O problema é que misturaram futebol, a melhor coisa que já
inventaram, como diz um caro amigo, com política, ou melhor, com politicagem,
corrupção, safadeza, coisas que poderiam muito bem ter ficado sem ser
inventadas. Nesses sete anos desde 2007, vimos os bastidores da organização de
uma Copa e tudo de pior que ela enseja. Isso maculou a nossa paixão, nos toldou
a visão. Será que deixamos de gostar da Seleção? No fundo, no fundo, acho que
não.
O gigante adormecido parece começar a se lembrar de que o
futebol está no nosso sangue, de que o jogo de bola é paixão nacional, de que a
Seleção, embora menos próxima por seus jogadores desfilarem em gramados que não
os nossos, ainda faz parte da nossa cultura, da nossa arte. Na última semana,
passei a ver mais bandeiras, mais verde e amarelo, um ou outro carro enfeitado,
um comércio aqui e ali exibindo as nossas cores. Mas ainda é um movimento
tímido. Parece que deixamos para a última hora até o ato de torcer.
Vejo dois motivos para essa timidez: medo e vergonha. Medo
de uma represália mais forte, de ter o seu carro danificado ou o vidro do seu
comércio quebrado por quem é radicalmente contra a Copa. Vergonha de aderir a
tudo isso de ruim que testemunhamos, de passar uma imagem de que somos a favor
de governantes que conduziram tão mal um processo que não poderia ter acabado
assim, com as coisas inacabadas. Saibamos separar as coisas. Futebol é uma
coisa, política é (deve ser) outra.
Eu sei, estamos meio envergonhados porque vem gente de fora
e a casa não ficou pronta a contento. A parede está mal pintada, a mancha de
xixi da criança continua no sofá, as cadeiras da sala de jantar estão meio
bambas. Agora é tarde. Vamos manter a classe e sermos hospitaleiros. É o que
nos resta. Torço para que corra tudo bem. Que os jogos sejam bons, os turistas
não saiam daqui muito tosquiados e não haja nenhum acidente nessas obras feitas
a toque de caixa. Em outubro, a gente se entende com quem muito prometeu, mas não
fez o que deveria ter feito.
Numa crônica recente, o Luis Fernando Verissimo dizia que,
em 1970, a torcida contra a Seleção, representante da ditadura militar na ideia
de muitos, não resistiu à primeira investida do Jairzinho pela ponta direita
contra a zaga adversária. Quando o Neymar abrir pela ponta hoje à tarde e for
para dentro do João croata (salve Garrincha!), espero ver o mesmo efeito. Que o
Brasil inteiro grite junto no primeiro gol. Não podemos deixar que Blatter,
Dilma, Valcke, Lula, Aldo Rebelo nem ninguém estraguem esse momento. Vamos
juntos rumo ao hexa!
P.S.: Meu palpite para o jogo de hoje? Brasil 2 x 1 Croácia,
um do Fred e um do Paulinho, que tem uma sorte danada e vai fazer um gol na
nova casa do ex-clube.
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