quarta-feira, 23 de julho de 2025

Ozzy

O ano era 1983 ou 1984. Entrei em uma 2001 ou Discodil, sei lá, uma das lojas de discos de Brasília e comecei a examinar os discos. De repente, me deparei com uma capa em que se via um desenho de um sujeito de óculos escuros e uns instrumentos lhe saindo da cabeça no lugar do cabelo. Era um LP duplo chamado “Rock na Cabeça”. Hoje, admito que a capa era de gosto duvidoso, mas foi o suficiente para chamar a atenção de um aspirante a rockeiro no alto de seus 12, 13 anos. Após o que deve ter sido muita aporrinhação, consegui que minha mãe nos comprasse o disco. Bom, o “Rock na Cabeça” não era só rock, tinha tudo que é estilo, mas foi direto para a minha cabeça e tocou muito naquele toca-discos Philips que meu pai nos deixou. Lembro muito bem que as faixas que mais me chamaram a atenção e mais tocaram em casa foram Burnin' For You, do Blue Oyster Cult, Lightning Strikes, do Aerosmith, e Crazy Train, de um tal Ozzy Osbourne. Aquele grito de All aboard! ecoou muito lá em casa. E foi ali que tudo começou.

 

Nos anos seguintes, Ozzy continuou a nos acompanhar. Em 1985, veio ao Rock in Rio, junto com AC/DC, Iron Maiden, Queen, Scorpions e Whitesnake, as bandas que eu mais curtia na época. Mas Dona Jô não me deixou ir. Admito que fiquei muito magoado com minha mãe e que aquilo foi uma mancha no currículo dela por décadas. Com o passar do tempo e após me tornar pai, entendi que não dava para mandar um menino de 13 anos para um show daquele porte e perdoei minha mãe, evidentemente.

 

Ainda naquele época, começando a aprender a tocar guitarra, conseguimos um livro com transcrições de músicas do Black Sabbath. Aí tome Iron Man, Sabbath Bloody Sabbath. Mas a minha favorita era Black Sabbath, a primeira faixa do primeiro disco, com aquela sonoridade sinistra. Eu esperava escurecer, escancarava a janela, metia guitarra e toca-discos num volume bem, bem alto e tocava com vontade aquela música (ou melhor, o que eu conseguia tocar dela). Os vizinhos, que nos adoravam, claro, deviam imaginar que era algum tipo de ritual e que o Satanás em pessoa baixaria ali no apartamento da Jô. Coitada da minha mãe, passou por poucas e boas com a gente.

 

Em 15 de novembro de 1992, um domingo, finalmente consegui ver o Ozzy ao vivo, em Costa Mesa, sul da Califórnia. Era a turnê do disco “No More Tears” (discaço!!!) e ela foi batizada de “No More Tours” porque, à época, o Ozzy jurava que aquele seria o último giro da carreira. Felizmente, não foi. Que noite memorável! Além do Ozzy, tivemos o nosso Sepultura para abrir os trabalhos e o Black Sabbath com Rob Halford, do Judas Priest, nos vocais. Inesquecível! Mas ainda viria mais. Em 2005, fui ao Ozzfest e vi o Black Sabbath com a formação original. Eu estava bem perto do palco, mais para o lado do Geezer. Lembro que foi um show relativamente curto, mas marcante, muito marcante, pois me fez até esquecer que o Iron Maiden tinha tocado imediatamente antes.

 

Ontem, após várias pessoas me avisarem da morte do Ozzy, ouvia umas faixas dele e do Black Sabbath e pensava nesses e em outros momentos dessas quatro décadas. Só os fãs do Ozzy sabem a emoção que era estar num show dele e, de repente, ouvir aquela introdução de Mr. Crowley. Era de arrepiar, é de arrepiar. E aí aquele teclado ia embora e entrava o Ozzy: “Mister Crowley! What went on in your head?” Era uma catarse. Mas ele se foi. Que bom que conseguiu esperar para fazer o show de despedida do Sabbath no Villa Park há pouco mais de duas semanas! Vai-se o homem, mas fica o legado, fica a história do sujeito que, junto com Bill Ward, Geezer Butler e Tony Iommi, criou o heavy metal, não apenas meu gênero musical favorito, mas um estilo de vida. Obrigado, Ozzy, obrigado por tudo!