sexta-feira, 6 de maio de 2011

Tem de saber escrever, ora!

Minha mãe sempre teve uma bronca com o curso de tradução que fiz na universidade. Ela não entendia como a UnB podia aceitar alunos que não sabiam inglês e frequentavam o curso para aprender a língua, alguns praticamente desde o bê-a-bá. Achava que deveria ser aplicada uma prova de habilidade específica para separar o joio do trigo. Mal sabia ela que o problema não era apenas o inglês, mas também o português... Bom, ela sabia, claro, que não é boba, mas, infelizmente, os alunos não são os únicos que não sabem português. Há muitos profissionais por aí na mesma situação.

Nesta semana que se encerra, me deparei com algo escrito por um tradutor, com mais de 20 anos de janela, que parecia ainda não ter sido apresentado ao cujo (o pronome e não o cachorro do Stephen King) nem sabia pontuar direito. Depois de todo esse tempo, não aprendeu o básico? O pior, assustador até, é que ele tenha conseguido trabalho durante esses anos todos. Para mim, um tradutor que não sabe português é mais ou menos como um jogador de futebol coxo; não deveria estar em campo. Mas, no caso do nosso colega, a torcida não percebe que ele está matando o time. Ele é, como direi, um Rodrigo Alvim na lateral-esquerda do meu Flamengo.

Alguém poderia sair em defesa do colega dizendo que era apenas uma coisa informal, na Internet, que não se deve levar as coisas assim, a ferro e fogo. Acho que não devemos baixar a guarda. Muitos tradutores não se dão conta de que o que eles escrevem diariamente é um belo cartão de visitas do serviço que têm a oferecer. Quando vejo um colega cometer erros crassos, penso logo que nunca dividiria um trabalho com ele. Para quê? Para depois ter de ficar consertando vírgula, corrigindo crase, acertando a concordância? De jeito algum. E tampouco o recomendaria a um cliente meu.

Outro ponto importante pode ser depreendido desse caso. Vê-se que, assim como outros ofícios e profissões, a tradução é um negócio democrático. Você não precisa ser bom tradutor para trabalhar, ao menos em alguns nichos do mercado. Seja craque ou perna-de-pau, tem lugar para todo o mundo. É só alegria! Mas isso tem hora pra acabar. A tradução automática, o Google Translate e assemelhados estão melhorando. Para que pagar um tradutor ruim se o computador dá cabo do serviço e, cada vez mais, produz coisa melhor do que os de carne e osso? Aos poucos, essa turma da tradução “intercrural”, como diria um velho amigo e mestre, vai ser alijada do mercado. É só esperar.

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