quarta-feira, 5 de maio de 2010

Bem que eu queria ir

É, bem que eu queria ir ao Pacaembu logo mais, dar uma força para o meu Mengão, mas não vou. E não é porque não consegui ingresso. Na verdade, nem procurei. Achei melhor ficar em casa e ver pela TV. Afinal de contas, não é de hoje que ir a um estádio de futebol no Brasil é quase sempre um programa de índio com selo de qualidade Funai.

No comecinho de fevereiro, menos de duas semanas após voltarmos para o Brasil, estávamos hospedados na casa de uma prima da Érica, perto de Campinas. O marido da prima, corinthiano, me chamou para irmos ver o Timão enfrentar a Ponte Preta lá no Moisés Lucarelli, o Majestoso (que devia ser majestoso quando foi inaugurado; agora está de dar pena). Fomos, mas que situação. Saímos de casa como se estivéssemos indo para a guerra. As mulheres nos cobriram de recomendações e pediram que tomássemos cuidado e não sei mais o quê. Ficaram em casa preocupadas. Pode?

Eu fico me lembrando de quando ia a praças de esportes lá nos EUA. Nem passava pela cabeça da Érica que eu poderia correr algum risco lá no jogo. Corria tudo na maior tranquilidade, na maior civilidade. Não havia esse negócio de uma torcida entrar por um lado e outra por outro; nada de um torcedor intimidar o outro, dar “pescotapa”, jogar xixi. Isso é coisa de bicho. Cada um torce para o time que bem entender, ora!

Mas voltando ao clássico Macaca x Timão, que experiência! No campo, o jogo até que foi bom, bem movimentado, disputado. Mas o resto foi triste. Na chegada, você já fica preocupado com o carro. Onde estacionar? Por que dar 10 reais para um vagabundo que diz que vai “tomar de conta”, mas vai embora para casa aos 5 minutos do primeiro tempo? Será que o carro vai estar lá quando voltarmos? Mas o negócio é entregar a Deus e torcer para que nada ocorra.

Lá dentro, a coisa piorou. Acabei no meio da torcida do Corínthians, entre a Camisa 12 e a Pavilhão 9. Já imaginaram que beleza? E ai de você se der pinta de que não torce para o time deles. Você fica lá tenso, acompanhando o jogo, mas sem deixar transparecer que está ali apenas para apreciar a partida. Para salvar a minha pele, eu reclamava de um ou outro jogador, xingava o juiz. Apanhar é que eu não iria, ora! É uma pena que seja esse o clima em grande parte das arquibancadas dos estádios brasileiros. Ou você se enquadra e segue o que o chefe mandar, ou então corre sério risco de não sair dali inteiro.

Mas o pior ainda estava por vir. Em dado momento, uma das organizadas quis esticar a sua faixa ali na frente e também mostrar que estava ali seguindo o seu time. Outra, que já estava com a sua faixa colocada desde o primeiro tempo, se melindrou e não quis afastar a sua faixa para dar espaço para a da outra. Começaram a se olhar feio, e eu pensando, “Não, esses animais não me vão brigar aqui por causa de uma porcaria de uma faixa”. E enquanto isso, a polícia só olhava e o Finazzi, ex-jogador corinthiano, virava o jogo para a Ponte. Pronto, aquele gol tinha tudo para desencadear um quebra-pau generalizado. Era o programa de índio se tornando cada vez mais real.

Mas tudo acabou bem. Fomos embora rapidinho tão logo o juiz apitou o fim da partida, encontramos o carro onde o havíamos deixado e chegamos em casa sãos e salvos, para o alívio das esposas. Mas peraí? Isso é lá diversão? Duas, três horas de tensão apenas porque saímos de casa para ver um jogo? Já está mais do que na hora de as autoridades apertarem essa turma barra pesada travestida de torcedor, afugentá-los dos estádios e tornar um jogo de futebol um programa família, como o é qualquer evento esportivo nos Estados Unidos. Um dia chegamos lá.

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