terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Cadastro positivo

Discute-se atualmente no Brasil o tal cadastro positivo de consumidores. Mas do que se trata? Bom, até hoje, para ter o nome limpo na praça e acesso a crédito, basta pagar suas dívidas em dia. Assim, você evita que o seu nome vá para o SPC, para o Serasa. Ou seja, se o seu nome não aparece na lista, você está tranquilo. Mas o cadastro positivo vem para mudar isso. A ideia, semelhante ao que se vê em países como os Estados Unidos, é que o consumidor deve construir um histórico de crédito, ou seja, fazer dívidas e honrá-las, pagando tudo direitinho. Assim, você mostra que tem capacidade de tomar empréstimos e pagá-los. Mas será que isso dá certo aqui no Brasil?

Eu tenho sérias dúvidas. Se compararmos o Brasil com os Estados Unidos, por exemplo, temos ambientes bem diferentes. Aqui, vocês hão de concordar, comprar a crédito é dureza. A maioria da população compra dessa maneira, mas o faz de mau grado. Quem gosta de pagar até o dobro do preço à vista por um produto? Quem pode e tem um pouquinho de traquejo ainda consegue poupar, investir o dinheiro e comprar à vista, pois o negócio é evitar as taxas de juros escorchantes cobradas no Brasil. Ou seja, toma-se emprestado apenas em último caso. Como é que se constrói um histórico de crédito se não se toma emprestado? E essa história de que um bom histórico de crédito lhe permitirá obter taxas mais baixas dos vendedores não me convence.

Isso tudo me faz pensar em outra diferença entre Estados Unidos e Brasil. Comprar na terra do Tio Sam é muito fácil, uma coisa prazerosa. Compra-se feliz, pois você sabe que está levando um produto de boa qualidade, a um preço razoável e a uma taxa de juros que não te tira o couro. Quando comprei o último carro que tive nos Estados Unidos, paguei 2,99% de juros... ao ano. No ápice da crise, um ex-colega de FMI me apareceu de carro novo. Perguntei-lhe quanto havia pagado de juros. Caí pra trás ao ouvir 0,89% ao ano e quase corri à loja para aproveitar essa pechincha. Aqui, 0,99% ao mês já é um bom negócio. Desse jeito, é aquele sofrimento na hora de entregar o nosso suado dinheiro para o vendedor. O produto não é lá essas coisas, o preço é alto e ainda vamos pagar uma boa grana de juros. Você sai da loja tentando se convencer de que fez um bom negócio. Se a sensação na hora de comprar fosse menos dolorosa, compraríamos ainda mais, o que aumentaria a atividade econômica e traria vários benefícios. Mas, infelizmente, parece que ninguém pensa nisso.

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