domingo, 13 de setembro de 2009

De volta à “casa”

Foram seis semanas, seis longas semanas. Não se deve dizer nunca, mas prometi a mim mesmo nunca mais ficar longe de casa por tanto tempo. No início do ano passado, já havíamos viajado por cinco semanas. Não aprendemos a lição. E olha que nem somos neozelandeses, que têm a fama de fazerem verdadeiros périplos. Mas acho que faria o mesmo se eu morasse lá no fim do mundo como eles moram.

Mas foi bom voltar pra casa. Eu ia aspear casa todas as vezes que aparecesse no texto, mas desisti. Já notei que ficou casa sem aspas logo no primeiro parágrafo. O motivo das aspas é que onde estamos agora é a nossa casa, porém não por muito tempo. Nas últimas semanas no Brasil, tinha uma sensação estranha ao pensar que voltaria para uma casa que logo deixará de ser a minha. É mais ou menos como se já não fosse.

Mas isso não significa que já, digamos assim, tenhamos jogado a toalha e desistido de vez dos EUA. É que somos realistas e sabemos mais do que ninguém o que vai por nossas cabeças, do que precisamos no momento. Só eu sei tudo o que nós passamos desde fevereiro de 2008, ou talvez eu deva puxar o início de todo esse processo para meados de 2007. Mas eu já estou fugindo do assunto.

Foi bom voltar pra casa. Claro, sempre há uns senões. Fiquei logo contrariado ao olhar pela janela e ver o matagal que havia tomado conta do meu quintal. Aquilo me abalou. Sabem que naquela noite, sonhei com o Cabañas? Lembram-se dele? No pesadelo, não era que me aparecia outra marmota no meio daquele mato. Credo! Ao ver o matagal, pensei logo: “Lá vou eu ter que cuidar disso.”


Natureza não é a minha e esse tipo de serviço não me agrada. Mas sabem quanto custa mandar alguém fazê-lo por mim? Uns cem, cento e poucos dólares. Caro? Caríssimo, sobretudo quando eu me lembro da situação de um amigo que vive numa cidade próxima a São Paulo. Ele tem um rapaz que lhe vem em casa fazer todo o tipo de serviço braçal, duas vezes por semana, por 350 reais ao mês. Que maravilha! Nesse aspecto, o Brasil dá de 10 x 0 nos EUA. Viva a mão-de-obra barata! Um conforto desses não tem preço, não apenas por você não ter de fazer o trabalho duro, mas por poder dispor desse tempo — o tempo, a mais preciosa das riquezas —, para fazer coisas mais proveitosas.

Tenho que admitir que as horinhas que passei desbastando o quintal foram boas para arejar as idéias, pensar um pouco. Claro, duas Bud Light Lime ajudaram, mas isso não vem ao caso. Um ex-professor e ex-colega meu da UnB me dizia que a melhor hora para lhe aparecerem boas soluções para problemas de tradução era quando limpava a piscina na chácara. Você está ali, fazendo um serviço que não exige muita massa cinzenta e aí a cabeça fica livre para pensar melhor. Faz sentido, mas não é por isso que eu vou passar a fazer esses serviços braçais todo lépido e faceiro. Vou sempre pensar que poderia estar lendo um bom livro.

Como era de se esperar, a casa ficou de pernas pro ar após nossa chegada. Era muita mala pra desarrumar, roupa pra lavar e, claro, duas crianças que, pela tenra idade, mais bagunçam do que arrumam. Minha mesa aqui embaixo, no meu escritório/refúgio/academia ficou uma tragédia. Haja papel. E olha que já havia coisa amontoada em julho, antes de viajarmos. Mas aos poucos fomos dando conta de tudo. Ontem à noite cheguei em casa do Fundo e tive a sensação de que havíamos conseguido finalmente dar à casa uma cara de arrumada, o que durou algumas horas, até as crianças acordarem. Coitados, os bichinhos são bonzinhos e fazem a bagunça normal que toda criança faz. Mas ainda arrumam muito pouco.

Mas eu dizia que havia chegado do Fundo. Pois é, fui lá assinar um papel que precisava assinar. Tenho procurado ir lá o mínimo possível. Acho que esta foi a terceira ou quarta vez que estive lá desde maio. Junto tudo o que tenho de fazer lá e tento dar cabo numa viagem só. Para que ir lá? O lugar me deprime. Mas não pensem que eu ainda me apoquento com aquilo ali. Já passei por todo o ciclo por que passa quem se vê na situação em que eu me vi. Mas o lugar se tornou deprimente e não há muito que eu possa fazer quanto a isso além de minimizar minhas idas até lá. Que fique claro que não são as pessoas (evidentemente, há sempre uns que destoam do resto). Tenho amigos lá e me têm em muito boa conta, tanto que as vezes em que estive lá acabaram se estendendo por muito mais tempo do que eu esperava. Mas deixemos isso pra lá.

Este foi o meu texto da volta para casa. Pretendia tê-lo escrito, exatamente, logo após a volta, mas fui me ocupando com outras coisas. Vou tentar ser mais assíduo. Tenho muito sobre o que escrever. O dia-a-dia me dá bom material e as seis semanas na Pindorama vão render muitos textos. Vi muita coisa aí que merece ser comentada e farei muitas comparações sobre a vida aí e a vida aqui. É só aguardarem.

Um comentário:

  1. Amigo! Limpar o matagal não serviu só pra colocar as idéias no lugar... serviu também pra queimar os quilinhos extras que vc deve ter ganho em suas orgias gastronômicas pela culinária brasileira... se te conheço bem não faltaram a feijoada, churrasco, etc!!! kkkkk!
    Saudades de vcs todos, que pena que eu estava viajando e não pude vê-los, agora vai demorar mais um tempão, aff! Beijos mil!

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