segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

A tragédia de Santa Maria


Assustadores alguns comentários que li na Internet sobre a tragédia de Santa Maria. Destaco o que li de pior. Uma ou outra pessoa fala em acidente. Se há uma coisa que aprendi nos EUA, foi que não existe acidente. Existe irresponsabilidade, imperícia, desinformação, despreparo, falta de cuidado, falta de preocupação com a vida alheia, uso de material de pior qualidade para economizar. Quando essas coisas se combinam, os efeitos são desastrosos, trágicos, como vemos mais uma vez.

Também me chama a atenção a veemência com que alguns (muitos) saem atirando para todos os lados. Atacam as autoridades estabelecidas. “Isso é culpa dos bombeiros e da polícia que não fiscalizam, que não arrocham!” “São esses políticos vagabundos!” “É culpa da Dilma” (que, por sinal, fez uma coisa digna ao ir a Santa Maria e torna a mostrar uma face humana que raramente se vê no governo). Mas o pior são os brados de que “isso só ocorre no Brasil”. Quem me conhece sabe que, se o negócio é meter o pau no Brasil, tenho sempre uma ou duas coisas a dizer. Critico porque ainda me preocupo, porque moro aqui (aí) e porque gostaria de ver melhorias mais sólidas e rápidas. Mas hoje não.

A culpa não é só do Brasil. Essas tragédias ocorrem em outros lugares, até no chamado primeiro mundo. A primeira coisa que me veio à cabeça quando soube do ocorrido no Sul foi “Great White, Rhode Island”. Há dez anos, em um mês de fevereiro, um incêndio matou 100 pessoas em uma casa noturna naquele estado da costa nordeste americana. As semelhanças são gritantes. A queima do material de isolamento acústico, portas trancadas (só a banda pode sair por aqui), gente pisoteada. Infelizmente não aprendemos com, nesse caso, os erros dos outros. Oxalá aprendamos desta vez, que a tragédia foi no nosso quintal.

Para quem não lê inglês, pega o texto deste link (http://edition.cnn.com/2013/01/28/world/rhode-island-brazil-nightclub-fires/?hpt=hp_t1) e põe no Google Translate. Para isso a tradução automática serve. Vale a pena também dar uma olhada no artigo da Wikipedia sobre o incêndia e o desfecho do processo todo: http://en.wikipedia.org/wiki/The_Station_nightclub_fire.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Casa, comida e… saudade

Na cidade onde moro, há um restaurante de onde costumo pedir comida. Quando pego o telefone para ligar para lá, já vou meio ressabiado. É que lá tem um senhor que não é fácil. Vou discando os números e torcendo para que não seja ele quem atenda. Às vezes a torcida não dá certo e aí se segue um diálogo iniciado mais ou menos assim. Ele atende o telefone e eu digo:

— Boa tarde.

— Como é que é?!

E aí vai mais de um minuto para eu fazer o homem entender que a minha quentinha é pequena, com arroz integral, sem farofa... Houve um dia até em que ele já ia desligando o telefone sem nem pegar nome e endereço. Não sei se ele é moco ou meio devagar mesmo, mas só sei que estou com saudade dele. Não, na verdade estou com saudade da quentinha do restaurante, mas não me importaria se o senhor me fizesse chegar aqui a Santiago uma quentinha daquelas com carne de panela que eles servem às sextas.

Sabe, nesse período aqui, já se vão quase dois meses, descobri que o que faz a nossa casa é exatamente isso: a nossa comida, a que estamos acostumados a comer no dia a dia. Vou tomar a liberdade de modificar aquele velho ditado americano que diz que “home is where home is”. Não é não. “Home is where our food is”, “our food”, claro, no sentido que mencionei. Você pode estar no conforto que for, mas não é a mesma coisa sem a sua comidinha. Agora entendo bem o que sofriam a minha mãe, o meu sogro, a minha sogra quando iam visitar a gente lá nos EUA e saíamos para jantar. Coitados.

Mas não foi hoje que me bateu isso (bateu foi a vontade de escrever). Essa ideia me veio à cabeça fazia 10 dias que eu estava aqui e só tem sido reforçada. E olha que não tenho me alimentado mal. Tenho comido muita coisa de que gosto, peixe, mariscos, empanadas, ceviches, cerejas e nectarinas maravilhosas, mas falta uma coisa. Talvez o problema seja agravado pelo fato de que vamos ficando mais velhos e menos tolerantes. Nosso organismo já não aguenta aventuras e novidades gastronômicas como aguentava antes, quando éramos (mais) jovens. E como ainda sou um “velho” prestes a completar apenas 42 anos, ainda sobra muito tempo para a coisa piorar.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

O sorriso


E assim que saí do prédio hoje de manhã, uma loura alta, bonita, sorriu para mim. Que devaneio! Sorriu na minha direção, só podia ser para outro alguém. Mas um sorriso não é coisa que se ignore. Era o início de mais um dia me sorrindo, me dizendo, “segue em frente, cara”. Sorri comigo mesmo, pois um sorriso lava a alma, inspira, e tomei o caminho do trabalho.

Tenho passado noites ruins, dormido mal. Sou daqueles que dorme e só acorda no dia seguinte. Tenho acordado várias vezes à noite. Sonho com trabalho, já me peguei traduzindo no sonho mais de uma vez. Noite passada, sonhei com beija-flor (com o passarinho, não com a escola de samba, que sou mangueirense), conversei com o Obama. A cabeça anda meio atrapalhada. Tenho trabalhado muito.

Um pouco mais à frente, outro motivo para sorrir: os cachorros espalhados pela rua. Tem uma cachorrada danada solta pelas ruas de Santiago. Lá estavam dois, um macho cortejando uma fêmea, daquele jeito que eles fazem, seguindo e cheirando. Um pouco mais atrás, um pulguento, se coçando. Abri um sorriso porque aqueles três teriam dado uma foto ótima. Há semanas que estou pensando em tirar fotos desses caras. Perdi a oportunidade, mas haverá outras.

Meti uma música no iPod. Grey Street (http://www.youtube.com/watch?v=3sHmx4EgTDo) é, por assim dizer, a música da Clarissa. Na verdade, há várias músicas que me fazem lembrar imediatamente da minha filhota, mas Grey Street foi a primeira. Eu me lembro bem de escutar essa música no carro, dirigindo por Washington, naquele 15 de outubro de 2003, horas depois de ela ter nascido. Passou a ser a música dela.

E continuei minha caminhada para o trabalho, pensando que eu tinha muitos motivos para sorrir. Apesar de uma notícia não muito boa que recebi ontem, segui em frente. Estou cansado, com saudade de casa, do Brasil (imagina?!), mas tenho que estar feliz porque tenho muito trabalho, estou fazendo o que gosto de fazer e as perspectivas são ótimas. E saí pensando naquela inveja boa que bate quando vemos uma pessoa sorridente na rua e não temos a mínima ideia do porquê de tanta alegria. Pois hoje foi dia de os outros sentirem inveja.