quinta-feira, 25 de novembro de 2010

O Natal deles

Hoje se comemora nos Estados Unidos o Dia de Ação de Graças (Thanksgiving Day). Daqui a algumas horas, normalmente por volta das 17h, os americanos se sentarão à mesa para comer o chamado Thanksgiving Dinner. É, talvez, a festa mais importante para eles. Para mim, é como se fosse uma ceia de Natal. Ora, em que outra ocasião aqui no Brasil as famílias se reúnem em volta da mesa para se confraternizar e desfrutar de um belo peru?

Uma lembrança que guardo das quintas-feiras como a de hoje é a quantidade monstruosa de encartes das mais diversas lojas que vinham junto com o jornal. Neles, podia-se conferir todas as ofertas do comércio no dia seguinte. Era uma das diversões do dia, enquanto se esperava o jantar ficar pronto. E tome laptop, videogame, TV de tela plana com descontos de 50% ou mais. As ofertas eram realmente imperdíveis, mas o sujeito tinha que ter muita coragem para enfrentar o frio (por volta de zero grau) e a multidão enlouquecida, desesperada para comprar tudo o que via pela frente.

E a coisa não era fácil. Afinal de contas, para aproveitar as melhores ofertas era preciso chegar primeiro. As lojas normalmente abriam às 5h da matina e muitos acampavam na porta desde a noite anterior. Era gente que não acabava mais. Houve um ano, acho que 2008, quando um funcionário do Walmart morreu pisoteado pelo povão. O pior foi que ninguém interrompeu as compras, mesmo depois que circulou a notícia de que um funcionário havia morrido. Não justifica, mas é bom lembrar-se de que ir às compras é o esporte favorito do americano. O Black Friday é a final da Copa do Mundo para eles.

Mas que história é essa de Black Friday? Sexta-feira Negra? Talvez azul, mas negra não. Diz-se que, originalmente, a última sexta-feira de novembro foi assim batizada pelo Departamento de Polícia da Filadélfia porque aquele era o dia de mais congestionamento no trânsito e movimento nas ruas. Em outras palavras, um dia negro para quem tinha que tomar conta da população. Isso foi lá pelos anos 60, se não me engano. Anos depois, surgiu outra teoria. Chamavam de black porque era o dia em que muitos comerciantes conseguiam vender o suficiente para sair do vermelho. Enquanto aqui a gente usa a cor azul para representar números positivos, lá eles falam em preto. Mas vermelho é vermelho aqui e lá. E vendem muito mesmo. Eu me lembro de ter lido uma vez um artigo que mencionava que naquele dia entravam milhões e milhões de dólares só nos caixas do Walmart. Era uma cifra espantosa.

Interessante também foi ver nesses anos como os comerciantes e a vontade de comprar foram corroendo a tradição. Já há lojas que abrem na noite da quinta-feira. Você enche o bucho de peru, toma lá uma ou duas taças de vinho, pega o casaco e vai à luta atrás das melhores promoções. O comércio pela Internet tampouco deixa barato. As promoções começam já no início da semana. E nos últimos anos, crescem as vendas no que eles chamam de Cyber Monday. O raciocínio é que, ao voltar ao trabalho na segunda-feira, as pessoas vão sentar à frente do computador e aproveitar para fazer umas comprinhas pela Internet. E tome descontos para atrair o freguês. E isso é só o início da temporada de compras de fim de ano.

Nós, particularmente, nunca tivemos coragem de tentar pegar as ofertas da madrugada. Era muito trampo para pouco benefício. Normalmente, passávamos o olho nos encartes do jornal na noite anterior e tomávamos nota de uma ou outra promoção. Algumas iam até as 10h, até o meio-dia. Fazíamos um roteirozinho e saíamos depois do café, sem pressa. Nos últimos anos, eu ia sozinho ou deixávamos as crianças com alguém. Entrar numa Macy’s, por exemplo, num Black Friday, com duas crianças a tiracolo, é jogar pedra na cruz. As aglomerações e filas foram sempre enormes, mesmo em 2008 e 2009, com o fantasma da crise financeira à solta.

Mas o bom mesmo era o jantar, sobretudo na casa da Glaura, grande amiga e cozinheira de mão cheia. E tinha a pecan pie feita pelo Henrique, que era de primeira. Daria um dedinho do pé por uma torta daquelas. Algumas vezes o jantar foi lá em casa. Apesar de brasileiros, não havia motivo para não seguirmos a tradição local. Neste ano, para a data não passar em branco, vamos fazer um Thanksgiving Dinner na casa de amigos americanos, aqui na cidade mesmo. Não vai ser hoje, mas sim no domingo. Ora, vocês queriam o quê? Quinta-feira, aqui em terras tupiniquins, é dia de trabalho.

2 comentários:

  1. Mesmo dia de trabalho, espero que tenham um ótimo dia de Ação de Graças! Estou aqui realmente tentando decidir se vale a pena encarar a "pelenga" de sair de madrugada para sofrer o empurra-empurra, falta de estacionamento, frio, etc. Acho que vou curtir o quentinho da minha cama, como vocês faziam e só me aventurar mais tarde. Um beijo em toda a famíia.

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  2. A não ser que você tenha em mente um produto específico que esteja sendo vendido com um desconto imperdível, não vale a pena. Normalmente, os produtos com os melhores descontos não são os top de linha. Vai ser uma TV Magnavox e não uma TV Samsung do modelo mais moderno. Eles querem é que você entre na loja. Uma vez que você tenha mordido a isca e esteja lá dentro, você está frita e não vai sair sem comprar alguma coisa. Eles não dão ponto sem nó.

    Estava perguntado à Érica quem poderia estar por trás desse perfil Brasileirinhos. Tenho uns palpites, mas vou deixar você me contar. Beijão na turma aí.

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