quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Herança maldita

E a Dilma insiste nesse negócio de simplesmente sacar o ministro e deixar o ministério na mão de um partido que está mais interessado em mamar nas tetas da viúva. Tudo em nome da tal governabilidade. Trocando em miúdos, para governar, se é que se pode chamar assim, é preciso fazer vista grossa e deixar a turma se locupletar. Dividamos o butim entre nossos aliados para podermos ter maioria no Congresso e aprovar... Aprovar o que mesmo? O Congresso tem efetivamente aprovado alguma coisa relevante para melhorar a vida das pessoas e pôr o país no rumo do crescimento sustentado? E o Lula passou oito anos bradando contra uma tal herança maldita. Estou para ver herança mais maldita do que essa que ele legou à Dilma.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Vida dura

Hoje me contactou uma gerente de projeto com uma proposta. Era um projeto com muitos arquivos, entrega em deferentes datas ao longo de outubro e um bom número de arquivos a serem devolvidos já nesta segunda. Para piorar, avisaram que o cliente estava com o dinheiro contado. Ou seja, além de ter que trabalhar no fim de semana, eu teria que trabalhar por pouco. A gente não tem refresco nem no nosso dia, ora! Como eu já havia planejado passar um fim de semana mais sossegado, sugeri à moça que talvez o cliente precisasse refazer seu planejamento e acrescer mais uns dias. Não me agrada nem um pouco a ideia de ficar trabalhando enquanto o cliente e a gerente de projeto passam um fim de semana tranquilo porque o trabalho está sendo feito. É só venha a nós, o vosso reino que é bom nada?!

Mas por que estou contando essa história? É a minha maneira de desejar um feliz Dia do Tradutor aos colegas (ainda não terminou; daqui a pouco vou tomar um vinhozinho para relaxar e marcar a data). Que nós tradutores saibamos nos impor, buscar sempre ganhos e condições de trabalho melhores e, acima de tudo, zelar pela nossa saúde. E que clientes com essas propostas indevidas se tornem minoria. Como diria um velho colega, a luta continua!

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

O time está lesionado

Ler o caderno de esportes do jornal se torna cada dia mais irritante e não é porque o meu time está mal das pernas. Antigamente, se falava em contusão, um atleta se contundia. Hoje em dia, só existe lesão. O cara vê injury, escreve lesão. Há não muito tempo, havia equipes nos mais diversos esportes. Ferrari, Williams eram equipes de F1. Agora é tudo time, mesmo longe do contexto esportivo. Ainda me lembro de quando visitei uma empresa nos EUA e a tradutora me mostrou onde ficava o "time de português". Pensei, "Sei...".

Se é para traduzir por reflexo, automaticamente, há quem o faça melhor do que nós e a um custo infinitamente menor: a máquina. Se você quer continuar a ganhar a vida traduzindo, faça-o direito porque senão vai ser alijado... e não demora muito. E não perco por esperar a substituição do bom e velho trabalho de equipe por algo mais moderno: o "trabalho de time". Safa!

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Deu no Estadão: "Projeto do Senado libera contratação de professores universitários sem pós. Se aprovado, projeto de lei que deve ir à votação dia 12 alterará a Lei de Diretrizes e Bases e permitirá que graduados sem títulos deem aula em caráter temporário - status que pode ser renovado indefinidamente. Proposta agrada a instituições particulares."

Tem gente por aí que torceu o nariz, mas sabe que eu gostei da ideia? Eu me encaixaria nisso aí. Dei aula durante dois anos no curso de tradução da UnB como professor substituto e gostaria de voltar a dar aulas. Aula é uma cachaça, é bom demais. Mas como não tenho mestrado, quanto mais doutorado (não é o meu perfil), fico praticamente impedido. Mas tenho certeza de que, com a minha experiência, teria mais a oferecer aos alunos do que gente que está aí nas universidades Brasil afora apenas exibindo seu título de doutor e encangando grilo. Meu único temor é que o salário, que já é baixo, vai ser ainda menor. Se já fazem aquela safadeza de pagar a um doutor salário de mestre quando completam o mínimo de doutores exigido pelo MEC, imagina o que não farão com os pobres graduados. Vamos ver no que vai dar.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Elucubrações tradutórias

Vinha eu ouvindo um artigo da Economist sobre systemically important financial institutions. Pensei comigo: quer apostar como escolheram a tradução mais feia para esse monstrengo? Fui ao Google:

Instituições financeiras sistemicamente importantes: 6270 páginas

Instituições financeiras de importância sistêmica (um pouco mais eufônico, sem o mente): 25 páginas

É nisso que dá deixar a tradução na mão do "pessoal da área" (no caso, na mão de economistas, gente, que, não raro, não tem lá muita intimidade com a inculta e bela). É por essas e outras que defendo que a tradução seja feita por um tradutor (um bom tradutor, claro, que conheça o assunto) e revisada por alguém da área. É a melhor maneira de garantir um trabalho de primeira.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Receita de sucesso

Acabei de enviar uma mensagem pelo Facebook. Surgiram na tela os dizeres: "Your message was successfully sent." Meu detector da possibilidade de tradução porca apitou. Para quem tem o Facebook em português, o que é que aparece nessa hora? Quem traduziu preferiu o simples e direto "sua mensagem foi enviada" ou ficou quebrando a cabeça para meter esse successful e produziu um monstrengo como "sua mensagem foi enviada com sucesso" ou "o envio da sua mensagem foi bem-sucedido"?

Se você ainda não percebeu, os anglofalantes são fissurados nesse negócio de sucesso e fracasso. A toda hora aparece failure ou success. He failed to do this, failed to do that. He successfully completed the task. É uma das muitas esquisitices da língua deles. Bom, de esquisitice o português também está cheio. Para que mais uma, né não? Quando aparecer successful e assemelhados, tradutor, olhe com carinho que, não raro, dá muito bem para você passar sem eles. A inculta e bela agradece.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

E o inverno ainda nem chegou

Tem feito frio aqui (muito frio, diria o brasileiro típico). A mínima tem estado na casa de oito, nove graus Celsius. Não temos aquecimento, então só nos resta meter uma meia no pé e vestir calça comprida, blusa. Quem sente mais frio veste até mais de uma. Seria bom se tivéssemos calefação aqui em casa, mas esse é um luxo pelo qual pouquíssimos podem pagar no Brasil, embora as casas sejam bem menores do que as dos Estados Unidos. Mas não nos esqueçamos de que a minha conta de luz é mais alta do que a que eu pagava nos EUA, onde eu podia ficar numa boa dentro de casa, de short e camiseta, fizesse um frio polar ou um calor senegalês lá fora. O interessante é que o inverno é mais rigoroso nos EUA, mas a gente consegue aproveitá-lo mais, brincando na neve, esquiando. No Brasil, se comparamos, o inverno é ameno, mas ainda faz frio suficiente para incomodar, e a estação acaba se tornando muito mais um inconveniente do que uma diversão.

Is it winter yet?

It's been chilly here (the average Brazilian would say very cold). Lows have been in the upper 40s (Fahrenheit, of course). There's no heating, so all we can do is put socks on and wear one or more additional layers of clothes, depending on your endurance. I wish we could have heating, but an insulated home is a luxury very, very few can afford in Brazil, even though the average house is significantly smaller than in the U.S. But let us not forget that my energy bill is higher than what I used to pay in the U.S., where I could sit comfortably at home wearing shorts whether it was freezing cold or unbearably hot outside. Now here's an interesting point. Winters may be harsher in the U.S., but you get to enjoy them. In Brazil, even though winters are comparably mild, they are still harsh enough to be a nuisance, and the experience is upsetting rather than enjoyable.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

O homem da articulação

Não é difícil traçar um paralelo entre a Seleção e o governo Dilma. Falta aos dois o homem da articulação. Dizem que o Ganso é a solução para o problema da equipe do Mano, mas quem vai ser o Ganso da Dilma? O homem talhado para a função, segundo o técnico "anterior", foi para o chuveiro mais cedo, e agora ela diz que vai chamar a responsabilidade para si. O meio-campo em Brasília vai continuar embolado.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

É o Pet!

Acho estranho esse negócio de fazerem a despedida do Pet em um jogo oficial, mas agora não tem mais jeito... Mas o que está me causando espécie mesmo é ver gente por aí dizer que, com a camisa rubro-negra, o Pet foi o maior depois do Zico. Peraí! Estão se esquecendo do Capacete, do Leovegildo Lins da Gama Júnior, o maior lateral-esquerdo do Brasil depois do Nílton Santos? O Júnior envergou o manto sagrado como ninguém, também deu um título brasileiro ao Flamengo, entre tantos outros, e é o jogador com mais partidas pelo Mengão. O pessoal tem uma memória curta...

Tá chegando a hora

E o presidente do PT diz que o Palocci é problema do governo e não do partido. É isso aí, filho feio não tem pai. Enquanto isso, Palocci diz que se explica hoje. Uma explicação convincente não vai fazer muita diferença. Ele selou seu destino ao falar mais grosso do que deveria com o PMDB. Na política brasileira, não se faz isso impunemente.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Au revoir

A despeito de ter sido ou não uma armação do Sarkozy, o que ocorreu no último sábado em um quarto de hotel em Nova Iorque entra para a história como um dos mais desastrados e desastrosos episódios de paudurescência de que se tem notícia. Mas o que interessa agora é o processo sucessório no FMI. Desde a criação das instituições de Bretton Woods, há um acordo tácito entre EUA e Europa para que um europeu chefie o Fundo e um americano presida o Banco Mundial, do outro lado da 19th St. Quando DSK foi indicado para suceder o espanhol Rodrigo de Rato, disseram aos emergentes que não se preocupassem porque, quando da escolha de seu sucessor, o processo seria aberto a todos e não apenas a candidatos do Velho Continente. Com a crise da dívida soberana ainda a todo vapor e o FMI injetando dinheiro a não mais poder na Europa, alguém acha que os europeus vão largar esse osso? Duvido. Os emergentes podem ir tirando o cavalinho da chuva porque ainda não vai ser desta vez.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

O livro didático

Acho que se criou uma polêmica desnecessária em torno do tal livro didático que, supostamente, ensina os alunos a escrever errado. Descontextualizaram, se esqueceram de que é um livro de EJA (educação para jovens e adultos) e não para crianças pequenas, ou seja, é feito para gente que já fala (errado ou não) há mais tempo. Confundiram válido com certo/correto. Você não pode chegar para um aluno de EJA e dizer para ele que ele não pode falar daquele jeito. “Mas como?! Sempre falei e me comunico muito bem, obrigado.” Devemos mostrar a ele que aquela forma, embora válida por ser corrente e por ser usada por muitos e compreendida por todos, não é aceita em situações em que a norma culta é exigida. Cumpre mostrar também que a norma culta lhe abrirá mais portas do que sua forma de falar, mesmo que esta lhe permita se fazer entender.

Como me lembra a minha mulher, linguista, professora, tradutora e doutora em Teoria da Literatura, o Ataliba de Castilho trata disso há tempos, mas nunca levou as cacetadas que a autora desse livro está levando. Acho eu que não levou porque o fato não chegou ao noticiário como chegou o livro do MEC e também porque ele é um nome respeitado na área. Li um comentário na Internet que resume bem a questão. Uma pessoa, intitulada Georgeumbrasileiro, disse o seguinte: “(...) o que esta cartilha ‘prega’ é mais simples do que estão querendo pintar por aí: conheça a norma culta e saiba usá-la competentemente, mas não se envergonhe de seu dialeto, que também expressa uma riqueza cultural, muito embora esta não tenha prestígio.”

Para finalizar, a Érica também me chama a atenção para algo importante. Essa discussão toda revela que o livro didático é tomado como se fosse o cânone dos cânones, a Bíblia, o que, na minha opinião, é um grande problema da educação no Brasil. O livro didático deve ser tão somente um APOIO. Se o professor não souber usá-lo e a aula não for boa, o livro, por mais maravilhoso que seja, não serve para muita coisa.

Gênio da Raça

Fico espantado com a capacidade dos nossos homens públicos em matéria de economia e finanças. Multiplicar o patrimônio 20 vezes no curto período de quatro anos não é pouca coisa. Trata-se de um ás das finanças, o gênio da raça, como diria Glauber Rocha. O que me desaponta é que, guardadas as devidas proporções, essas sumidades não consigam fazer o mesmo pelas finanças do País.

Ao contrário do Serra, acho que o Palocci deve mesmo ser arrochado. E vou mais longe. O chefe da Casa Civil deveria vir a público, em cadeia nacional de rádio e televisão, para explicar, tim-tim por tim-tim, como fez para enriquecer dessa maneira. Assim, o povão poderia tentar reproduzir a mágica em casa e sair da pindaíba. Se eu conseguisse um quarto do que ele conseguiu, já estaria bom demais.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Onde investir

Investidor, se você está aí com um dinheiro ocioso na mão, sem saber onde aplicá-lo, há um setor no Brasil que está bombando, literalmente. É o de explosivos. Se você acompanha o noticiário, verá que as duas tentativas de implodir a arquibancada superior do Estádio Mané Garrincha, em Brasília, foram frustradas. Olha aí uma brecha para quem é competente e sabe fazer o serviço direito. Outro nicho que está na crista da onda é o de explosão de caixas eletrônicos. De uns tempos para cá, aparecia um caso aqui e ali no estado de São Paulo, mas, no último mês, praticamente se explode um caixa por dia, na capital e no interior. E já estão surgindo ocorrências em outros estados. Se considerarmos que, desafortunadamente, as autoridades não dispõem de verbas para reforçar o policiamento e arrochar os bandidos, esse nicho só tende a crescer. Agora é a hora!

De cueca e calcinha na mão

Não é exagero afirmar que todos sabem o que é necessário para resolvermos muitos dos problemas do País. No campo da legislação, para ser mais específico, se conversarmos com dez especialistas em Brasil, ONZE vão dizer que precisamos de uma reforma da Previdência, uma reforma da legislação trabalhista, uma reforma tributária, uma reforma política (decente, não a que está sendo feita em Brasília). A cada legislatura, alguns otimistas ainda teimam em esperar que alguma coisa de boa saia do Congresso, para o Brasil poder deslanchar de vez. Mas é tudo em vão. Praticamente, só vêm à tona notícias de corrupção, malversação, picaretagem, se a farinha é pouca, meu pirão primeiro etc. Mas, naturalmente, sempre sobra um espacinho para o estapafúrdio.

Na semana passada, além de o Congresso não conseguir votar o tão propalado Código Florestal, foi aprovado o projeto de lei que prevê que as roupas íntimas vendidas no Brasil devem trazer uma etiqueta com alertas sobre o uso de preservativos e sobre a importância de exames preventivos contra o câncer de mama, de colo do útero e de próstata. Claro, a educação sexual e o combate a essas doenças são importantes, ninguém há de negar, mas será que uma etiqueta em uma peça íntima vai fazer tanta diferença assim? Será que o Congresso precisa mesmo se ocupar desse e de outros assuntos em detrimento de temas bem mais importantes? O Brasil poderia avançar muito mais se as tão necessárias reformas fossem votadas e aprovadas, mas nossos senadores e deputados preferem desviar sua atenção e esforços para coisas como calcinhas e cuecas. Que me perdoem a infâmia, mas é coisa de um país muito bunda mesmo!

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Choro de mau perdedor

Vários flamenguistas por aí estão culpando o juiz pela nossa eliminação na Copa do Brasil. Choro de perdedor. A arbitragem realmente foi confusa, mas perdemos por causa de duas falhas bisonhas da nossa defesa. O primeiro gol foi triste. Como é que deixam um cara daquele tamanho cabecear entre dois zagueiros? Estávamos com a faca e o queijo na mão. Dois gols em 27 minutos era melhor do que poderíamos imaginar. O time deles estava apavorado. Era metermos mais um e fecharmos o caixão, mas nossa defesa resolveu entregar. Fica a lição.

Compartilhemos

É o que eu chamo de tradução reflexiva. O tradutor reflete sobre o original, sobre o que vai escrever? Não, ele traduz por reflexo, não pensa. Um bom exemplo é o verbo inglês share. Cada vez mais, se apareceu share no inglês, é quase certo que você vai encontrar compartilhar no português.

Nestes tempos de Facebook, Twitter, compartilhar é o verbo da moda, tá bombando. Virou curinga. Uma criança não divide mais o brinquedo com outra; ela compartilha. Um dia desses, um tradutor me disse que havia sido contactado por uma colega para compartilhar um trabalho. Provavelmente, o trabalho sai melhor do que se for dividido, como se fazia há pouco tempo.

Não custa dar uma olhada no verbete share no Vocabulando, aquela joia da nossa colega Isa Mara Lando. Há ótimas sugestões para o tradutor não ficar preso no compartilhar, refletir um pouco mais sobre o que está fazendo e escrever português em vez de inglês com palavras portuguesas.

terça-feira, 10 de maio de 2011

A, E, I, O, U – Uma pesquisa informal

Faz pouco mais de um ano que estou morando no estado de São Paulo. Como estou sempre atento à língua e ao falar das pessoas, algumas diferenças me chamaram a atenção. Como já mencionei uma vez, uma que me incomodava era o hábito das pessoas de se referir aos outros apenas pela primeira sílaba. Meus filhos, com nomes tão lindos, viraram Rô e Clá. Uma frase como “Pá, fala pra mã que a Dá, a Mi e a Mê vão passar o fim de semana na casa do Ju” é perfeitamente compreendida na família da minha mulher, paulista de São José do Rio Preto. Tudo bem, faço ouvido de mercador e não dou bola. Mas tem uma diferença que ainda me incomoda: a pronúncia das vogais "e" e "o".

Fui alfabetizado em Brasília e me ensinaram que o som dessas vogais é aberto, como em pé e pó. Portanto, /a/, /é/, /i/, /ó/, /u/. Reparei que, aqui, pronunciam /ê/ e /ô/, fechados, como em vê e vô. Acho esquisitíssimo. As crianças voltam da escola falando em /ê/ e /ô/. A Érica sempre pegou no meu pé (mentira, eu que pego no pé dela) e também pronuncia /ê/ e /ô/.

Se você consultar uma boa gramática, a do Rocha Lima, por exemplo, verá que "quando em sílaba átona, anula-se a distinção, como fonemas, entre /é/ e /ê/ e entre /ó/ e /ô/, em favor das de timbre fechado". Trocando em miúdos, o correto seria /a/, /ê/, /i/, /ô/, /u/. Mas acho que não vou mudar meu jeito, burro velho que sou, e fico me perguntando: por que ensinaram errado para tanta gente? E IBGE, TRE? Não ouço ninguém dizer IBGÊ, TSÊ. Será que o som fechado é uma característica regional ou de determinados estados?

É aí que entra a ajuda de vocês. Respondam às perguntinhas abaixo. Depois compilo as respostas  e publico os resultados.

1. Como você aprendeu, aberto (/é/ e /ó/) ou fechado (/ê/ e /ô/)?

2. Onde foi alfabetizado (cidade ou pelo menos estado ou região)?

3. Onde mora hoje?

4. Continua a pronunciar as vogais da mesma maneira que aprendeu?

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Tem de saber escrever, ora!

Minha mãe sempre teve uma bronca com o curso de tradução que fiz na universidade. Ela não entendia como a UnB podia aceitar alunos que não sabiam inglês e frequentavam o curso para aprender a língua, alguns praticamente desde o bê-a-bá. Achava que deveria ser aplicada uma prova de habilidade específica para separar o joio do trigo. Mal sabia ela que o problema não era apenas o inglês, mas também o português... Bom, ela sabia, claro, que não é boba, mas, infelizmente, os alunos não são os únicos que não sabem português. Há muitos profissionais por aí na mesma situação.

Nesta semana que se encerra, me deparei com algo escrito por um tradutor, com mais de 20 anos de janela, que parecia ainda não ter sido apresentado ao cujo (o pronome e não o cachorro do Stephen King) nem sabia pontuar direito. Depois de todo esse tempo, não aprendeu o básico? O pior, assustador até, é que ele tenha conseguido trabalho durante esses anos todos. Para mim, um tradutor que não sabe português é mais ou menos como um jogador de futebol coxo; não deveria estar em campo. Mas, no caso do nosso colega, a torcida não percebe que ele está matando o time. Ele é, como direi, um Rodrigo Alvim na lateral-esquerda do meu Flamengo.

Alguém poderia sair em defesa do colega dizendo que era apenas uma coisa informal, na Internet, que não se deve levar as coisas assim, a ferro e fogo. Acho que não devemos baixar a guarda. Muitos tradutores não se dão conta de que o que eles escrevem diariamente é um belo cartão de visitas do serviço que têm a oferecer. Quando vejo um colega cometer erros crassos, penso logo que nunca dividiria um trabalho com ele. Para quê? Para depois ter de ficar consertando vírgula, corrigindo crase, acertando a concordância? De jeito algum. E tampouco o recomendaria a um cliente meu.

Outro ponto importante pode ser depreendido desse caso. Vê-se que, assim como outros ofícios e profissões, a tradução é um negócio democrático. Você não precisa ser bom tradutor para trabalhar, ao menos em alguns nichos do mercado. Seja craque ou perna-de-pau, tem lugar para todo o mundo. É só alegria! Mas isso tem hora pra acabar. A tradução automática, o Google Translate e assemelhados estão melhorando. Para que pagar um tradutor ruim se o computador dá cabo do serviço e, cada vez mais, produz coisa melhor do que os de carne e osso? Aos poucos, essa turma da tradução “intercrural”, como diria um velho amigo e mestre, vai ser alijada do mercado. É só esperar.

You call that fun?

Érica está planejando levar as crianças ao Disney on Ice em São Paulo, agora em junho. Como vai um grupo grande (16 ao todo), ficou decidido que uma prima dela iria ao Ibirapuera comprar os ingressos para evitar pagar a taxa de (in)conveniência (20% do preço do ingresso). A prima precisou levar uma irmã porque havia um limite de oito ingressos por pessoa. Pois bem, as duas chegam ao Ibirapuera e, na hora de comprar, descobrem que precisavam ter levado cópia da certidão de nascimento de todos os pequenos para poderem ter direito a pagar meia-entrada para eles. Que gostoso, hein?!

Ingressos nos Estados Unidos não eram exatamente baratos, mas saíam muito mais em conta do que aqui. A TicketMaster também enfiava a faca, cobrando taxas e mais taxas (convenience charge, facility charge, rip-you-off charge), mas era razoavelmente competente se comparada com essa tal de Tickets for Fun. Em uma cidade como São Paulo, em que uma saída de casa para comprar um ingresso pode te custar uma tarde inteira, a taxa de conveniência às vezes convém. E até entendo o limite de ingressos por pessoa, mas exigir certidão é brincadeira. Pagamos um alto preço por vivermos em um país em que muitos são desonestos ou têm fama de sê-lo, pois, mesmo sem deitarmos na cama, acabamos levando a fama.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Quero meu lugar marcado

Sabe, me dá uma tristeza quando vejo aquele pessoal acampado há dias na porta do Morumbi para ver o U2. Não é pelo U2. Eu vi esse show. É uma beleza, sobretudo aqueles timbres do The Edge. É difícil um guitarrista tocar e, na hora, você distinguir quem é. O The Edge é um desses. Mas voltando à vaca fria, seria tão mais prático se todos tivessem seu lugar marcado. No começo é meio frustrante. Eu me lembro de como fiquei chateado quando vi o Metallica e o Guns de um lugar bem ruim, no Coliseu, em L.A. Fiquei no gramado, mas no lado oposto de onde estava o palco, com aquela maldita torre de som atrapalhando a minha visão.

Mas, com o tempo, a gente se acostuma. É mais fácil. Você pode chegar em cima da hora, sair para comprar uma cervejinha, comer um negócio, ir ao banheiro, dar uma volta para espairecer. Para quem é baixinho, mulher ou mais velho, lugar marcado é tudo de bom. Uma vez levei minha mãe para ver o G3 (Satriani, Vai e Malmsteen) no Warner Theater, em DC, e ela pôde curtir o show numa boa, sem levar trancos, empurrões.

Sei que há shows pelo mundo afora sem lugar marcado. Os grandes festivais na Europa, os shows em lugares, digamos assim, mais intimistas nos EUA. Uma vez vi o Steve Vai num lugar destes, o Birchmere, em Alexandria, VA. Como fez falta um lugar marcado. Do alto do meu 1,74 e meio (esse meio centímetro já me salvou de boa), me vi cercado de gente mais alta do que eu. Foi difícil. Tentava ver o que o Vai tocava, mas só conseguia ver o homem da barriga para cima. E, se não me lembro, nem telão tinha.

No fim das contas, se você não pode ver o show direito, qual é a graça? Ficar em casa e assistir ao DVD dá quase no mesmo. Ora, quantas pessoas não vão a um show e acabam assistindo a ele pelo telão? Tem a energia, coisa e tal, mas, se a tua necessidade é energia, mete o dedo na tomada. E na minha idade, eu quero é sossego. Show agora, só na boa. Rock in Rio? Mas nem que me paguem e me levem de limusine.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Pobre consumidor brasileiro


As Lojas Americanas mostram que a relação entre comércio e consumidor no Brasil ainda tem muito a melhorar. Em suma, se der problema, o azar é seu, vá resolver com a assistência técnica. A loja quer apenas o seu dinheiro. E o consumidor vai acabar com um produto consertado em vez de novo. Esta foto foi tirada no dia 18/03, à noitinha, na loja do Shopping Valinhos, estado de São Paulo. Ah! Segundo me informa o Procon, a loja tem a obrigação de trocar o produto dentro dos primeiros sete dias da compra.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Verter ou não verter?

Numa troca de mensagens sobre as áreas em que me especializo e os tipos de serviço que presto, uma cliente pediu minha opinião sobre o termo "versão". Não sei exatamente o que ela tinha em mente, mas comecei a escrever. Depois de reler minha resposta, a achei até interessante e resolvi adaptá-la e transcrevê-la para cá.

Como termo, versão é apenas uma convenção. Convencionou-se, no Brasil e, se não me engano, apenas no Brasil, chamar a tradução para a língua estrangeira de versão. Poderia ser outro termo. Que tal transmudação? O que não dá é, como se vê muito por aí, tradutores e agências escreverem em seus websites coisas como "we do translations and versions" ou "we provide translation and version services". Um estrangeiro que desconheça as práticas do mercado local deve ficar sem entender.

Estou ciente de que esse é um segmento forte do mercado brasileiro. Na verdade, aqui no Brasil me aparece mais gente me pedindo para verter do que traduzir. Embora eu seja daqueles que acreditam que brasileiro não deveria estar traduzindo para o inglês, não fecho os olhos para o fato de que essa demanda acaba sendo atendida de uma forma ou de outra. Dependendo do serviço e do cliente, até encaro.

Também acredito que não é porque o sujeito é falante nativo de uma língua que ele vai fazer uma boa tradução. Não temos tradutores brasileiros fazendo trabalho porco em português? Também existem americanos cometendo barbaridades ao traduzir para o inglês. No fim das contas, o sujeito precisa ser bom tradutor. Vencida essa etapa é que vamos ver qual é a sua língua nativa.

Quando um brasileiro traduz do português para o inglês, ele tem a vantagem de entender melhor o que está sendo dito no original. Na verdade, há poucos tradutores qualificados no mundo que tenham o português como principal língua de partida. Normalmente, veem-se profissionais que já traduzem do francês ou do espanhol (há muito mais trabalho envolvendo essas línguas, claro) que aproveitam e se metem a traduzir também do português. Essa turma pena um pouco para entender o que se escreve em português e a maneira como as coisas (não) funcionam aqui. Já vi isso muito na minha carreira.

Mas tem o outro lado. Traduzir, no fim das contas, é escrever. Um falante nativo tem mais desenvoltura com a sua língua do que um estrangeiro. Sempre me lembro do Paulo Henriques Brito, tradutor de literatura e poesia que já recebeu até prêmio lá fora por suas traduções para o inglês. Ele diz que traduzir para uma língua estrangeira é difícil porque você não tem muitas saídas. Quando consegue pensar em uma solução para um problema, você se agarra nele e pronto. No português, temos mais jogo de cintura. Às vezes, conseguimos pensar em duas, três, quatro soluções. Podemos nos dar o luxo de escolher esta ou aquela porque é mais eufônica, mais longa ou mais curta.

Feliz era quem lia o que a Editora Globo produzia antigamente, ao combinar o talento de um brasileiro e um estrangeiro para produzir suas traduções. Mas isso se tornou caro demais e, claro, inviável há muito tempo.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Metade já foi

Vou ser sincero, não consigo me ver como um homem de 40 anos. Tudo bem que as minhas costas teimam em me lembrar que eu realmente cheguei aos 40 e o número das calças já não é mais aquele, mas um homem de 40 anos não dá, vai?! Minha primeira crise de meia-idade? Não, mas é que, com 20, com 30, a gente se imagina aos 40 de outra maneira. Mas quem é que estou tentando enganar? Afinal, já sou um pai de família (e que família!!), casado há quase 10 anos. Um quarentão assumido, pronto.

Os meus amigos mais novos, que me acompanham há muito tempo, devem estar pensando, “nossa ele já tá com 40, tá velho”. Os mais velhos, por sua vez, provavelmente estão dizendo, “feliz é você, que só agora atingiu essa marca; quisera eu ter 40”. Mas, como dizem alguns, a vida começa aos 40. Será? Não, a minha vida começou há 40. E que bela jornada. Não tenho do que reclamar dessa primeira metade de vida que, por assim dizer, se encerrou hoje. Que venham os próximos 40.



.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Vantagem comparativa

O Estadão de hoje traz uma reportagem sobre o aumento dos gastos da União com viagens a despeito da decisão do governo de fazer cortes nessa rubrica. Segundo o jornal, a ministra do Planejamento insistiu que haverá realmente uma redução. Vamos esperar, não é? Agora, o mais interessante é o que vem depois. Diz o Estadão que “para tornar mais efetivo o controle, as autorizações de viagens de servidores serão transferidas ao alto escalão dos ministérios ou, de preferência, aos próprios ministros. Paremos para raciocinar. O sujeito estuda, trabalha, passa uma vida se preparando para chegar a um cargo no alto escalão de um ministério e, quando chega... vai cuidar de autorização de viagem. É mole?! “Ministro, o senhor já tá indo embora? Não dá para o senhor dar uma olhada aqui nessa papelada? O diretor do departamento tal vai participar de um evento na França e o senhor tem que autorizar a viagem dele.” Ora, um ministro de Estado não tem lá tantas atribuições assim que não possa muito bem se ocupar de autorizar viagens, certo?! Isto é um país muito cocô de louro mesmo.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

The Oscars

I don't think I ever mentioned this, but I really enjoy watching the Academy Awards. Some may say Hollywood has built a solid track record of putting out garbage year after year, which I agree with. Others may say if this or that movie takes home more Oscars will not really change your life, but I'm not in it for a life-changing experience. I just dig watching the genuine happiness of people reaching what could arguably be the pinnacle of their careers through peer recognition (peer recognition rocks, baby!). OK you may not get voted just because of sheer talent, but you can't deny there's some recognition there. Anyway, that's I go for. C'mon, we see so much violence, so much crap on the tube all the time, why not a dose of genuine happiness?
Movies have become a luxury for me, as finding a sitter in my neck of the woods here is next to impossible. Therefore, whenever we have family around, we just run to a theater. I haven't seen many of the movies nominated for best picture. I've seen The Social Network, The Kids Are All right, and True Grit. The latter is very good, but I found the former two utterly boring. I have to say I slept through significant chunks of all three of them. I can't help it. Movie theaters are just the perfect place for a little nap. Ten, fifteen minutes after working through my popcorn and coke, I just doze off. Actually I did just that the very first time I went to the movies with my wife. That was a huge red flag, but she failed to notice it.
And to wrap this up, I don't have much of a fashion sense, but I keep asking me why Nicole Kidman, with her fair hair and skin, year after year insists on wearing a light-colored dress to the Oscars. Can anyone tell her that's a no-no? By the way, if it were up to my, Amy Adams would take home an Oscar every year.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Never mind that staredown

Never mind that staredown. That was just part of the show, a final push to ramp up pay-per-view sales. Who will emerge victorious tonight? Silva or Belfort? Well, even though he is older and wiser, I think we will see the old Vitor rushing towards Anderson and raining punches down on him at lightning speed. He knocks him out and sends out a huge "The Phenom is back" message. But, and there's always a but, if the champ is able to weather that initial storm, he may have the upper hand, especially if the fight goes the distance. He showed against Sonnen that he has enough in his tank to survive 5 rounds and retain his belt. Either way it's going to be a tremendous fight. As for Franklin x Griffin, I don't think Forrest stands a chance. If I were him, I'd just call in sick.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Está nos olhos de quem vê

Acabei de ler sobre o caso da Sarah Lavigne, mãe e fotógrafa americana que teve o seu perfil retirado do Facebook porque havia fotos dela amamentando o filho. Iniciou-se uma campanha no próprio Facebook para que o perfil dela fosse restaurado, o que já ocorreu, ao que parece.

Essa coisa dos americanos em geral com a amamentação era algo que me incomodava profundamente. Lá nos EUA, a amamentação é coisa para ser feita às escondidas, como se fosse algo indecente. Como tivemos a Clarissa e o Rodrigo lá, vi o problema de perto. Muitas mães vão para o banheiro amamentar o filho. Já imaginou? Comer no banheiro? Outras, com quem travei contato no consultório do pediatra das crianças, tiravam o leite com uma bombinha e punham em mamadeiras mesmo quando podiam oferecer o seio à criança.

Eu me lembro de vários casos interessantes. Uma conhecida, num voo entre São Paulo e Washington, amamentava o filho quando passou uma senhora e jogou-lhe uma manta em cima para “cobrir aquela indecência”. Nós próprios passamos por um caso interessante. Estávamos em uma festa no jardim da casa de amigos brasileiros que moravam lá nos EUA já havia muito tempo. Érica precisou amamentar o Rodrigo e se retirou para a sala de visita, pois lá estava mais tranquilo. Calhou de o filho dos donos da casa, americano, com seus 10, 11 anos, acredito, entrar na sala. O menino ficou branco, estático, como se estivesse vendo coisa de outro mundo. Coitado, para ele, era.

Se você vai a uma loja de artigos de bebê, você vê lá uns panarecos horríveis que eles vendem para preservar a privacidade do ato. Cheguei até a tirar fotos desses troços nas lojas, mas não tenho tempo para procurá-las agora em meio a milhares de fotos. A mãe se enrola naquilo e mete a criança lá dentro para poder amamentar sem que ninguém veja o que está ocorrendo. Imagina que desconforto para o bebê, o calor ali dentro. Coitadinho.

No fim das contas, e o que mais me incomoda, é que essa papagaiada toda ocorre no país que mais produz pornografia no mundo. O que para nós é a coisa mais natural que uma mãe pode fazer é tratada como se fosse um atentado ao pudor. É preciso uma cabecinha muito perturbada para ver indecência em uma mãe amamentando um filho.

Coisas do Brasil

O Deputado Tiririca disse ontem que estava feliz. Ora, ganhando R$ 26 mil e recebendo um monte de benesses, até eu, que sou bobo. Enquanto isso, o Sarney faz um sacrifício e vai presidir o Senado pela quarta vez, a última, segundo ele. Teve 70 de 81 votos possíveis. Por onde será que anda a oposição, hein!?

Precisamos é de algo como o que estamos vendo no Egito. Claro, guardem-se as devidas proporções, pois o que temos lá é um povo sob o jugo de uma ditadura de 30 anos, mas um levante do povo brasileiro contra a roubalheira, a safadeza e a falta de ética seria uma ótima pedida. Mas é querer demais. Como dizia minha vó materna, brasileiro é carneiro e, completo eu, um carneiro desinformado, alheio ao que se passa ao seu redor. Assim, não dá para esperar muito.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Serviço de primeira

Ligo para a Vivo porque o meu celular morreu. Infelizmente, eles não têm em estoque o celular que estou procurando. Segue o diálogo:

— O senhor teria que voltar a ligar para a Vivo para verificar se já temos o celular em estoque.
— Mas vou ter que ficar ligando? Não tem jeito de vocês fazerem uma reserva ou me avisarem quando ele chegar?
— Não, não trabalhamos assim. O senhor também pode verificar pelo site.
— Muito bem. O problema é que nunca havia me cadastrado no site. Ao tentar me cadastrar hoje, o site indicou que a senha será enviada para o meu celular. Como o meu celular não está funcionando, não tenho como receber a senha.
— Não tem outro jeito. Só podemos enviar a senha para o celular.

Pior que isso só os diálogos com essa mesma atendente e com uma colega dela após eu solicitar que as ligações para o meu celular fossem desviadas para o celular da Érica. Já estou ao telefone com a Vivo faz quase 40 minutos e parece que a coisa não vai virar. E não virou. Transferiram a ligação para uma terceira pessoa, que simplesmente dizia que não conseguia me ouvir. Desliguei o telefone. Será que eu tento de novo?

Vão ser ruins de serviço assim no raio que os parta. Dá vontade de mudar de operadora, mas tenho certeza de que vai ser trocar seis por meia dúzia.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Trabalho voluntário

Chegou a mim a informação de que uma grande (grande não, enorme) multinacional da área de informática vai realizar um evento aqui no Brasil e está procurando tradutores voluntários. Alguém me lembrou de que há muita gente pelo mundo afora fazendo trabalho voluntário, mas peraí: trabalho voluntário deve ser feito para quem não pode pagar. Se fizessem uma festa após o evento, na certa procurariam um serviço de buffet voluntário, músicos voluntários, garçons voluntários... É a triste realidade da nossa profissão. Não consigo pensar em nenhum outro profissional que seja procurado numa situação dessas para trabalhar como voluntário. Nem prostituta faz serviço voluntário, se me perdoam a franqueza.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Legendagem

Sem sono, sentei para trabalhar, pus a obra-prima chamada Back in Black para tocar (no fone, claro) e vou aproveitar para escrever uma coisinha sobre legendagem e tradução.

Érica e eu acabamos de voltar do cinema. Temos que aproveitar que estamos na casa do meu sogro e que temos gente para ficar com as crianças. Cinema lá em casa é artigo de luxo. Ou vai um sozinho (normalmente eu, para ver os filmes que a Érica não quer ver) ou então vamos todos com as crianças para ver um filme dos pequenos. Lá nos EUA, era mais caro porém mais fácil irmos ao cinema, pois tínhamos uma babá e algumas suplentes. Como é difícil achar babá aqui, sobretudo confiável. Que falta fazem a Michelle, a Clarissa, a mãe da Elaine (me esqueci do nome; melhor não arriscar e deixar assim mesmo).

Mas fomos ver Atração Perigosa (The Town), com o Ben Affleck e a Rebecca Hall. Fiquei assistindo ao filme e me perguntando onde já tinha visto aquela atriz antes. Vicky Cristina Barcelona. Ela era a morena. Mas vamos deixá-la pra lá. Sabem que gostei do serviço do tradutor/legendador? Boas soluções, fluentes, naturais. É raro ver isso no cinema. Mas claro que eu não escreveria aqui simplesmente para tecer elogios. Tenho que ver o outro lado também e fazer minha crítica.

Traduzir é libertar-se dos grilhões do original. Alguém já disse isso? Talvez sim ou talvez o tenham dito com outras palavras. Tradutor é um cara preso, oprimido pelo original. Não consegue se desvencilhar das palavras, da forma da língua de partida e ater-se às palavras, à forma da língua de chegada. O resultado, por vezes, é uma coisa pouco natural, desajeitada até, que poderia ser melhorada com um toquezinho. Por exemplo, os americanos têm lá aquela coisa de dizer “Oscar Winner ou Academy Award Winner Fulano de Tal”. Peraí, vamos escolher uma atriz. Que tal “Academy Award Winner Charlize Theron”? Boa. Então, aparece em inglês:

Academy Award Winner Charlize Theron

Aí, nas telas dos cinemas do Brasil, surge:

Ganhadora do Oscar Charlize Theron

Tudo bem, pode ser chatice minha, mas custava inverter a ordem?

Charlize Theron, Ganhadora do Oscar

Não fica mais natural? Para mim fica. Também me irrito com os verbos. Por que o registro tem que ser tão formal? Um professor meu costumava nos lembrar de um exemplo ótimo. Em um filme de ação, um bandidão dizia para os seus comparsas: Peguem-no, amarrem-no e joguem-no no mar. Bandido finíssimo esse, com um português escorreito. Tudo bem, quiseram evitar o pega ele, amarra ele... , mas por que não alguma coisa mais natural como “pega esse cara, amarra e joga no mar”? Mais natural e mais curta do que o que saiu na legenda. É bom lembrar que espaço é um dos principais problemas para quem faz legendagem. Você tem um número de caracteres x para escrever numa língua tudo o que está sendo dito em outra. É tarefa das mais inglórias.

No Atração Perigosa, também aparece um exemplo bom desse (mau) uso dos verbos. O Ben Affleck está lá passando a conversa na moça e se sai com esta: “permita-me (ou deixe-me, sei lá) oferecer-lhe um drinque”. Fiquei me imaginando soltando uma dessas ao ouvido de uma menina. Eu estaria até hoje solteiro. Talvez funcione lá no chá da Academia Brasileira de Letras e olhe lá, hein?!

Mas eu queria mesmo era escrever, com o perdão da palavra, sobre o porra. Não é que apareceu um na legenda do filme que nós vimos. Isso é raro. Normalmente, os estúdios (ou sabe lá Deus quem toma essas decisões) não permitem palavrões nas legendas. Uma colega contou no Twitter que uma vez não lhe deixaram pôr um singelo e inócuo “cocô de cachorro” na legenda. E a pobre fazendo uma ginástica danada para sair dessa. Mas é assim mesmo. O cara pode soltar um monte de impropérios, mas aparece no máximo um filho da mãe na tradução. O argumento, ao que parece, é que, escritos, os palavrões poderiam causar problema. Como diz a minha mãe, as palavras faladas, o vento leva; o que está escrito fica. Tudo bem, até concordo, mas estava lá no meu filme, com todas as letras, um porra. Vibrei, e com razão.

Ora, pense bem, praticamente todas as vezes em que o americano diz lá um fuckin’, o que aparece na legenda? O correntíssimo e batidíssimo até... maldito. Stop the fuckin’ car vira “pare o maldito carro”. Lindo, não? O maldito cachorro fez cocô no tapete. Se fosse no meu tapete, eu não me referiria exatamente assim ao animal. Voltando ao filme, não me lembro da frase exata. Fiquei tão fixado no porra que já me esqueci do que o fuckin’ adjetivava, mas acho que a frase era “open the fuckin’ safe”. Na legenda, saiu “Abra a porra do cofre.” Estamos melhorando, gente. Mas ainda dá para deixar a coisa um tiquinho mais natural. Onde você costuma enfiar o seu porra? Eu prefiro no fim, enfático, forte. “Abre o cofre, porra!”, acredito eu, teria a mesma ênfase da frase original e soaria mais usual. Assim, tradutor, ao deparar-se com o fuckin’ , se permitirem, experimente meter um porra lá no fim. E, se lhe servir de incentivo, você ainda economiza dois preciosos caracteres, coisa que não se despreza na legendagem.