quarta-feira, 20 de maio de 2009

Mais respeito com as donas de casa (ou Tributo à Érica)

O marido volta do trabalho e não raro se surpreende ao encontrar a casa praticamente do mesmo jeito que a deixou. Um ou outro, mais corajoso ou desavisado, se vira para a mulher e pergunta: “O que você ficou fazendo o dia inteiro?” Aí o tempo fecha.

Vida de dona de casa não é fácil, especialmente no caso das chamadas stay-at-home moms, ou seja, as mães que não trabalham fora e ficam em casa cuidando das crianças. E olha que essas pobres, diferentemente das mães brasileiras de classe média alta para cima, não desfrutam do luxo de contar com empregada, faxineira, babá e outras fadas-madrinhas

Como estou saindo do meu emprego, agora é a minha vez de ser um stay-at-home dad. Desde a quinta-feira passada, tenho experimentado um pouco do que essas mães vivem. É matar um leão por dia. Hoje, enquanto engolia o almoço, fiquei pensando que essa tem sido a vida da Érica nos últimos cinco anos e meio e comecei a bolar este texto. Mas voltemos umas horas no tempo.

Acordei pouco antes das seis, fiz uma hora de esteira, tomei banho e saí para deixar a Clarissa na escola. Na volta, só deu tempo de tomar um café com leite, comer um pedaço de queijo e sair correndo para deixar a Érica na faculdade, lá em DC. Chegamos às 9h, em cima da hora. Daí, foi voltar correndo para Vienna e largar o Rodrigo na escola às 9h30. De lá passei no Costco para trocar uma camisa que havia comprado na segunda e corri para Arlington para a consulta com o terapeuta às 10h30. Às 11h20, voltei para casa. Tinha que temperar o salmão que vai para o forno à noite e tentar resolver uma ou duas coisas para então ir almoçar e apanhar o Rodrigo às 13h30. Já cansaram?

Em casa, troquei os lençóis da cama e estava me preparando para descer quando tocou o telefone. Ah, o telefone! Claro, a ligação durou mais do que eu esperava e acabei ficando com o tempo mais curto. Desci, arrumei a pia que havia ficado bagunçada do café, temperei o salmão, me vesti e corri para o McDonalds (!!), munido de uma pilha de jornais para ler enquanto comia (e já eram 12h50).

Nada de sanduíche, claro. Pedi uma saladinha com frango grelhado, sem molho nem croutons. Tenho carregado uns quilos extras que não me pertencem e cheguei à conclusão que me esfalfar na esteira não vai ser o suficiente para me fazer perdê-los no prazo que estipulei. Enquanto almoçava, consegui terminar a coluna da Lucy Kellaway do Financial Times de segunda-feira, cuja leitura eu havia iniciado ontem, enquanto esperava a Clarissa fazer a aula de natação. Ia começar a ler o Post de hoje, mas aí resolvi ganhar tempo e passar logo na lavanderia para pegar umas camisas e deixar outras.

Apanhei o Rodrigo na escola e, agora, ele dorme uma sonequinha até as 14h55, quando tenho que tirá-lo do berço, sem acordá-lo, se possível, enfiá-lo no carro e sair para apanhar a Clarissa na escola. Na volta, vou dar uma passada no supermercado para comprar umas alcaparras, limão e cebola. Érica já deverá estar em casa quando chegarmos, então terei ajuda para entreter as feras até a hora da janta, banho e cama. Ih! Ia me esquecendo de que hoje à noite a Érica dá aula. A janta, banho e cama vão ser por minha conta. O pior de tudo é que, no fim do dia, estarei morto e a minha lista de coisas a fazer estará praticamente intacta.

Quem passa o dia inteiro num escritório não imagina a dureza que é cuidar de criança. Eu costumo dizer que é mais ou menos como tentar executar uma série de tarefas enquanto outras pessoas (no meu caso, duas) tentam te atrapalhar. Os chefes, gerentes de projeto, diretores têm muito a aprender com as mães. O projeto que elas tocam tem uma vida mais longa do que a de qualquer tarefa em um escritório. Além disso, o cliente não grita, não chora, não esperneia. E, mais importante, você não tem laço afetivo algum com o cliente; já com a molecada em casa...

Ficou mal arrematado, mas vai assim mesmo que já são 14h55.

6 comentários:

  1. Ai, até cansei John!
    Mas essa também é minha vida, apesar de ter alguém pra me ajudar em casa eu tenho que fazer milhares de coisas pra casa funcionar direito... o que tem andado na minha "wish list" a algum tempo é um dia de 30 hs, pq o de 24 não está dando não, falta tempo pra fazer tudo o que tenho e o que quero fazer, fica a sensação de que sempre devo alguma tarefa no fim do dia e isso vai se acumulando... enfim, sei bem como é isso, fica minha solidariedade!! rs!!
    Beijuuuuuuuuu

    Meus bloguitos:
    http://danschelb.blogspot.com/
    http://dschelb.blogspot.com/

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  2. Ah, ia me esquecendo... quando vc vem por aqui???

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  3. Já imaginou se fossem 3,4,5,6 filhos? O mais interessante de suas colocações é que você está firme, não está deixando a "peteca" cair. Com certeza hoje, amanhã, daqui a 2 ou 3 anos, você não receberá o trofeu.Mas quando as crianças "crescerem", você vai receber o trofeu que nenhum designer do mundo, nenhum arquiteto, nenhum pintor consegue criar. VOCÊ COM CERTEZA VAI OUVIR DA BOCA DELES "MEU PAI É O MELHOR PAI DO MUNDO". Não existirá o troféu materializado, mas o troféu do amor dado incondicionalmente. AMO VOCÊS. PÁ LIMA

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  4. Você já pensou se fossem 4 ou 5 filhos? O que mais chama a atenção em seu relato é que você está firme, não está deixando a "peteca" cair. Hoje, amanhã, daqui a 2 ou 3 anos, você não receberá nenhum "trofeu" pelo desprendimento, pelo trabalho.Quando as crianças "crescerem",você receberá um trofeu que nenhum designer do mundo, nenhum arquiteto, nenhum pintor, consegue criar.Não terá ele forma material. Um dia você ouvirá deles "VOCÊ É O MELHOR PAI DO MUNDO". Este trofeu é feito do material indestrutível chamado AMOR. Amo vocês. Pá Lima.

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  5. Otimo texto, Joao Vicente! Vou usar no nosso jornalzinho, com autorizacao da Erica, viu? Janete

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