar caro por um bem de qualidade inferior à que se consegue, por bem menos, em outros países.

sábado, 15 de maio de 2010

Chutes e pontapés

"Quando vamos subir no palco, o espírito é sempre esse: vamos chutar uns traseiros!" (Frase extraída da entrevista com Tom Hamilton, baixista do Aerosmith, publicada no caderno C2+música do Estadão de hoje e também no site do jornal (http://tinyurl.com/3687fqf).

Você aí que me lê, mas não fala inglês, deixa eu fazer uma pergunta: Entendeu o que esse cara quer dizer com essa história de subir ao palco e aplicar pontapés na bunda dos outros? Que história amalucada, hein? Faz sentido pra você?

Claro que não faz sentido. Na verdade, quem merece uns chutes é a anta do tradutor. Num contexto como esse, quando o sujeito diz que vai kick some ass, está simplesmente dizendo que vai botar pra quebrar ou, caso você prefira usar uma palavra chula como no inglês (ass não é palavra que se diga na frente da avó), botar pra foder (ou fuder, como preferem alguns).

Essa história me fez recordar de outro erro no mesmo estilo. Uma vez li que a Madonna havia dito que uma determinada música lhe havia arrancado as meias (had knocked her socks off). Música arrancando meia é brabo, hein?! A música havia simplesmente arrebatado a Madonna, lhe agradado em cheio, só isso.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Back in the saddle

After eight years as a staff translator at the IMF, my employment relationship with the Fund finally came to an end yesterday. This means I am now free to take any job or work that comes my way. I have set up shop in the São Paulo area and, for the time being, will be pursuing a freelance translator career.

Although I started out as a freelancer, working in-house for eight years makes it fell like I’m starting afresh on a completely new job. It’s not quite like that, but it’s still an exciting challenge.

So, JV is now open for business. Bring it on!

x - x - x

Após oito anos trabalhando como tradutor concursado no FMI, meu vínculo empregatício com o Fundo foi finalmente encerrado ontem. Isso significa que agora estou livre para aceitar o trabalho ou emprego que bem entender. Por ora, vou trabalhar como tradutor freelance na região de São Paulo.

Embora tenha começado como freelance, após trabalhar oito anos fora desse mercado, tenho a sensação de que estou começando num emprego totalmente novo. Claro, não é exatamente por aí, mas ainda assim tem um gostinho de desafio.

Portanto, estou de volta ao mercado e aberto a projetos e parcerias. Vamos em frente.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

A conta de luz e o frio

Na sexta-feira chegou a conta de luz. Duzentos e cinquenta e sete reais e uns quebrados! Se considerarmos que a casa em que moramos não tem calefação nem ar condicionado, uma conta dessas é uma fortuna, um disparate. Fico maluco quando penso que tenho que pagar tudo isso e, mesmo assim, passar calor no verão e frio no inverno. Gasta-se um montão e não se tem conforto, o que se aplica a vários aspectos da vida no Brasil. Nos EUA, pagava proporcionalmente menos pela energia, pois morava numa casa talvez um terço maior do que esta, com sistema de ar condicionado e aquecimento central. Mas é que somos roubados, sobretudo pelo governo. Nessa conta, só de ICMS, estão me tomando quase 65 reais.

x-x-x

Hoje amanheceu frio aqui em Vinhedo. Às 7h, fazia uns 13°. Meus amigos americanos certamente vão dizer que 13° não é frio. É, não é exatamente frio. Mas se você tem que ficar numa casa sem aquecimento, sentado à frente de um computador, batucando no teclado, aquele friozinho vai aborrecendo, vai fustigando o cristão. Encheu tanto o saco que fui calçar meias e mantive a calça jeans que pus para ir comprar o meu jornal e uma rúcula para o almoço. Olha, dá para dizer até que se sofre mais com o frio aqui do que lá onde morávamos. Mas lá fazia temperatura abaixo de zero, nevava, diriam os mais friorentos. Sim, mas dentro de casa era quentinho. Aqui, você não tem para onde correr. O jeito é se agasalhar todo, o que me desagrada. Casaco dentro de casa não dá.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Coisas que te deixam com os olhos marejados

Promessa é dívida: A tradução (livre, bem livre) do texto em inglês do dia 28 de abril.

"Acabei de receber uma mensagem da ex-professora da Clarissa do primeiro ano, lá da escola da Virgínia. Ela juntou recados enviados à Clarissa por alguns dos ex-coleguinhas. É o tipo de coisa que te deixa com os olhos marejados.

'Querida Clarissa,

A turma sente muita saudade de você! Temos umas coisinhas pra te dizer:

Espero que esteja curtindo aí no Brasil e torço para que se divirta bastante. (Caroline)

Espero que esteja se divertindo aí no Brasil. Você ainda tem aquele peixinho? (Natalie)

No Dia da Terra, demos um pulo fora da escola com os nossos colegas do quinto ano. Encontramos um monte de lixo e ajudamos a Terra. Você ainda está no meu coração e sinto muita saudade de você. Queria muito que você tentasse arrumar um voo para voltar com a sua família e vir à escola nos visitar. Queria que ficasse aqui pra sempre. Tenho certeza de que todos gostariam de te rever. (Kinsley)

Sinto tanta saudade de você! Estamos no quarto livro da Mrs. Piggle-Wiggle (Mitchell)

Espero que esteja curtindo bastante a sua nova escola. (McKenzie)

Quando estávamos catando lixo, encontramos uma canoa, mas não a jogamos fora; seria grande demais. (Christopher)

Sentimos muita saudade de você e torcemos para que volte. (Kate)

Clarissa, sentimos muita saudade de você. Esperamos que esteja se divertindo com sua família. Tem um menino novo, chamado Taylor, na nossa sala. Espero que esteja curtindo o Brasil. Adoramos quando você estava aqui conosco e ficamos tristes porque foi embora, mas ainda guardamos você no coração. Adoro você como amiga. Estamos muito felizes que você está se divertindo aí na sua nova casa. Sentimos muita saudade. Gostei pra valer de brincar com você e ainda guardo você no meu coração. (Brennan)

Espero que esteja gostando da sua nova casa. (Emily)

O tempo aí no Brasil é frio ou quente? Acho que deve ser quente porque fica perto do Equador. (Taylor)

Espero que esteja se divertindo aí no Brasil. (Eli)

Tem Dia da Terra aí no Brasil (Daniel B)

Espero que ainda esteja se divertindo aí no Brasil (Daniel F)'

O engraçado foi que, ontem à noite, a Clarissa pediu para dar uma olhada no scrapbook que deram para ela um dia antes de partirmos. Olhou detidamente cada página e, hoje de manhã, pediu para levá-lo para a escola, para mostrá-lo aos coleguinhas. Pra mim, foi uma coincidência assustadora.

Vou imprimir a mensagem da professora e deixá-la na cama da Clarissa. Vai ser uma tarde de fortes emoções."
 
Até que ela reagiu bem. Ficou felicíssima ao ler os recados. Os olhinhos brilhavam, mas não houve drama nem chororô porque queria voltar pra lá. Isso é bom.

Bem que eu queria ir

É, bem que eu queria ir ao Pacaembu logo mais, dar uma força para o meu Mengão, mas não vou. E não é porque não consegui ingresso. Na verdade, nem procurei. Achei melhor ficar em casa e ver pela TV. Afinal de contas, não é de hoje que ir a um estádio de futebol no Brasil é quase sempre um programa de índio com selo de qualidade Funai.

No comecinho de fevereiro, menos de duas semanas após voltarmos para o Brasil, estávamos hospedados na casa de uma prima da Érica, perto de Campinas. O marido da prima, corinthiano, me chamou para irmos ver o Timão enfrentar a Ponte Preta lá no Moisés Lucarelli, o Majestoso (que devia ser majestoso quando foi inaugurado; agora está de dar pena). Fomos, mas que situação. Saímos de casa como se estivéssemos indo para a guerra. As mulheres nos cobriram de recomendações e pediram que tomássemos cuidado e não sei mais o quê. Ficaram em casa preocupadas. Pode?

Eu fico me lembrando de quando ia a praças de esportes lá nos EUA. Nem passava pela cabeça da Érica que eu poderia correr algum risco lá no jogo. Corria tudo na maior tranquilidade, na maior civilidade. Não havia esse negócio de uma torcida entrar por um lado e outra por outro; nada de um torcedor intimidar o outro, dar “pescotapa”, jogar xixi. Isso é coisa de bicho. Cada um torce para o time que bem entender, ora!

Mas voltando ao clássico Macaca x Timão, que experiência! No campo, o jogo até que foi bom, bem movimentado, disputado. Mas o resto foi triste. Na chegada, você já fica preocupado com o carro. Onde estacionar? Por que dar 10 reais para um vagabundo que diz que vai “tomar de conta”, mas vai embora para casa aos 5 minutos do primeiro tempo? Será que o carro vai estar lá quando voltarmos? Mas o negócio é entregar a Deus e torcer para que nada ocorra.

Lá dentro, a coisa piorou. Acabei no meio da torcida do Corínthians, entre a Camisa 12 e a Pavilhão 9. Já imaginaram que beleza? E ai de você se der pinta de que não torce para o time deles. Você fica lá tenso, acompanhando o jogo, mas sem deixar transparecer que está ali apenas para apreciar a partida. Para salvar a minha pele, eu reclamava de um ou outro jogador, xingava o juiz. Apanhar é que eu não iria, ora! É uma pena que seja esse o clima em grande parte das arquibancadas dos estádios brasileiros. Ou você se enquadra e segue o que o chefe mandar, ou então corre sério risco de não sair dali inteiro.

Mas o pior ainda estava por vir. Em dado momento, uma das organizadas quis esticar a sua faixa ali na frente e também mostrar que estava ali seguindo o seu time. Outra, que já estava com a sua faixa colocada desde o primeiro tempo, se melindrou e não quis afastar a sua faixa para dar espaço para a da outra. Começaram a se olhar feio, e eu pensando, “Não, esses animais não me vão brigar aqui por causa de uma porcaria de uma faixa”. E enquanto isso, a polícia só olhava e o Finazzi, ex-jogador corinthiano, virava o jogo para a Ponte. Pronto, aquele gol tinha tudo para desencadear um quebra-pau generalizado. Era o programa de índio se tornando cada vez mais real.

Mas tudo acabou bem. Fomos embora rapidinho tão logo o juiz apitou o fim da partida, encontramos o carro onde o havíamos deixado e chegamos em casa sãos e salvos, para o alívio das esposas. Mas peraí? Isso é lá diversão? Duas, três horas de tensão apenas porque saímos de casa para ver um jogo? Já está mais do que na hora de as autoridades apertarem essa turma barra pesada travestida de torcedor, afugentá-los dos estádios e tornar um jogo de futebol um programa família, como o é qualquer evento esportivo nos Estados Unidos. Um dia chegamos lá.

sábado, 1 de maio de 2010

"Quando vamos subir no palco, o espírito é sempre esse: vamos chutar uns traseiros!" Frase tirada da entrevista com Tom Hamilton, baixista do Aerosmith, publicada no caderno C2+música do Estadão de hoje, bem como no site do jornal (http://tinyurl.com/3687fqf).

Você aí que me lê, mas não fala inglês, deixa eu perguntar: O que você entende por isso aí que o Hamilton disse? Que história amalucada é essa de subir no palco e chutar a bunda dos outros? Faz sentido pra você?

Claro que não faz sentido. Na verdade, quem merece uns chutes é a anta do tradutor. Num contexto como esse aí, quando o sujeito diz lá em inglês kick some ass, ele quer dizer, em bom português, botar pra quebrar ou, se você quiser usar uma expressão chula como a do inglês (ass não é palavra que se diga na frente da sua avó), botar pra foder (ou fuder, como preferem alguns).

Essa aí me fez lembrar de um outro erro no mesmo estilo. Uma vez li em algum lugar que a Madonna havia dito que determinada música lhe havia arrancado as meias (it had knocked her socks off). Em português, música arrancar meia é de lascar, hein?! A música arrebatou a Madonna, a agradou em cheio. As meias, tenho certeza, não saíram dos pés dela.