sábado, 26 de setembro de 2009

Santo André

O ocorrido em Santo André na quinta-feira foi resultado de uma combinação explosiva: irresponsabilidade e fiscalização frouxa, que ainda prevalecem no Brasil do jeitinho, da vista grossa, da ilegalidade. Arrasou-se um quarteirão inteiro, duas pessoas morreram, dezenas se feriram e o patrimônio de vários foi destruído.

O casal não tinha autorização para operar uma loja de fogos de artifício; tampouco podia fabricá-los, o que fazia de forma clandestina, como se suspeita. Evidentemente, são os grandes culpados. Personificam o que analiso como uma certa falta de respeito do brasileiro pela vida alheia. Nas nossas ações, não nos preocupamos com o impacto sobre os outros. É a mesma negligência que demonstramos ao dirigir como dirigimos, ao jogar lixo na rua.

E as autoridades? São culpadas também. Apesar de terem sido avisadas repetidas vezes, conforme alegam as pessoas da região, não fizeram o suficiente para evitar o ocorrido. Interessante ver que, um dia depois da tragédia, a polícia saiu à rua para investigar denúncias de venda irregular de fogos. Duas lojas foram fechadas. É o proverbial cadeado após a porta ter sido arrombada.

Mas quem vai cobrir os prejuízos? Um americano que visse aquela destruição toda pensaria logo que algumas seguradoras morreriam numa grana preta. Não no Brasil. Ainda não temos essa cultura do seguro. Acho difícil que alguém ali tivesse a casa ou loja segurada. O casal que operava o “bazar” muito provavelmente não tinha seguro para cobrir os danos causados a terceiros. E agora, quem vai pagar? O governo? Se fosse aqui, já haveria gente processando as autoridades por não terem feito a parte delas, qual seja, fiscalizar e fazer cumprir as leis. Certíssimo.

Carecemos de duas coisas que fazem a diferença aqui nos EUA. A primeira é o fato de que as autoridades arrocham mais do que aí. No Brasil, a coisa corre solta. Se der uma zebra, deu. Não precisa se preocupar porque a cana, se vier, não é tão dura. A segunda, diretamente relacionada à primeira, é a responsabilização. Nos EUA, grosso modo, não existe acidente, ou melhor, dificilmente existe o acidente do qual ninguém é culpado. É preciso encontrar o culpado porque ele será responsabilizado e vai pagar, e caro, pelos danos. Claro, os americanos levaram essa idéia às últimas conseqüências e vemos processos descabidos por qualquer motivo. Mas no Brasil, temos o oposto. Ainda se tem a sensação de que pouco adianta recorrer à Justiça, pois um processo corre anos a fio nos meandros dos tribunais e a justiça nunca é feita. Precisamos nos americanizar um pouquinho e começar a ter mais responsabilidade e responsabilização.

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