quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Dificultar o que já não é fácil

Terça-feira é dia de ginástica do Rodrigo. Até o semestre passado, um pai ou responsável tinha que estar ali do lado, acompanhando a criança durante os exercícios. Agora que ele já completou três anos, fica lá só com as outras crianças e as professoras. A mim, resta esperar no hall de entrada, junto com os outros pais, que na verdade são em sua grandessíssima maioria mães. São sempre as mesmas, salvo uma ou outra que falta ou que leva a criança para repor uma aula perdida.

O ambiente lá é espartano. Ao redor, escaninhos onde as crianças guardam os sapatos; um freezer com picolé, dois bebedouros, uma janela que dá para a secretaria e dois lugares para os pais se sentarem. Um é uma mesa tubular com tampo de plástico e bancos de um lado e de outro, com assentos também de plástico. Deve comportar umas seis a oito pessoas. O outro é uma pequena arquibancada vazada, feita de tubos de metal e tábuas de madeira. São três níveis com apoio para os pés.

Eu estava lá sentado no nível mais alto dessa arquibancada, no canto, para ter uma visão melhor do Rodrigo e, claro, para poder me concentrar no meu livro. Mas de vez em quando uma pessoinha me tirava a atenção. Era uma menininha oriental, que, pela desenvoltura, já devia ter mais de um ano. Eu já a havia notado antes. A irmã vai fazer ginástica e a pequenininha fica lá com a mãe. E era aí que eu queria chegar.

A menininha subia nessa arquibancada e ia de um lado para o outro. Por duas vezes quase caiu entre o nível mais alto e o do meio. Na segunda vez, quase tive que acodi-la, pois a mãe estava meio distraída, de olho na filha mais velha, que se esbaldava numa cama elástica. Não tardou, a pequena perdeu o interesse pela arquibancada e passou a vaguear pelo recinto. Dava seus passinhos até um dos bebedouros e lá ia a mãe atrás para evitar que a menina se molhasse. Bulia com o freezer de sorvetes e voltava para a arquibancada. E tornava a flanar.

A mãe tentava detê-la, fazer com que se mantivesse no mesmo lugar. Vigiar cada passo da mocinha dava muito trabalho. Mas os esforços maternos eram em vão; a criança não queria nem saber. Até que, num dado momento, a coisa desandou de vez. A pequena se jogou no chão e deu um piti daqueles a que todo pai tem horror. As outras mães continuaram a conversar e fingiram que não era com elas. Fizeram muito bem. Acho que se tivessem se voltado para mirar o espetáculo, a mãe, que se limitou a olhar a filha, teria ficado ainda mais aperreada.

É duro manter ocupada e sossegada uma criança de um ano e pouco durante 45, 50 minutos, sobretudo num lugar como aquele. Quem não sentiria empatia por aquela mãe? O rosto já estampava-lhe o cansaço, e eram apenas dez e pouco da manhã do que tinha tudo para ser um longo dia. Até eu me cheguei a me apiedar da pobre, mas esse sentimento durou pouco.

Ela havia saído de casa despreparada; dificultara o que já não é fácil. Para entreter a criança, tinha apenas uma garrafinha de água e um copinho com Cheerios (um cereal que as crianças — e os adultos também — adoram). Por que não havia trazido um ou mais brinquedos? Uns livrinhos também teriam sido uma ótima idéia. Sentaria a pequena no colo e leria. Quem tem mais de um filho sabe que a concorrência pela atenção dos pais é feroz. Teria sido ótima oportunidade de dar atenção individualizada à caçula. A espera teria sido mais prazerosa, ou menos árdua, para ambas e todo o mundo teria saído de lá mais feliz.

Nenhum comentário:

Postar um comentário