domingo, 18 de abril de 2010

Reminiscências de um clássico

Minha primeira lembrança dos confrontos entre Flamengo e Botafogo remonta a uma aposta. Todas as vezes que os dois se enfrentavam, meu pai, fumante inveterado, apostava um pacote de cigarros Carlton com um colega de hospital (sim, o fumante inveterado era médico). Quando o Botafogo levava a melhor, meu pai era obrigado a enrolar o prêmio em jornal, branco e preto, nas cores do Fogão. Quando o Flamengo vencia, era a vez do colega enrolar o prêmio em fita de máquina de escrever, vermelha e preta, nas cores do Mengão. E eu me divertia com aquilo.

Com o passar dos anos, outros jogos inesquecíveis foram sendo guardados na memória. Houve aquele Bota 1 x 0 Fla, em que estava em jogo o recorde de invencibilidade de um clube no Brasil. Quis o destino que o Flamengo, em busca da sua quinquagésima terceira partida sem derrota, enfrentasse o Botafogo, então detentor do recorde, com 52 partidas sem perder. Renato Sá fez o gol único da partida, ainda no primeiro tempo e frustrou os flamenguistas. Numa daquelas assustadoras coincidências do futebol, o próprio Renato Sá havia sido o carrasco que encerrou a série do Botafogo, fazendo dois gols num Grêmio 3 x 2 Botafogo.

Uma lembrança que guardo daquele 1 x 0 foi que eu, então com oito anos, fiquei extremamente decepcionado com a derrota, brabo mesmo. Resolvi que não ia mais torcer para o Flamengo. Picotei poster, queria rasgar a camiseta, cortar uma bandeirinha que eu tinha. Deve ter sido terrível para o meu pai ver o filho querer se bandear para o outro lado. Mas ele interveio sabiamente e me mostrou que não era todos os dias que a gente podia ganhar. Depois de muita conversa, resolvi deixar as coisas como estavam.

No decorrer dos anos, houve outras decepções. Aquele 1 x 0, sobre o qual já escrevi aqui, em que o Maurício empurrou o zagueiro do Flamengo (empurrou sim!) antes de meter a bola nas redes e tirar o Botafogo de uma fila que parecia interminável. Houve o 1 x 0 em 1997, em que o Botafogo, com o time reserva, bateu o Flamengo de Romário e companhia e o eliminou das finais da Taça Guanabara.

Mas também há lembranças boas, muitas. O 6 x 0 de 81, com o sexto gol,marcado pelo Andrade, o camisa 6, aos 42 (4 + 2 = 6), num petardo de fora da área, vingando os 6 x 0 impostos em 1972. Até hoje guardo com carinho a revista Placar daquele jogo. Como não falar do título brasileiro conquistado em cima do Botafogo em 1992. Esse, infelizmente, eu não vi, pois morava fora do Brasil na época. Apenas tomei conhecimento por um telefonema. E claro, nos últimos anos, salvo uma Taça Guanabara e uma Taça Rio, os confrontos entre os dois clubes só têm dado alegria aos rubro-negros.

E hoje tem mais um. Haja coração. Talvez esta seja a melhor equipe que o Botafogo manda a campo nos quatro últimos estaduais. Aquele ataque com Herrera e Loco Abreu é chato e o tal do Caio, quando entra, dá trabalho. Mas tenho fé no Flamengo, mesmo sem Juan, Léo Moura, que é dúvida, e com aquele meio-de-campo que não se acerta. Vamos com força e confiantes na mística rubro-negra. Talvez o destino queira que, após o tricampeonato estadual sobre o Vasco em 1999/2000/2001, o Flamengo pare também num tricampeonato, desta vez sobre o Botafogo. Ou talvez seja a nossa hora de chegar ao inédito tetra estadual. Vejamos logo mais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário