Quando eu era moleque, costumava pôr em ordem de preferência as pessoas de que eu mais gostava.
— Gosto primeiro do “teu pai”, depois do Zico, e depois da minha mãe.
Clarissa sempre ficou na bronca com essa história. Certa vez, me interpelou:
— Coitada da Vovó Jô, papai!
E eu retruquei:
— Ah, minha filha, é que você não viu o Zicão jogar.
Mas havia outro motivo para eu deixar minha mãe em terceiro. Ela gostava do Roberto Dinamite, o craque do Vasco, arquirrival do meu Flamengo. Eu não a perdoava por isso. Ainda bem que ela entendia o fanatismo do filho, pois o marido era tão ou mais fanático.
Tenho que admitir, contudo, que o Roberto era um tremendo jogador. Aquele gol contra o Botafogo, no Maracanã, em que ele amortece o cruzamento no peito, chapela o Osmar e fuzila de voleio o goleiro é demais! O Clássico dos Milhões, sem Roberto de um lado e Zico do outro, nunca mais foi o mesmo.
Pois Bob, se você encontrar a Dona Jô por aí, dá um beijão nela que ela vai ficar feliz. Vão com Deus!
P.S.: Nos tempos de hoje, com processador de texto, P.S. é um abuso, mas não estou nem aí. “Teu pai” era como eu e meu irmão nos referíamos ao meu pai. Por quê? Sei lá! Talvez porque as pessoas se referissem a ele como o “teu pai” e aí, sei lá, ficou. Nós o chamávamos assim e esse costume só foi abandonado, perto de ele morrer, quando eu estava para fazer 10 anos.