quinta-feira, 19 de maio de 2011

Au revoir

A despeito de ter sido ou não uma armação do Sarkozy, o que ocorreu no último sábado em um quarto de hotel em Nova Iorque entra para a história como um dos mais desastrados e desastrosos episódios de paudurescência de que se tem notícia. Mas o que interessa agora é o processo sucessório no FMI. Desde a criação das instituições de Bretton Woods, há um acordo tácito entre EUA e Europa para que um europeu chefie o Fundo e um americano presida o Banco Mundial, do outro lado da 19th St. Quando DSK foi indicado para suceder o espanhol Rodrigo de Rato, disseram aos emergentes que não se preocupassem porque, quando da escolha de seu sucessor, o processo seria aberto a todos e não apenas a candidatos do Velho Continente. Com a crise da dívida soberana ainda a todo vapor e o FMI injetando dinheiro a não mais poder na Europa, alguém acha que os europeus vão largar esse osso? Duvido. Os emergentes podem ir tirando o cavalinho da chuva porque ainda não vai ser desta vez.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

O livro didático

Acho que se criou uma polêmica desnecessária em torno do tal livro didático que, supostamente, ensina os alunos a escrever errado. Descontextualizaram, se esqueceram de que é um livro de EJA (educação para jovens e adultos) e não para crianças pequenas, ou seja, é feito para gente que já fala (errado ou não) há mais tempo. Confundiram válido com certo/correto. Você não pode chegar para um aluno de EJA e dizer para ele que ele não pode falar daquele jeito. “Mas como?! Sempre falei e me comunico muito bem, obrigado.” Devemos mostrar a ele que aquela forma, embora válida por ser corrente e por ser usada por muitos e compreendida por todos, não é aceita em situações em que a norma culta é exigida. Cumpre mostrar também que a norma culta lhe abrirá mais portas do que sua forma de falar, mesmo que esta lhe permita se fazer entender.

Como me lembra a minha mulher, linguista, professora, tradutora e doutora em Teoria da Literatura, o Ataliba de Castilho trata disso há tempos, mas nunca levou as cacetadas que a autora desse livro está levando. Acho eu que não levou porque o fato não chegou ao noticiário como chegou o livro do MEC e também porque ele é um nome respeitado na área. Li um comentário na Internet que resume bem a questão. Uma pessoa, intitulada Georgeumbrasileiro, disse o seguinte: “(...) o que esta cartilha ‘prega’ é mais simples do que estão querendo pintar por aí: conheça a norma culta e saiba usá-la competentemente, mas não se envergonhe de seu dialeto, que também expressa uma riqueza cultural, muito embora esta não tenha prestígio.”

Para finalizar, a Érica também me chama a atenção para algo importante. Essa discussão toda revela que o livro didático é tomado como se fosse o cânone dos cânones, a Bíblia, o que, na minha opinião, é um grande problema da educação no Brasil. O livro didático deve ser tão somente um APOIO. Se o professor não souber usá-lo e a aula não for boa, o livro, por mais maravilhoso que seja, não serve para muita coisa.

Gênio da Raça

Fico espantado com a capacidade dos nossos homens públicos em matéria de economia e finanças. Multiplicar o patrimônio 20 vezes no curto período de quatro anos não é pouca coisa. Trata-se de um ás das finanças, o gênio da raça, como diria Glauber Rocha. O que me desaponta é que, guardadas as devidas proporções, essas sumidades não consigam fazer o mesmo pelas finanças do País.

Ao contrário do Serra, acho que o Palocci deve mesmo ser arrochado. E vou mais longe. O chefe da Casa Civil deveria vir a público, em cadeia nacional de rádio e televisão, para explicar, tim-tim por tim-tim, como fez para enriquecer dessa maneira. Assim, o povão poderia tentar reproduzir a mágica em casa e sair da pindaíba. Se eu conseguisse um quarto do que ele conseguiu, já estaria bom demais.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Onde investir

Investidor, se você está aí com um dinheiro ocioso na mão, sem saber onde aplicá-lo, há um setor no Brasil que está bombando, literalmente. É o de explosivos. Se você acompanha o noticiário, verá que as duas tentativas de implodir a arquibancada superior do Estádio Mané Garrincha, em Brasília, foram frustradas. Olha aí uma brecha para quem é competente e sabe fazer o serviço direito. Outro nicho que está na crista da onda é o de explosão de caixas eletrônicos. De uns tempos para cá, aparecia um caso aqui e ali no estado de São Paulo, mas, no último mês, praticamente se explode um caixa por dia, na capital e no interior. E já estão surgindo ocorrências em outros estados. Se considerarmos que, desafortunadamente, as autoridades não dispõem de verbas para reforçar o policiamento e arrochar os bandidos, esse nicho só tende a crescer. Agora é a hora!

De cueca e calcinha na mão

Não é exagero afirmar que todos sabem o que é necessário para resolvermos muitos dos problemas do País. No campo da legislação, para ser mais específico, se conversarmos com dez especialistas em Brasil, ONZE vão dizer que precisamos de uma reforma da Previdência, uma reforma da legislação trabalhista, uma reforma tributária, uma reforma política (decente, não a que está sendo feita em Brasília). A cada legislatura, alguns otimistas ainda teimam em esperar que alguma coisa de boa saia do Congresso, para o Brasil poder deslanchar de vez. Mas é tudo em vão. Praticamente, só vêm à tona notícias de corrupção, malversação, picaretagem, se a farinha é pouca, meu pirão primeiro etc. Mas, naturalmente, sempre sobra um espacinho para o estapafúrdio.

Na semana passada, além de o Congresso não conseguir votar o tão propalado Código Florestal, foi aprovado o projeto de lei que prevê que as roupas íntimas vendidas no Brasil devem trazer uma etiqueta com alertas sobre o uso de preservativos e sobre a importância de exames preventivos contra o câncer de mama, de colo do útero e de próstata. Claro, a educação sexual e o combate a essas doenças são importantes, ninguém há de negar, mas será que uma etiqueta em uma peça íntima vai fazer tanta diferença assim? Será que o Congresso precisa mesmo se ocupar desse e de outros assuntos em detrimento de temas bem mais importantes? O Brasil poderia avançar muito mais se as tão necessárias reformas fossem votadas e aprovadas, mas nossos senadores e deputados preferem desviar sua atenção e esforços para coisas como calcinhas e cuecas. Que me perdoem a infâmia, mas é coisa de um país muito bunda mesmo!

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Choro de mau perdedor

Vários flamenguistas por aí estão culpando o juiz pela nossa eliminação na Copa do Brasil. Choro de perdedor. A arbitragem realmente foi confusa, mas perdemos por causa de duas falhas bisonhas da nossa defesa. O primeiro gol foi triste. Como é que deixam um cara daquele tamanho cabecear entre dois zagueiros? Estávamos com a faca e o queijo na mão. Dois gols em 27 minutos era melhor do que poderíamos imaginar. O time deles estava apavorado. Era metermos mais um e fecharmos o caixão, mas nossa defesa resolveu entregar. Fica a lição.

Compartilhemos

É o que eu chamo de tradução reflexiva. O tradutor reflete sobre o original, sobre o que vai escrever? Não, ele traduz por reflexo, não pensa. Um bom exemplo é o verbo inglês share. Cada vez mais, se apareceu share no inglês, é quase certo que você vai encontrar compartilhar no português.

Nestes tempos de Facebook, Twitter, compartilhar é o verbo da moda, tá bombando. Virou curinga. Uma criança não divide mais o brinquedo com outra; ela compartilha. Um dia desses, um tradutor me disse que havia sido contactado por uma colega para compartilhar um trabalho. Provavelmente, o trabalho sai melhor do que se for dividido, como se fazia há pouco tempo.

Não custa dar uma olhada no verbete share no Vocabulando, aquela joia da nossa colega Isa Mara Lando. Há ótimas sugestões para o tradutor não ficar preso no compartilhar, refletir um pouco mais sobre o que está fazendo e escrever português em vez de inglês com palavras portuguesas.

terça-feira, 10 de maio de 2011

A, E, I, O, U – Uma pesquisa informal

Faz pouco mais de um ano que estou morando no estado de São Paulo. Como estou sempre atento à língua e ao falar das pessoas, algumas diferenças me chamaram a atenção. Como já mencionei uma vez, uma que me incomodava era o hábito das pessoas de se referir aos outros apenas pela primeira sílaba. Meus filhos, com nomes tão lindos, viraram Rô e Clá. Uma frase como “Pá, fala pra mã que a Dá, a Mi e a Mê vão passar o fim de semana na casa do Ju” é perfeitamente compreendida na família da minha mulher, paulista de São José do Rio Preto. Tudo bem, faço ouvido de mercador e não dou bola. Mas tem uma diferença que ainda me incomoda: a pronúncia das vogais "e" e "o".

Fui alfabetizado em Brasília e me ensinaram que o som dessas vogais é aberto, como em pé e pó. Portanto, /a/, /é/, /i/, /ó/, /u/. Reparei que, aqui, pronunciam /ê/ e /ô/, fechados, como em vê e vô. Acho esquisitíssimo. As crianças voltam da escola falando em /ê/ e /ô/. A Érica sempre pegou no meu pé (mentira, eu que pego no pé dela) e também pronuncia /ê/ e /ô/.

Se você consultar uma boa gramática, a do Rocha Lima, por exemplo, verá que "quando em sílaba átona, anula-se a distinção, como fonemas, entre /é/ e /ê/ e entre /ó/ e /ô/, em favor das de timbre fechado". Trocando em miúdos, o correto seria /a/, /ê/, /i/, /ô/, /u/. Mas acho que não vou mudar meu jeito, burro velho que sou, e fico me perguntando: por que ensinaram errado para tanta gente? E IBGE, TRE? Não ouço ninguém dizer IBGÊ, TSÊ. Será que o som fechado é uma característica regional ou de determinados estados?

É aí que entra a ajuda de vocês. Respondam às perguntinhas abaixo. Depois compilo as respostas  e publico os resultados.

1. Como você aprendeu, aberto (/é/ e /ó/) ou fechado (/ê/ e /ô/)?

2. Onde foi alfabetizado (cidade ou pelo menos estado ou região)?

3. Onde mora hoje?

4. Continua a pronunciar as vogais da mesma maneira que aprendeu?

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Tem de saber escrever, ora!

Minha mãe sempre teve uma bronca com o curso de tradução que fiz na universidade. Ela não entendia como a UnB podia aceitar alunos que não sabiam inglês e frequentavam o curso para aprender a língua, alguns praticamente desde o bê-a-bá. Achava que deveria ser aplicada uma prova de habilidade específica para separar o joio do trigo. Mal sabia ela que o problema não era apenas o inglês, mas também o português... Bom, ela sabia, claro, que não é boba, mas, infelizmente, os alunos não são os únicos que não sabem português. Há muitos profissionais por aí na mesma situação.

Nesta semana que se encerra, me deparei com algo escrito por um tradutor, com mais de 20 anos de janela, que parecia ainda não ter sido apresentado ao cujo (o pronome e não o cachorro do Stephen King) nem sabia pontuar direito. Depois de todo esse tempo, não aprendeu o básico? O pior, assustador até, é que ele tenha conseguido trabalho durante esses anos todos. Para mim, um tradutor que não sabe português é mais ou menos como um jogador de futebol coxo; não deveria estar em campo. Mas, no caso do nosso colega, a torcida não percebe que ele está matando o time. Ele é, como direi, um Rodrigo Alvim na lateral-esquerda do meu Flamengo.

Alguém poderia sair em defesa do colega dizendo que era apenas uma coisa informal, na Internet, que não se deve levar as coisas assim, a ferro e fogo. Acho que não devemos baixar a guarda. Muitos tradutores não se dão conta de que o que eles escrevem diariamente é um belo cartão de visitas do serviço que têm a oferecer. Quando vejo um colega cometer erros crassos, penso logo que nunca dividiria um trabalho com ele. Para quê? Para depois ter de ficar consertando vírgula, corrigindo crase, acertando a concordância? De jeito algum. E tampouco o recomendaria a um cliente meu.

Outro ponto importante pode ser depreendido desse caso. Vê-se que, assim como outros ofícios e profissões, a tradução é um negócio democrático. Você não precisa ser bom tradutor para trabalhar, ao menos em alguns nichos do mercado. Seja craque ou perna-de-pau, tem lugar para todo o mundo. É só alegria! Mas isso tem hora pra acabar. A tradução automática, o Google Translate e assemelhados estão melhorando. Para que pagar um tradutor ruim se o computador dá cabo do serviço e, cada vez mais, produz coisa melhor do que os de carne e osso? Aos poucos, essa turma da tradução “intercrural”, como diria um velho amigo e mestre, vai ser alijada do mercado. É só esperar.

You call that fun?

Érica está planejando levar as crianças ao Disney on Ice em São Paulo, agora em junho. Como vai um grupo grande (16 ao todo), ficou decidido que uma prima dela iria ao Ibirapuera comprar os ingressos para evitar pagar a taxa de (in)conveniência (20% do preço do ingresso). A prima precisou levar uma irmã porque havia um limite de oito ingressos por pessoa. Pois bem, as duas chegam ao Ibirapuera e, na hora de comprar, descobrem que precisavam ter levado cópia da certidão de nascimento de todos os pequenos para poderem ter direito a pagar meia-entrada para eles. Que gostoso, hein?!

Ingressos nos Estados Unidos não eram exatamente baratos, mas saíam muito mais em conta do que aqui. A TicketMaster também enfiava a faca, cobrando taxas e mais taxas (convenience charge, facility charge, rip-you-off charge), mas era razoavelmente competente se comparada com essa tal de Tickets for Fun. Em uma cidade como São Paulo, em que uma saída de casa para comprar um ingresso pode te custar uma tarde inteira, a taxa de conveniência às vezes convém. E até entendo o limite de ingressos por pessoa, mas exigir certidão é brincadeira. Pagamos um alto preço por vivermos em um país em que muitos são desonestos ou têm fama de sê-lo, pois, mesmo sem deitarmos na cama, acabamos levando a fama.